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Poema em Linha Reta*

Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo, Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, Que tenho sofrido enxovalhos e calado, Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar, Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado Para fora da possibilidade do soco; Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Sábado*

Tenho praticado nas últimas semanas uma experiência sensorial e, por que não dizer, espiritual. Comecei desligando o telefone celular por vinte e quatro horas, pois já estava praticamente viciado no aparelho. Logo ao acordar, antes mesmo de sair da cama, verificava as mensagens recebidas por e-mail e facebook durante a noite. No caminho para o trabalho,  enquanto o carro ficava parado no trânsito, conversava via whatsapp.  Por vezes, até mesmo em movimento,  dirigia e conversava ao celular. Algumas multas e muitos pontos na carteira. Puxar o telefone do bolso em meio a um jantar  ou festa para registrar o momento e postar na Internet já havia se transformado em rotina. O vicio de não conseguir se desligar do celular  é  conhecido como nomofobia, derivado do termo inglês “no mobile phobia”. No inicio foi angustiante ficar vinte e quatro horas fora do ar. Ficava aflito se estaria deixando de atender alguma ligação importante, uma mensagem urgente ou ficando por fora de assuntos

Na vila do pensar*

                              “Distanciar diz fazer desaparecer o distante, isto é, a distância de alguma coisa, diz proximidade.” Martin Heidegger – Ser e Tempo Quer paz ou a guerra é teu alimento? Busca a liberdade ou mata para ser livre? Aceita as diferenças ou faz de tua roupa um emblema? Joga na vida para viver ou vibra com o jogo dos outros? Ama o próximo ou acredita que alguém é que te ilumina? Acorda com seus sonhos ou espera o hino te despertar? Viver é mais que morrer, é lutar para crer no mundo em que vive. Ando mesmo querendo morar em outro lugar, Lá, talvez a dúvida não seja apenas um sinal de fraqueza, E o ato de filosofar transcenda os vitrais da catedral. *Prof. Dr. Luis Antônio Paim Gomes Filósofo. Editor. Professor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

A palavra devaneio*

                                             É incomum notar a existência de algo que restaria silenciado, não fora um olhar absorto, indeterminado, sentir improvável de um sonhar acordado. Esse lugar de refúgio aos desatinos da criação, concede uma estética de acolhimento ao viajante das quimeras.    Nessa região, onde eventos sem nome rascunham invisibilidades, é possível intuir vias de acesso de essência não epistemológica. Seu teor, ao pluralizar versões desconsideradas, faz acordar aquilo que dormia. Ao desalojar esses fenômenos, desconstrói o aspecto irrealizável das promessas. Esses eventos reivindicam a singularidade alterada para se mostrar. Assim a pessoa, deslocando-se por esses refúgios, ao ser ela mesma, já é outra.   Uma estética do devaneio, ao convidar para o exercício da ficção, oferece achados imprevisíveis. Inicialmente desconfortável nesse chão desconhecido, o sujeito pode vivenciar insegurança, dúvida, receio. No entanto, ao persistir as visitas po

O apanhador de desperdícios*

Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios. *Manoel de Barros

Buscas*

santa a semana me convida a recolher na intimidade de mim silenciar a existência viver a solitude essencial mergulhar mares infindos entrar florestas outonais voar cosmos estrelares dissolver-me no espaço encontrar O TaoCristo a tanto adormecido na minha vastidão em oração pedir perdão pela culpa dos desamores pelas escravidões pelas criticas e julgamentos pelas infinitas tagarelices pois, passou da hora de ser apenas superfície e me tornar fresta de amor *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Prefácio*

Assim é que elas foram feitas (todas as coisas) — sem nome. Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé. Insetos errados de cor caíam no mar. A voz se estendeu na direção da boca. Caranguejos apertavam mangues. Vendo que havia na terra Dependimentos demais E tarefas muitas — Os homens começaram a roer unhas. Ficou certo pois não Que as moscas iriam iluminar O silêncio das coisas anônimas. Porém, vendo o Homem Que as moscas não davam conta de iluminar o Silêncio das coisas anônimas — Passaram essa tarefa para os poetas. *Manoel de Barros

Manifesto de uma poesia existencial*

Talvez poucos estejam dispostos a ler o mundo; talvez poucos estejam dispostos a ler o seu próprio íntimo; talvez poucos estejam dispostos a ler o que está nos livros e no coração do mundo; talvez poucos estejam dispostos a ler o que eu escrevo aqui... Mas o que seria da arte, do desvelamento ou da poesia se houvesse rendição ou desistência? Porventura, o professor aprende, inspira e ensina enquanto o sábio ilumina, espera e tolera. Entretanto, quando impera numa nação o clamor de extremos e isso ainda é agravado por incitação e manipulação mentorada por uma minoria privilegiadíssima, facilmente a sensatez e o diálogo se perdem em detrimento ao antigo ato de digladiar ideologias na ilusão de ser uma solução enquanto, na verdade, tudo vai se tornando cada vez mais incipiente, diluído ou líquido parafraseando maliciosamente o sociólogo europeu Zygmunt Bauman. Forças opostas no vigor de suas disposições bem intencionadas para a ação, quando desprezam as possibilidades de uniã

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