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O Homem e as Coisas*

  As coisas não se submetem   à nossa vestidura;   na máscara que somos   as coisas nos conjuram.       Por que não escutá-las,   tão sáfaras e puras,   como flores ou larvas,   estranhas criaturas?       Por que desprezá-las   no sopro que as transmuda   com os olhos de favas,   fechados na espessura?       Por que não escutá-las   na linguagem mais dura,   comprimidas as asas   na testa que as vincula?       Despimos a armadura   e a viseira diurna;   a linguagem resvala   onde as coisas se apuram.       Recônditas e escravas   na cava da palavra,   são fiandeiras escuras   ou áspides sequiosas.       As coisas não se submetem   à nossa vestidura.   * Carlos Nejar

Individuação por integração*

Ao longo da história da Filosofia, uma entre tantas de suas buscas consiste em encontrar receitas que mostrem como o homem funciona, procurando apontar características universais e necessárias de qualquer ser vivente. Mesmo assim, praticamente dois mil e quinhentos anos após o início destes esforços cada vez mais se percebe que o ser humano é único. Sua participação em algumas características mais amplas não faz dele um igual a todos os outros. No entanto, na atualidade o que vem acontecendo com certa rapidez é a diferenciação por massificação. Explico: cada vez mais se busca ser diferente sendo igual. Um sujeito que vive no interior do Estado do Amazonas para ser diferente dos outros de sua cidade busca ter o melhor celular de todos. Esta regra também vale por aqui, ou seja, o sujeito busca ter características divulgadas pela mídia para ser diferente dos que estão ao seu redor. Esta é uma forma de diferenciação feita via massificação, como alguém que compra a me

Nasce o sol, e não dura mais que um dia*

Nasce o Sol, e não dura mais que um dia, Depois da Luz se segue a noite escura, Em tristes sombras morre a formosura, Em contínuas tristezas a alegria.   Porém se acaba o Sol, por que nascia? Se formosa a Luz é, por que não dura? Como a beleza assim se transfigura? Como o gosto da pena assim se fia? Mas no Sol, e na Luz, falte a firmeza, Na formosura não se dê constância, E na alegria sinta-se tristeza. Começa o mundo enfim pela ignorância, E tem qualquer dos bens por natureza A firmeza somente na inconstância. *Gregório de Matos Guerra

O Homem que Lê*

Eu lia há muito. Desde que esta tarde com o seu ruído de chuva chegou às janelas. Abstraí-me do vento lá fora: o meu livro era difícil. Olhei as suas páginas como rostos que se ensombram pela profunda reflexão e em redor da minha leitura parava o tempo.  De repente sobre as páginas lançou-se uma luz e em vez da tímida confusão de palavras estava: tarde, tarde... em todas elas. Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já as longas linhas, e as palavras rolam dos seus fios, para onde elas querem. Então sei: sobre os jardins transbordantes, radiantes, abriram-se os céus; o sol deve ter surgido de novo.  E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança: o que está disperso ordena-se em poucos grupos, obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas e estranhamente longe, como se significasse algo mais, ouve-se o pouco que ainda acontece. E quando agora levantar os olhos deste livro, nada será estranho, tudo grande. Aí fora existe o

Sobre flores e anjos*

Estava eu com meus botões, fazendo umas pesquisas de trabalho na internet, quando de repente me veio uma avalanche de pensamentos e uma imagem específica veio a minha mente. Como uma flor pode as vezes brotar no meio do caos?  Parei pra pensar sobre ela. Como é interessante o fato de mesmo depois de um turbilhão de acontecimentos, e parecer que se está no meio de furação ainda assim um flor linda consegue sobreviver a todos os fatos e aparecer lá, linda, singela, colorida, cheia de vida onde só há destruição. Ela ignora tudo ao seu redor e não se importante onde está ou quem está ao seu lado ela simplesmente é o que sabe ser: linda, cheirosa, alegre. Não deixa abalar sua essência mesmo quando tudo parece estar de cabeça pra baixo. Ela simplesmente vive, da forma que sabe, da maneira que dá. E isso tudo me fez refletir. Tem momentos na vida da gente que parece que um caminhão desgovernado veio e resolveu nos atropelar e deixar tudo de cabeça pra baixo, mais bagunçado im

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