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Fragmentos filosóficos delirantes*

"(...) Não é à crítica que me quero referir, porque ninguém pode esperar ser compreendido antes que os outros aprendam a língua em que fala. Repontar com isso seria, além de absurdo, indício de um grave desconhecimento da história literária, onde os gênios inovadores foram sempre, quando não tratados como doidos (como Verlaine e Mallarmé), tratados como parvos (como Wordsworth, Keats e Rossetti) ou como, além de parvos, inimigos da pátria, da religião e da moralidade, como aconteceu a Antero de Quental, sobretudo nos significativos panfletos de José Feliciano de Castilhos, que aliás, não era nenhum idiota. (...)" "(...) Toda a coisa que vemos, devemos vê-la sempre pela primeira vez, porque realmente é a primeira vez que a vemos. E então cada flor amarela é uma nova flor amarela, ainda que seja o que se chama a mesma de ontem. A gente não é já o mesmo nem a flor a mesma. O próprio amarelo não pode ser já o mesmo. É pena a gente não ter exatamente os olh

Poéticas da Singularidade*

Voo em liberdade Suspirando flores Confiante na existência Brincando e dançando aos ventos Deixei de ser gente Sou pássaro passarinho Saí do meu ninho Viajo por ares a colher sementes Voo e sinto o sol Salto nas folhagens Dos múltiplos verdes Sou forasteiro de asas abertas a experimentar O vir-a-ser da real imaginação Rompo horizontes e mergulho nos mares do sem fim! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta, Filósofa Clínica, Escritora, Poeta Juiz de Fora/MG

Soneto XLIII*

Um sinal teu busco em todas as outras, no brusco, ondulante rio das mulheres, tranças, olhos apenas submergidos, pés claros que resvalam navegando na espuma. De repente me parece que diviso tuas unhas oblongas, fugitivas, sobrinhas de uma cerejeira, e outra vez é teu pelo que passa e me parece ver arder na água teu retrato de fogueira. Olhei, mas nenhuma levava teu latejo, tua luz, a greda escura que trouxeste do bosque, nenhuma teve tuas mínimas orelhas. Tu és total e breve, de todas és uma, e assim contigo vou percorrendo e amando um amplo Mississipi de estuário feminino. *Pablo Neruda

A Ordem do Discurso*

          Eu deitado na rede Que o médico disse Para pescar todos os sentidos profundos Rogério de Almeida                   A labuta de Paul-Michel Foucault, filósofo, que nasceu em Poitiers, na França, na década de 20, tem influenciado o pensamento em muitos campos da teoria social, principalmente da educação. Um dos principais desafios foucaultianos é a visão de que verdade e poder estão mutuamente interligados, através de práticas contextualmente específicas, que por sua vez, estão intimamente intrincadas à produção do discurso.          No magnífico texto, A Ordem do Discurso, Foucault ao se pronunciar, percebe uma voz sem nome, e com isso permite ser arrebatado pela palavra. Com sólidos conhecimentos acerca das diversas manifestações de poder através do discurso, Foucault nos leva a compreender as idéias básicas de sua linha filosófica sobre saber, poder e sujeito, bem como a descobrir o poder das palavras no discurso do indivíduo, que ora o exclui, reprime, ora o

Enquanto Faço Verso*

Enquanto faço o verso, tu decerto vives. Trabalhas tua riqueza, e eu trabalho o sangue. Dirás que sangue é o não teres teu ouro. E o poeta te diz: compra o teu tempo Contempla o teu viver que corre, escuta O teu ouro de dentro. É outro o amarelo que te falo. Enquanto faço o verso, tu que não me lês Sorris, se do meu verso ardente alguém te fala. O ser poeta te sabe a ornamento, desconversas: “Meu precioso tempo não pode ser perdido com os poetas”. Irmão do meu momento: quando eu morrer Uma coisa infinita também morre. É difícil dizê-lo: Morre o amor de um poeta. E isso é tanto, que o teu ouro não compra, E tão raro, que o mínimo pedaço, de tão vasto Não cabe no meu canto. *Hilda Hist

Esperança*

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano Vive uma louca chamada Esperança E ela pensa que quando todas as sirenas Todas as buzinas Todos os reco-recos tocarem Atira-se E — ó delicioso voo! Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada, Outra vez criança… E em torno dela indagará o povo: — Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes? E ela lhes dirá (É preciso dizer-lhes tudo de novo!) Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam: — O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA… *Mário Quintana

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