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A palavra devaneio*

                                             É incomum notar a existência de algo que restaria silenciado, não fora um olhar absorto, indeterminado, sentir improvável de um sonhar acordado. Esse lugar de refúgio aos desatinos da criação, concede uma estética de acolhimento ao viajante das quimeras.    Nessa região, onde eventos sem nome rascunham invisibilidades, é possível intuir vias de acesso de essência não epistemológica. Seu teor, ao pluralizar versões desconsideradas, faz acordar aquilo que dormia. Ao desalojar esses fenômenos, desconstrói o aspecto irrealizável das promessas. Esses eventos reivindicam a singularidade alterada para se mostrar. Assim a pessoa, deslocando-se por esses refúgios, ao ser ela mesma, já é outra.   Uma estética do devaneio, ao convidar para o exercício da ficção, oferece achados imprevisíveis. Inicialmente desconfortável nesse chão desconhecido, o sujeito pode vivenciar insegurança, dúvida, receio. No entanto, ao persistir as visitas po

O apanhador de desperdícios*

Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios. *Manoel de Barros

Buscas*

santa a semana me convida a recolher na intimidade de mim silenciar a existência viver a solitude essencial mergulhar mares infindos entrar florestas outonais voar cosmos estrelares dissolver-me no espaço encontrar O TaoCristo a tanto adormecido na minha vastidão em oração pedir perdão pela culpa dos desamores pelas escravidões pelas criticas e julgamentos pelas infinitas tagarelices pois, passou da hora de ser apenas superfície e me tornar fresta de amor *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Prefácio*

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) — sem nome. Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé. Insetos errados de cor caíam no mar. A voz se estendeu na direção da boca. Caranguejos apertavam mangues. Vendo que havia na terra Dependimentos demais E tarefas muitas — Os homens começaram a roer unhas. Ficou certo pois não Que as moscas iriam iluminar O silêncio das coisas anônimas. Porém, vendo o Homem Que as moscas não davam conta de iluminar o Silêncio das coisas anônimas — Passaram essa tarefa para os poetas. *Manoel de Barros

Manifesto de uma poesia existencial*

Talvez poucos estejam dispostos a ler o mundo; talvez poucos estejam dispostos a ler o seu próprio íntimo; talvez poucos estejam dispostos a ler o que está nos livros e no coração do mundo; talvez poucos estejam dispostos a ler o que eu escrevo aqui... Mas o que seria da arte, do desvelamento ou da poesia se houvesse rendição ou desistência? Porventura, o professor aprende, inspira e ensina enquanto o sábio ilumina, espera e tolera. Entretanto, quando impera numa nação o clamor de extremos e isso ainda é agravado por incitação e manipulação mentorada por uma minoria privilegiadíssima, facilmente a sensatez e o diálogo se perdem em detrimento ao antigo ato de digladiar ideologias na ilusão de ser uma solução enquanto, na verdade, tudo vai se tornando cada vez mais incipiente, diluído ou líquido parafraseando maliciosamente o sociólogo europeu Zygmunt Bauman. Forças opostas no vigor de suas disposições bem intencionadas para a ação, quando desprezam as possibilidades de uniã

Retrato do artista quando coisa*

A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

Conexão...*

Há momentos na vida que uma voz interna te chama. Nesses momentos vive-se uma profunda interação do ser interno com o ser externo. Há uma conexão!!! Encontro a paz tão desejada pela humanidade e sinto-me estranha no mundo ao redor. Parece que estou envolvida em cores que dançam ao luar, tudo soa luz. As coisas aparentemente maldosas tornam-se nada e o nada torna-se não-ser! Caminhar e decidir a direção através da intuição não é tarefa fácil, mas é preciso. E de repente, teu destino se torna tuas decisões e tuas renúncias. Entretanto, por mais insegurança que eu tenha, se o caminho que escolhi é o melhor a seguir, mais confio que o é!!! A loucura do livre arbítrio cura as mazelas da falta de responsabilidade da própria biografia. A vida se enche de artefatos, parafusos, chaves, fechaduras e portas diversas... Surge, então, uma pequena agonia, fria, vazia, sem conexão. O medo tenta invadir o coração que conquistou a paz tão desejada, porém a certeza da proteção mai

Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Criativos*

"A sensação de que as palavras nem sempre conseguem traduzir as manifestações do espírito não é nova. Mesmo quando se pensa esclarecer adequadamente seus segredos, a natureza logo surge sob nova roupagem. Como se quisesse dizer algo mais, nas contradições a denunciar um só olhar."  "No mosaico das tentativas para ler as verdades delirantes, se demonstra a escassez das lógicas da tradição. Referencial empobrecido na diversidade dos eventos inclassificáveis ao viver singular." "As fisionomias da loucura são resultantes das intervenções do alienista, o fiscal da sociedade normal. A farmacologia e seus derivados, ao desqualificar - internando e tratando - a expressividade do louco , deslizam para a reincidência daquilo que finge evitar." "Novos paradigmas apreciam surgir nas lógicas incompreendidas." "A pluralidade subjetiva internada em uma só pessoa aprecia o caos para ensaiar releituras existenciais. Mesmo quando inadequad

Mundo perdido*

Quando saia da infância e passava para adolescência o mundo estava em trânsito, ou pelo menos parte dele. Esta parte que estava em trânsito saia do "socialismo", que muitos chamam de economia planificada ou tentativa fracassada da aplicação das teorias marxistas. Seja como for, estávamos saindo disso para o capitalismo, o restante do mundo já era capitalista. O Brasil, no mesmo período, fim da década de 80, início dos anos 90 também saia de uma ditadura e passava para a democracia. Assim, na minha transição da infância para a adolescência, o mundo também estava passando de um modelo para outro, ao menos o meu mundo. Os que já eram capitalistas desmereciam os socialistas, dizendo aos outros e a sui próprios que estavam certos e que todos deveriam fazer parte do seu modelo de vida. Nesta parte parece que nasci no tempo certo, num Brasil democrático e capitalista, mesmo que seja um país pseudo democrata e pseudo capitalista. Depois da transição vieram os ajustes, alocan

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