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A clínica do filósofo*

"Qual é esse projeto secreto, inacessivel e inexistente cuja pressão constante se exerce, de fato, sobre os homens, e particularmente sobre os homens problemáticos, os criadores, os intelectuais, que estão, a cada instante, como que disponíveis e perigosamente novos ?"                      Maurice Blanchot Venho pensando sobre o lugar onde a clínica acontece. Não o endereço físico do consultório, seja ele na beira da praia, um café, entre quatro paredes. Essas investidas tentam dar visibilidade ao território onde a imaginação se realiza. Talvez uma transcendência ao esboço dos propósitos, seus contornos, as derivações, os significados.   Essa inquietude sobre as dialéticas do instante terapêutico, busca pensar sobre a natureza dessas estéticas distanciadas da razão comum. A própria eficácia das sessões é refém desse vazio à espera de preenchimento. Nesse vislumbre de foco caleidoscópio, o filósofo clínico exercita sua arte cuidadora. Um perambular aprendiz desloca-se

Incompletudes*

A maior riqueza do homem é a sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou - eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 horas da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

És tu o teu próprio negreiro*

“Comecemos pelo Zé Ninguém que habita em mim: Durante vinte e cinco anos tomei a defesa, em palavras e por escrito, do direito do homem comum à felicidade neste mundo; acusei-te pois da incapacidade de agarrar o que te pertence, de preservar o que conquistaste nas sangrentas barricadas de Paris e Viena, na luta pela Independência americana ou na revolução russa. Paris foi dar a Pétain e Laval, Viena a Hitler, a tua Rússia a Stalin, e a tua América bem poderia conduzir a um regime KKK – Ku-Klux-Klan. Sabes melhor lutar pela tua liberdade que preservá-la para ti e para os outros. Isto eu sempre soube. O que não entendia, porém, era porque de cada vez que tentavas penosamente arrastar-te para fora de um lameiro acabavas por cair noutra ainda pior. Depois, pouco a pouco, às apalpadelas e olhando prudentemente em torno, entendi o que te escraviza: ÉS TU O TEU PRÓPRIO NEGREIRO. A verdade diz que mais ninguém senão tu é culpado da tua escravatura. Mais ninguém, sou eu que te digo!” W

Canto da estrada aberta*

(...) Ouça-me! Eu vou ser franco com você: não ofereço velhos prêmios fáceis, o que ofereço são novos prêmios difíceis. Eis como hão de ser os dias que lhe podem suceder: você não acumulará riquezas, assim chamadas, distribuirá com mão pródiga tudo o que venha a adquirir ou ganhar, nem bem chegando à cidade à qual era destinado dificilmente se há de estabelecer e ter alguma satisfação sem que ouça um apelo irresistível a de novo partir, terá de acostumar-se às zombarias e aos risinhos irônicos dos que forem ficando para trás, aos acenos de amor que receber você dará em resposta somente apaixonados beijos de despedida, e não permitirá o abraço das pessoas que vierem com as mãos suplicantes em sua direção. *Walt Whitman

Anotações e reflexões*

Há momentos em que entro no Facebook e fico pasmo!  Tenho a impressão de que Globo e Mídia são nomes de sujeitos que se propuseram a alienar um cara chamado Sociedade. Tenho a impressão também de que há um sujeito, muito influente, chamado Indústria Farmacêutica, que está convicto de que deve espalhar falsas notícias para que todo o mundo fique doente para, assim, continuar vendendo seus remédios.  Fico imaginando um cara chamado Governo que sempre conversa com outro indivíduo denominado Educação, e continuamente fica impondo que ele fique com a qualidade baixa, sem falar de outros possíveis diálogos com aqueles chamados Saúde e Segurança.  Há também dois sujeitos que têm alguma relação com o Governo; costumam chamá-los de Direita e Esquerda. Parece que vivem em pé de guerra, sobretudo quando o dinheiro do Povo (esse também é famoso) não é bem distribuído entre ambos. Coitado do Povo. Outro cara que parece influente é chamado Maioria, seja ele quem for, está sempre dis

Eu*

Eu sou a que no mundo anda perdida, Eu sou a que na vida não tem n orte, Sou a irmã do Sonho, e desta sorte Sou a crucificada...a dolorida... Sombra de névoa tênue e esvaecida, E que o destino amargo, triste e forte, Impele brutalmente para a morte! Alma de luto sempre incompreendida!... Sou aquela que passa e ninguém vê... Sou a que chamam triste sem o ser... Sou a que chora sem saber porquê... Sou talvez a visão que Alguém sonhou, Alguém que veio ao mundo pra me ver E que nunca na vida me encontrou! *Florbela Espanca

Fragmentos de filosofia e poesia*

"Nuvens escondem o sol como escondemos as feridas sem nuvens não tem chuva criadeira sem consciência da causa do sofrimento não temos vida bem vivida nuvens promovem as sombras sombra é tudo de mim mesmo que me faz desconfortável tudo que eu não desejo ser e sou aceitar as nuvens encarar as nossas sombras sem fugir das dores confrontando-as veremos o sol da consciência e seremos mais livres no nosso existir!" *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Escritora, Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Adão e Eva contemporâneos*

A história é bíblica, acredite se quiser. Eva não veio ao mundo por acaso. Existia um propósito: partilhar a vida. Já pensou? Adão estava lá sozinho. De repente surge alguém para conversar, brincar, trocar, ajudar... Na verdade, acho que pra ajudar não era o caso; eles tinham tudo que precisavam. O certo é que a vida no paraíso ficou bem melhor depois que Eva apareceu. Como foi a passagem do status de amigos para casal não sei dizer. Só existiam os dois e convivendo juntos todos os dias, naturalmente, algo haveria de acontecer. Não havia nada, nem ninguém para atrapalhar. Nem mesmo vergonha eles sentiam. Posso imaginar vários modos de aproximação, e todos, sem exceção, nada angelicais. Fizeram sexo, gostaram, repetiram, desfrutaram. Não estavam mais sozinhos. Perceberam que um tinha ao outro para abraçar quando o mundo parecia grande demais.  Vamos dar um nome para este tipo de relação? Amor. Viviam no paraíso. Amavam-se. Nada lhes faltava. Eram extremamente felizes. S

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