Entendo a educação como paidéia: como a progressiva formação cultural e espiritual do ser humano.
A educação, nesse sentido, é
necessariamente lenta. Sem metas ambiciosas, sem etapas claras a ser
verificadas por testes e provas. E é também diária: um pouquinho de cada vez,
cotidianamente, é que se alimenta uma existência na humanidade.
* * *
É preciso, por exemplo, educar na
beleza: a beleza é um alimento indispensável do espírito. Como Dostoiévski
sugere numa passagem de O Idiota, talvez a beleza venha a salvar o mundo - isto
é, o próprio ser humano.
Mas, como toda a educação, a
beleza é experimentada em degraus. Para falar nas artes: na literatura, nas
artes plásticas e na música, é preciso subir devagar e constantemente. É
preciso aprender a ler a prosa e o verso, a ver a pintura e a escultura, a
ouvir e se entregar à música.
* * *
E como podemos proporcionar essa
educação a nós mesmos e aos nossos filhos?
Eu não acredito em fórmulas
prontas. É preciso descobrir o que faz sentido para você e para a sua família.
Aqui em nossa casa, tenho uma
rotina inquebrável com o João: toda noite, cerca de uma hora antes do horário
de dormir, apagamos as luzes da sala e ficamos, sozinhos e juntos, ouvindo
atentamente, do início ao fim, um CD de música clássica escolhido por ele. Hoje
mesmo, um pouco mais cedo, ouvimos a Sinfonia no. 9 de Beethoven sob a batuta de
Karajan, e o João ficou impressionado com o "rock" do final do último
movimento...
Graças a essa nossa rotina, João
já tem, aos nove anos, um pequeno repertório musical no coração ao qual pode
recorrer em momentos de alegria ou de dor. E, last but not least, a música
clássica é um poderoso relaxante para a hora do soninho...
* * *
Enfim: a inevitável calmaria dos
tempos de quarentena talvez seja perfeita para que comecemos a alimentar, todos
os dias, o nosso coração e o nosso pensamento com a beleza indispensável para a
nossa formação humana. E essa formação, que é a verdadeira educação, é uma
tarefa - lenta e diária - para a vida inteira.
*Prof. Dr. Gustavo Bertoche
Filósofo. Escritor. Musicista.
Filósofo Clínico. Em 2019, por indicação do conselho e direção da Casa da
Filosofia Clínica, recebeu o título de “Doutor Honoris Causa”.
Teresópolis/RJ
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