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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Era eu um poeta estimulado pela filosofia e não um filósofo com faculdades poéticas. Gostava de admirar a beleza das coisas, descobrir no imperceptível, através do diminuto, a alma poética do universo" 

"(...) a poesia é espanto, admiração, como de um ser tombado dos céus, a tomar plena consciência de sua queda, atônito diante das coisas"

"Há entre mim e o mundo uma névoa que impede que eu veja as coisas como verdadeiramente são - como são para os outros"

"Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente (...)"

"Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (...) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, caráter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as coisas daquilo a que chamamos, porventura abusivamente, a vida real"

"Toda a arte é uma forma de literatura, porque toda a arte é dizer qualquer coisa. Há duas formas de dizer - falar e estar calado. As artes que não são a literatura são as projeções de um silêncio expressivo. Há que procurar em toda a arte que não é a literatura a frase silenciosa que ela contém, ou o poema, ou o romance, ou o drama"

"(...) porque não é a teoria que faz o artista, mas o ter nascido artista"

"(...) os gênios inovadores foram sempre, quando não tratados como doidos (Verlaine, Mallarmé), tratados como parvos (Wordsworth, Keats, Rossetti) ou como, além  de parvos, inimigos da pátria, da religião, da moralidade, como aconteceu a Antero de Quental (...)"

*Fernando Pessoas in "Alguma prosa". Ed. Nova Fronteira. RJ. 1990.

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