“Cada indivíduo é o centro
do universo, e é apenas porque o universo está repleto de tais centros que ele
é precioso.”
Elias Canetti
Um belo dia, manhã, uma
manhã cinza no dia de um homem, ele acorda. Os pensamentos são formados nas
madrugadas, nos dias, no silêncio do sono. A sua formação não é uma
enciclopédia, um compêndio, um quadro estático na parede sem cores nem
relógios. O formato que se tem é que a vida é uma sucessão de acontecimentos.
Teorias ao longo dos séculos.
Esse homem atravessou
parte do ocaso do século XX, vivendo intensamente as mudanças sofridas e
impostas no Ocidente. O Ocidente impôs. O pensamento no mundo ocidental, uma
parte viva do mundo, que está na Complexidade de Morin, já não serve mais como
uma simples descrição de fenômenos, mas o é, também. Nesse belo dia, o homem
percebe que é o mesmo dessas alterações, que é parte de uma mesma coisa, de
tudo no mundo.
Não é literatura; é a realidade esfacelando-se a partir do momento de cada manhã em que o homem coloca seus pés novamente no chão. A literatura é a mesma que salva o sonho de um dia acordar no absoluto dos conceitos. E como diria Morin, através da literatura o homem torna-se o que produz “pelas ideias”, e neste acordar que todos fins se mesclam com o hibridismo do ensaio. A vida é isso.
Não é literatura; é a realidade esfacelando-se a partir do momento de cada manhã em que o homem coloca seus pés novamente no chão. A literatura é a mesma que salva o sonho de um dia acordar no absoluto dos conceitos. E como diria Morin, através da literatura o homem torna-se o que produz “pelas ideias”, e neste acordar que todos fins se mesclam com o hibridismo do ensaio. A vida é isso.
As ideias sobrevivem
porque os homens as alimentam de novas roupas e novas informações e conforme as
necessidades; os mesmos homens que as negaram tratarão de dar-lhes forma diante
dos acontecimentos.
As teorias sobrevivem porque os homens se
espalham pela terra e, como diz Morin, o desconhecido não é apenas o mundo
exterior e, sim, sobretudo, nós mesmos. As crenças nas verdades, na lógica
ocidental, nos fatos e no Cotidiano da comunicação entre esse homem e todos
pelo mundo afora e adentro, do Ocidente ao Oriente, da rua à casa, do real ao
hiper-real, do conceito ao Imaginário[1], da linguagem à comunicação, e tudo na
esfera do vivido, do jogo, permaneceu porque o visível passa do inteligível ao
sensível e ao invisível. Lembrar de Heidegger, do “Ser” como a compreensão
“indeterminada” e do mesmo modo “sumamente determinada”.
Do homem que ao acordar
personagem se dá conta de que ele compreende a palavra “imaginário” e com ela
todas as derivações, as variações possíveis, ainda que essa compreensão pareça
indeterminada. Inacabada. Esse imaginário povoa seus dias. Ele retorna ao “Ser”
e em Heidegger: “O que compreendemos, o que se manifesta, de algum modo, na
compreensão, dele dizemos, que tem sentido. O Ser, porquanto, é simplesmente
compreendido, tem sentido”.
Do possível ao impossível, esse homem, dentro
da complexa colcha do pensamento, será sua única saída para o mundo. O seu mundo
diante do que está em discussão, sendo que em um belo dia, esse homem acordou
fora do apenas inteligível. Foi através da “brecha microfísica” que abrira o
espaço para o sujeito se postar diante do objeto, diante do próprio decreto
mal-aventurado da lógica ocidental, que percebeu que o acaso contribuíra para
as suas novas manhãs.
[1] A partir de
Castoriadis quando diz que no “por-vir-a-ser emerge o imaginário radical, como
alteridade e como ‘originação’ perpétua de alteridade, que figura e se figura”.
A Instituição Imaginária da Sociedade. E o Imaginário como figuração de imagens
que é parte do presenteísmo de significados ou sentidos em Maffesoli.
*Prof. Dr. Luis Antonio
Paim Gomes
Filósofo. Editor. Livre
Pensador.
Porto Alegre/RS
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