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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"No fundo da prática científica existe um discurso que diz: 'nem tudo é verdadeiro; mas em todo lugar e a todo momento existe uma verdade a ser dita e a ser vista, uma verdade talvez adormecida, mas que no entanto está somente à espera de nosso olhar para aparecer, à espera de nossa mão para ser desvelada. A nós cabe achar a boa perspectiva, o ângulo correto, os instrumentos necessários, pois de qualquer maneira ela está presente aqui e em todo lugar'".  "Se existe uma geografia da verdade, esta é a dos espaços onde reside, e não simplesmente a dos lugares onde nos colocamos para melhor observá-la." "A genealogia é cinza; ela é meticulosa e pacientemente documentária. Ela trabalha com pergaminhos embaralhados, riscados, várias vezes reescritos." "Todo conhecimento, seja ele científico ou ideológico, só pode existir a partir de condições políticas que são as condições para que se formem tanto o sujeito quanto os domínios de s

Filosofia e Poesia***

Pode haver entre a filosofia e a poesia uma afinidade secreta. Mas também uma secreta decepção. Algumas vezes a filosofia promete mais do que pode cumprir. A poesia, por sua vez, tenta fazer coincidir uma delícia do ouvido com uma delícia do espírito. A filosofia, por vezes, não consegue produzir a mesma satisfação sensível que a poesia. A poesia assemelha-se a uma graça que ultrapassa o querer e que foge tão logo este queira aprisiona-lo: uma derrota do querer, ao tentar ter o controle. O que se propõe o poeta, muda de sinal e de tonalidade e o que lhe é oferecido e o que oferece é bem mais do que poderia esperar. A alegria maior que a poesia pode proporcionar é ser vencido por ela. Ultrapassa aquilo que se propôs. O poeta, por sua vez, sente-se tomado de uma certa vergonha ao se deixar surpreender por uma emoção que ele mesmo não previu. Abre-se uma lacuna entre aquilo que o poeta quis e o que ele fez... É o que poderíamos chamar de inspiração. Cria-se uma satisfação

Mascarados*

Saiu o Semeador a semear Semeou o dia todo e a noite o apanhou ainda com as mãos cheias de sementes. Ele semeava tranqüilo sem pensar na colheita porque muito tinha colhido do que outros semearam. Jovem, seja você esse semeador Semeia com otimismo Semeia com idealismo as sementes vivas da Paz e da Justiça. *Cora Coralina

Bem vindo ao mundo frenético*

Depois de uma temporada peregrinando e refletindo sobre a vida no Caminho de Santiago, volto em paz para casa. Largo a mochila e as botas – companheiras inseparáveis de viagem, quase fazendo parte do meu corpo – num canto da lavanderia e sinto um forte aperto no peito, como se estivesse me desmembrando. Foram dias memoráveis juntos, fizeram o caminho sobre minhas costas e sob meus pés. São parte importante desta jornada. Impossível pensar na caminhada, sem lembrar de quanto me auxiliaram, quanto foram importantes, quanto estivemos colados. Deixá-las ali, naquele chão frio, não significava um alivio no peso que carregava ou o final do caminho, mas o inicio do retorno ao cotidiano, a agitação da cidade grande e a volta aos problemas mundanos. Mesmo sem ter dormido direito no avião, não pude me esquivar do primeiro compromisso oficial já agendado pela família: jantar de boas vindas. Cansado ainda, preparo um banho quente, demorado, gostoso. “Como é bom voltar para casa e ter

O fazedor de amanhecer*

Sou leso em tratagens com máquina. Tenho desapetite para inventar coisas prestáveis. Em toda a minha vida só engenhei 3 máquinas Como sejam: Uma pequena manivela para pegar no sono. Um fazedor de amanhecer para usamentos de poetas E um platinado de mandioca para o fordeco de meu irmão. Cheguei de ganhar um prêmio das indústrias automobilísticas pelo Platinado de Mandioca. Fui aclamado de idiota pela maioria das autoridades na entrega do prêmio. Pelo que fiquei um tanto soberbo. E a glória entronizou-se para sempre em minha existência. *Manoel de Barros

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