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Filosofia e Poesia***

Pode haver entre a filosofia e a poesia uma afinidade secreta. Mas também uma secreta decepção. Algumas vezes a filosofia promete mais do que pode cumprir. A poesia, por sua vez, tenta fazer coincidir uma delícia do ouvido com uma delícia do espírito. A filosofia, por vezes, não consegue produzir a mesma satisfação sensível que a poesia. A poesia assemelha-se a uma graça que ultrapassa o querer e que foge tão logo este queira aprisiona-lo: uma derrota do querer, ao tentar ter o controle. O que se propõe o poeta, muda de sinal e de tonalidade e o que lhe é oferecido e o que oferece é bem mais do que poderia esperar. A alegria maior que a poesia pode proporcionar é ser vencido por ela. Ultrapassa aquilo que se propôs. O poeta, por sua vez, sente-se tomado de uma certa vergonha ao se deixar surpreender por uma emoção que ele mesmo não previu. Abre-se uma lacuna entre aquilo que o poeta quis e o que ele fez... É o que poderíamos chamar de inspiração. Cria-se uma satisfação

Mascarados*

Saiu o Semeador a semear Semeou o dia todo e a noite o apanhou ainda com as mãos cheias de sementes. Ele semeava tranqüilo sem pensar na colheita porque muito tinha colhido do que outros semearam. Jovem, seja você esse semeador Semeia com otimismo Semeia com idealismo as sementes vivas da Paz e da Justiça. *Cora Coralina

Bem vindo ao mundo frenético*

Depois de uma temporada peregrinando e refletindo sobre a vida no Caminho de Santiago, volto em paz para casa. Largo a mochila e as botas – companheiras inseparáveis de viagem, quase fazendo parte do meu corpo – num canto da lavanderia e sinto um forte aperto no peito, como se estivesse me desmembrando. Foram dias memoráveis juntos, fizeram o caminho sobre minhas costas e sob meus pés. São parte importante desta jornada. Impossível pensar na caminhada, sem lembrar de quanto me auxiliaram, quanto foram importantes, quanto estivemos colados. Deixá-las ali, naquele chão frio, não significava um alivio no peso que carregava ou o final do caminho, mas o inicio do retorno ao cotidiano, a agitação da cidade grande e a volta aos problemas mundanos. Mesmo sem ter dormido direito no avião, não pude me esquivar do primeiro compromisso oficial já agendado pela família: jantar de boas vindas. Cansado ainda, preparo um banho quente, demorado, gostoso. “Como é bom voltar para casa e ter

O fazedor de amanhecer*

Sou leso em tratagens com máquina. Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis. Em toda a minha vida só engenhei 3 máquinas Como sejam: Uma pequena manivela para pegar no sono. Um fazedor de amanhecer para usamentos de poetas E um platinado de mandioca para o fordeco de meu irmão. Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias automobilísticas pelo Platinado de Mandioca. Fui aclamado de idiota pela maioria das autoridades na entrega do prêmio. Pelo que fiquei um tanto soberbo. E a glória entronizou-se para sempre em minha existência. *Manoel de Barros

Voo Livre*

na pausa de um instante suspiro de eternidade ninho de acolhimento gestação de liberdade tecedura de amizade no encanto da entrega encontro novas possibilidades! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Poeta. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Noções*

Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos.   Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos. Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.   Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza, só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.   Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a Minha virtude era esta errância por mares contraditórios, e este abandono para além da felicidade e da beleza.   Ó meu Deus, isto é a minha alma: qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário, como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera... *Cecília Meireles

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