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A Necessidade da Filosofia*

A filosofia não brota por ser útil, mas tão pouco pela ação irracional de um desejo veemente. É constitutivamente necessária ao intelectual. Por quê? A sua nota radical era buscar o todo como um tal todo, capturar o Universo, caçar o Unicórnio.  Mas por quê esse profundo anseio? Por que não nos contentamos com o que, sem filosofar, achamos no mundo, com o que já é e aí está patente diante de nós? Por esta simples razão: tudo o que é e está aí, quanto nos é dado, presente, patente, é por sua essência um mero bocado, pedaço, fragmento, coto.  E não podemos vê-lo sem prever e verificar que está a menos a porção que falta. Em todo o ser que é dado, em todo o dado do mundo encontramos a sua essencial linha de fratura, o seu carácter de parte e só parte - vemos a ferida da sua mutilação ontológica, grita-nos a sua dor de amputado, a sua nostalgia do bocado que lhe falta para ser completo, o seu divino descontentamento.  Há doze anos, quando eu falava em Buenos Aires, definia

O que sente o elefante?*

                                        Verdades sociais estabelecem ligações entre as pessoas e os animais. João é forte como um touro! Covarde como um rato! Perigoso como uma cobra! Na observação contemporânea, fugaz e exterior pode ocorrer a tradução nesse sentido e bem qualificar a virtude ou vicissitude. O elemento temporal é importante para se perceber perdurar ou outro roteiro é traçado nas andanças existenciais do ser. Ao poderoso elefante se concebe a lembrança, a memória, o sentimento de que o tempo transcorrido guarda qualidades. Talvez a observação de que o animal elefante percorra longas caminhadas na sua trajetória de vida, perseguindo condições alimentares adequadas e sempre retornando ao mesmo local originário, mesmo diante dos obstáculos que se oponham, em uma vivência desafiadora, perfilou cemitérios para que seus iguais, naturalmente o próprio, venha a observar seus últimos dias, desta feita longe da manada, em vivência isolada e co

Gente que eu gosto*

Antes de mais nada gosto da gente que vibra, que não é necessário empurrar, que não se tem que dizer que faça as coisas e que sabem o que tem que ser feito e o fazem em menos tempo que o esperado. Gosto da gente com capacidade de medir as conseqüências de suas ações. A gente que não deixa as soluções para a sorte decidir. Gosto da gente exigente com seu pessoal e consigo mesma, mas que não perde de vista que somos humanos e que podemos nos equivocar. Gosto da gente que pensa que o trabalho em equipe, entre amigos, produz às vezes mais que os caóticos esforços individuais. Gosto da gente que sabe da importância da alegria. Gosto da gente sincera e franca, capaz de opor-se com argumentos serenos e racionais às decisões de seus superiores. Gosto da gente de critério, a que não sente vergonha de reconhecer que não conhece algo ou que se enganou. Gosto da gente que ao aceitar seus erros, se esforça genuinamente por não voltar a cometê

Confiança...*

Há momentos de fragilidade de alma que a única alternativa para continuar caminhando é confiar. São nesses momentos que nos conectamos com o mais profundo que há em nosso "EU". Momentos de muitos desafios, dores por reconhecermos nossas sombras e hiatos de fé por um amanhã mais confortante. Se mantivermos nossos pés no chão da razão e nossos corações no divino que existe em nós, esses momentos poderão servir para um aprimoramento pessoal de grande valia. A reforma íntima tão pregada por muitas crenças se inicia a partir de nossas dores pessoais, entretanto, se faz necessário uma reflexão e um alargamento de consciência. Eu, particularmente acredito, que nada, absolutamente nada nessa existência é por acaso! Acredito que uma dor tenha um significado tão importante quanto a lucidez de uma vida saudável. Se aprendermos a significar de forma imparcial os acontecimentos diários, conosco ou com um próximo, perceberemos que a própria vida com sua habilidade de ensinar nos e

Despalavra*

Hoje eu atingi o reino das imagens, o reino da despalavra. Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades humanas. Daqui vem que todas as coisas podem ter qualidades de pássaros. Daqui vem que todas as pedras podem ter qualidades de sapos. Daqui vem que todos os poetas podem ter qualidades de árvores. Daqui vem que os poetas podem arborizar os pássaros. Daqui vem que todos os poetas podem humanizar as águas. Daqui vem que os poetas devem aumentar o mundo com suas metáforas. Que os poetas podem ser pré-coisas, pré-vermes, podem ser pré-musgos. Daqui vem que os poetas podem compreender o mundo sem conceitos. Que os poetas podem refazer o mundo por imagens, por eflúvios, por afeto. *Manoel de Barros

Espaços vazios*

Não vem a poesia Quando a alma entristece Ou vem triste A dor é dor mesmo Fria como este inverno Pedra áspera... O que deveria acontecer Não acontece Consome O que deveria ser consumado E se sofre Tudo sofre Sofre ele E sofre ela... Falta alguma coisa Para ele Ele sabe: É ela E falta alguma coisa Para ela: É ele E ela não sabe Ou não quer saber. Perambulam por aí Ele e ela Fazendo coisas erradas... *José Mayer Filósofo, Livreiro, Poeta, Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

O Existencialismo da Imagem Nua*

“O olhar do outro afeta o meu de um índice de cegueira. Mas a cegueira provoca a imaginação.” José Gil Eis a questão que me envolve às vezes na reflexão, se existe existencialista pós-moderno, depois, em outra linha do pensar, digo a mim com a convicção própria de um homem do século XXI, se é que existe mesmo, é o pós-moderno existencialista. Se existisse ainda existencialista, certamente não seria pós-moderno, seria um herdeiro do marxismo, seria um saudoso homem diante de questões pós-cartesianas, dentro de um embate profundo sobre a objetivação do sujeito. Só que isso passou. Se hoje se fala de existencialismo porque existe um resquício sartreano na linguagem que atravessou o século XX, e permanece no corpo de muito pós-moderno existencialista a extensão do tempo que se metamorfoseou, deixou de ter um único ideal. Tenho o pensamento no pêndulo do tempo, nas ruas de Paris, assim como tenho o olhar na imagem da história e disso posso ter uma certeza ‒ não a verd

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