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Apontamentos de um Filósofo Clínico*

Ouvir de fato será sempre um desafio muito maior do que falar porque qualquer escuta qualificada ou, pelo menos, funcional, depende prioritariamente de competências afetivas muito ligadas a empatia, a compaixão, a solidariedade e a cidadania. 

Já a fala é um impulso que pode até mesmo sair pelos cotovelos, sobretudo, quando a precariedade da observação e do sentir prevalecem. E tanto ouvir como falar nunca se limitou ao trivial. Pois, podemos desenvolver uma escuta através do sentir em diversas formas...

Podemos ouvir com o coração, através do tato ou de um simples olhar! Podemos ouvir até a geografia de um sorriso ou o percurso das lágrimas no rosto de uma pessoa em prantos. E podemos falar com as mãos, com os olhos ou por meio das nossas próprias posturas e imposturas diante das circunstâncias presentes na jornada da vida. Mas sempre estará repousada nas nossas mãos a escolha de como sentir o outro e de como nos expressar na direção do outro, uma vez que essa responsabilidade nos compete.

Afinal, não por acaso, talvez mesmo sem querer vai se tornando cada vez mais inevitável discernir certas idiossincrasias entre discursos apenas retóricos e repetidores de fragmentos teóricos a priori em contrapartida a discursos provenientes do coração de quem aprendeu a sentir ao ponto de ouvir as vozes alheias presentes em seu próprio íntimo e no mundo que o rodeia. Musa! 

(.....)

Lá onde tudo deságua, deságuam também os desapegos e os desenganos. Lá onde tudo deságua, deságuam todas as vaidades e vai com elas nessa esteira todas as certezas. Lá onde tudo deságua, sempre deságuam as torrentes de toda e qualquer natureza. Lá onde tudo deságua, deságuam todos os ribeirões até se tornarem o mar... Pois todos nós somos ribeirões únicos do início a eternidade, uma vez que cada uma das retas e das curvas no percurso construído sempre serão singulares demais. Mas surpreendentemente, quando cada um se torna o mar, o ribeirão que o compôs não desaparece porque segue ali, consciente, ressoante e sutil num agora que sempre transborda por amor... Musa!

*Prof. Dr. Pablo Mendes

Filósofo. Educador. Escritor. Poeta. Musicista. Filósofo Clínico.

Uberlândia/MG

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