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Águas ocultas* “Tudo está cheio de deuses” Atribuído a Tales de Mileto (séc. VI a.C.) Na imensidão azul que perpassa dois mundos – dos seres e da natureza - todos os deuses ali habitam, integrando as realidades pela fluidez, pela unicidade e pela característica úmida de sua essência. Esses mesmos deuses se contorcem entre as passagens para alcançar as brechas da natureza mais oculta de cada ser, permitindo que as indagações mais substanciais transpareçam na transparência de seu elemento. Então, flutuamos imprecisos sobre seus movimentos e sobre sua atração, não sendo possível dispensar qualquer de suas manifestações. E este princípio fundamental – a água essencial - ainda persiste na natureza e é validado por tudo que se move, se atrai, se expande, se infiltra e está repleto de si mesmo, de vida, de deuses e da alma que se fixa através de sua qualidade ou de sua potencialidade divina. Águas... em forma de fontes, rios, oceanos, artérias, filetes, lagos, mares, geleiras, no
VOLTANDO DO ENCONTRO* Pra longe eu fui, de novo, sem imaginar o carinho da acolhida e o compartilhamento dos amigos de Porto Alegre quanto a seus lugares e objetos, haja vista o chimarrão como exemplo mais próprio da interligação sulina. Pessoas que se mostram e aceitam trocas; o faço por palavras. A vocês do entorno do Guaíba, também de Ctba, Fpolis, RJ, JFora, Campinas e arredores, minha reverência. Tento reapresentar o passado mas as roupas são pequenas, cresci. De cabelos curtos, depois de longos, como a adolescente que deixou a menina pra trás, conforme Cecília Meireles em “Olhinhos de gato”. Vi uns cachinhos de ouro dia desses no banco; não me pareceu uma infância tão feliz assim. Segundo Strassburger, há carinho nas manifestações dos internos do Hospital Psiquiátrico ao gritar e chutar portas na hora da crise. Sutileza de percepção de quem observa a fragilidade do ato necessário ao momento e o respeita. Ao lidar com a singularidade presente em cada qual, por mais chocan
Meu caminho para escrita* “A leitura traz ao homem plenitude, o discurso segurança e a escrita exatidão.” (Francis Bacon, Ensaios) Jamais pensei que iria escrever alguma coisa para mais de uma pessoa. Passei a adolescência quase sem ler. Somente iniciei minhas leituras, relevantes e em quantidade, a partir dos 20 anos. Isso é muito tarde para muitos. Minha escrita foi surgindo nessa época. Antes disso não havia diferença entre o que escrevia no fim do ensino médio e o que um iniciante na escrita da quarta série do ensino fundamental escrevia, inclusive a dificuldade de expressar o que pensava e sentia. Mas, as coisas mudaram. Hoje ainda não conheço muitas regras da nossa língua. Uma frase às vezes deve repetidamente ser mudada para que a forma esteja de acordo com o que minha intuição permite. O que conheço de escrita devo totalmente à minha leitura. E para quem começou a ler e escrever com certa frequência a partir dos 20 anos, até que não me saio mal escrevendo. Quando
Fragmentos filosóficos delirantes XCXIII* "(...) Torturado pelo casamento, sem forças para abandonar mulher e filhos, mas bastante poeta para sofrer com eles sempre, o escritor não podia perdoar êxito nenhum a pessoa alguma: devia sentir-se descontente com tudo, por estar sempre descontente de si próprio. Luciano compreendeu o ar amargo que gelava aquela fisionomia invejosa, a aspereza das réplicas que o jornalista semeava na conversa, o acerbo de sua frase, sempre aguda e afiada, como um estilete." (Pág. 186 da obra "As ilusões perdidas". Ed. Nova Cultural. 1993. SP) *Honoré de Balzac 1799 - 1850
Imagens Imaginativas* Ideias que nascem da alma, convidam. Alma, vastidão na noite, indefinível e feminina em sua multiplicidade. Em cores ou preto e branco é no estar. Imagine... Pode virar retrato, congelar um instante. Ou quadros surrealistas, expressionistas,realistas...impressionistas. Ou mesmo modelar estátuas como Miguelangêlo ou Rhodin. Imagens em e de sonhos ou no ver simplesmente no agora. Imaginação intensa de alegria ou dor. Imagine... Idéias soltas no espaço, pura intuição. Idéias escritas em letras nunca imaginadas. Imagens imaginativas vindas da imaginação. Loucuras lúcidas, lúcidas loucuras. Verbos em ação. Subjetivos adjetivos. Adjetivos subjetivos. Riso de choro, choro de riso. Indefinições dionisíacas em meio ao mundo bem apolíneo. Versões, hermenéuticas nada interpretativas. O ser no não ser. Apenas imagens imaginativas a brincar com efêmero. Imagine... Invente. Encante. Faça e desfaça. Afinal, tudo faz parte da alma que é mítico- poética.
Sentado na Riqueza* Querido e atencioso leitor, aceite o meu fraternal e caloroso abraço. Já não é de hoje que ouvimos dizer que toda riqueza do mundo está dentro da gente. Que a maior e melhor busca é saber realmente quem nós somos e que o poder de um ser humano é medido pelo que ele sabe de si e se conhece. Ouvimos dizer e, para algumas pessoas, é assim mesmo. Claro que são frases prontas e feitas e devem ser observadas desse jeito: frases prontas. E, como sabemos, frases prontas nem sempre são frases que se pode usar universalmente. Ou seja, ela é assim para quem a escreveu. Quer um exemplo de frase pronta? “Diga-me com quem andas que te direi quem tu és”. Sobre esta frase, o que se diria ao mestre Jesus que também andava com ladrões, prostitutas e pessoas que viviam a margem da sociedade? Quando sentimos a brisa do mar, ela está fora ou dentro? O aroma da maçã verde faz parte do dentro ou do fora? Se está fora então como a reconheço? E também esta frase de que a riqueza es
Sobre flores, jardins e tristezas* Cansado de retirar a ervas daninhas dos canteiros que encantam minha alma, sentei-me a beira das minhas desesperanças. O frio do outono que chegava de mansinho anunciava tempos de despedidas. Mas como despedir-me das flores que um dia eu tinha cultivado com tanto amor? Elas eram minhas amigas e por dias sem sol haviam me devolvido a alegria das noites estreladas. Tudo parecia em vão... O que antes havia sido um jardim florido hoje estava perdido numa selva de desilusões. Mas elas ainda estavam lá... Não poderia deixá-las morrer sem antes tentar salvá-las. Mas o cansaço das tardes de muitos dias anunciava-me o tempo das despedidas que estava chegando. O outono ia cumprir seu papel. Não raras vezes ele veio visitar-me. As folhas verdes de outrora estavam amareladas pelo tempo de incertezas. Outras novas iriam nascer e dar vida nova as que foram sepultadas por um vento sereno que as levou para longe de mim. Não gosto de despedir-me do que em mim f
Uma fenomenologia dos roteiros* “A solidão me madurou de borboleta... Estou apto, já posso discursar com minhas paredes.” Djandre Rolim Poeta Cigano Na intenção de olhar absurdo um ânimo extraordinário descreve a novidade ao meu redor. À primeira vista se parece com um visar de fatia, uma sensação de incompletude, logo depois se desdobra em possibilidades de interseção. Seu caráter de obra-prima desenha, em cada mudança perspectiva, eventos de primeira vez a se repetir. As entrevistas e suas contradições colocam em movimento o que parecia imutável. Talvez o sentido buscado, sem se saber que existia, para a desconstrução dos cenários pré-agendados. Nesse vislumbre andarilho uma estética do imaginário se compõe dos percursos a percorrer. Sua busca, quando apressada, pode conformá-la nalguma ótica definível. O viés discursivo diante do espelho pode reivindicar um distanciamento maior para desembassar suspeitas, desvendar vestígios, desajustar o foco excessivamente rígid

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