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O viajante de amanhãs*

“O filósofo é uma das maneiras pela qual se manifesta a oficina da natureza – o filósofo e o artista falam dos segredos da atividade da natureza.”                      Friedrich Nietzsche O espírito aventureiro impróprio à cristalização do saber, se refaz nas escaramuças de um território movido a movimento. Seu viés de intimidade precursora se alimenta das ruas, estradas, subúrbios desmerecidos. É incomum ser facilmente compartilhável, esses eventos anteriores ao engessamento conceitual. A irregularidade narrativa como propósito sem propósito, se reveste de uma quase poesia, para tentar dizer algo sobre os eventos irreconciliáveis com a ótica dos limites bem definidos. Essa lógica de singularidades flutuantes se aplica as coisas irreconhecíveis ao vocabulário sabido. Seu desprezo pelas fronteiras, objetivadas pelos acordos e leis, é capaz de antecipar amanhãs no agora irrecusável. Num caráter de existência marginal entre o cotidiano e a miragem das lonjuras, parece q

O Albatroz*

Às vezes, por prazer, os homens da equipagem Pegam um albatroz, imensa ave dos mares, Que acompanha, indolente parceiro de viagem, O navio a singrar por glaucos patamares. Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés, O monarca do azul, canhestro e envergonhado, Deixa pender, qual par de remos junto aos pés, As asas em que fulge um branco imaculado. Antes tão belo, como é feio na desgraça Esse viajante agora flácido e acanhado! Um, com o cachimbo, lhe enche o bico de fumaça, Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado! O Poeta se compara ao príncipe da altura Que enfrenta os vendavais e ri da seta no ar; Exilado no chão, em meio à turba obscura, As asas de gigante impedem-no de andar. *Charles Baudelaire

Interlúdio*

As palavras estão muito ditas e o mundo muito pensado. Fico ao teu lado.   Não me digas que há futuro nem passado. Deixa o presente — claro muro sem coisas escritas.   Deixa o presente. Não fales, Não me expliques o presente, pois é tudo demasiado.   Em águas de eternamente, o cometa dos meus males afunda, desarvorado.   Fico ao teu lado. *Cecília Meireles

Poema Perdido de Fernando Pessoas***

Cada palavra dita é a voz de um morto. Aniquilou-se quem se não velou   Quem na voz, não em si, viveu absorto. Se ser Homem é pouco, e grande só   Em dar voz ao valor das nossas penas E ao que de sonho e nosso fica em nós   Do universo que por nós roçou Se é maior ser um Deus, que diz apenas   Com a vida o que o Homem com a voz: Maior ainda é ser como o Destino   Que tem o silêncio por seu hino E cuja face nunca se mostrou. *Fernando Pessoas **Poema perdido de Fernando Pessoas (19/09/1918)

A livraria no caminho entre o parque e o café*

"O tempo presente e o tempo passado Estão ambos talvez presentes no tempo futuro E o tempo futuro contido no tempo passado. Se todo o tempo é eternamente presente Todo tempo é irredimível" T.S.Eliot No caminho entre o restaurante, café, a livraria do sebo, Ex Libris, e do meu trabalho paro quase sempre para olhar a vitrine. Abro a porta e falo com a moça que atende e pergunto: o que tem de interessante ou quanto custa esse aqui? Já comprei muitos livros e o que mais impressiona são as dedicatórias, ou quando as pessoas resolvem sublinhar com lápis e canetas coloridas o mesmo livro. Foi hoje, três cores em um livro. Um senhor livro, um T.S. Eliot, Poesia (Collected Poems). Tradução de Ivan Junqueira, Nova Fronteira, 2 edição, 1981. Livro que já tive, que ganhei um dia de aniversário nos anos 80. Perdi num bar quando estava viajando de férias. Sei lá. Li, reli os poemas depois na casa de uma namorada que me emprestara e tive o trabalho de devolver no

Buscas*

Procuro o novo O desconhecido O inexistente E encontro o velho O que sempre foi Procuro o novo Incansavelmente Deparo-me Com amarras Agendamentos Repressões Procuro o novo Novamente e de novo e de novo Circular envolto Dissolvo-me Na arte de me reinventar! *Dra Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Poetisa. Filósofa Clínica Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Um poeta é o menos poético de tudo o que existe, porque lhe falta identidade; continuamente está indo para - e preenchendo - algum outro corpo. O sol, a lua, o mar, assim como homens e mulheres, que são criaturas de impulso, são poéticos e têm ao seu redor um atributo imutável; o poeta não, carece de identidade. Certamente é a menos poética das criaturas de Deus." "(...) porque se, na verdade, é o homem esse animal que quer permanecer, o artista busca permanência transferindo-se para sua obra, fazendo-se sua própria obra, e atinge-a na medida em que se torna obra." "Se o poeta é sempre 'algum outro', sua poesia tende a ser igualmente 'a partir de outra coisa', a encerrar visões multiformes da realidade na recriação singularíssima da palavra." "Os poetas se compreendem de poema a poema melhor do que em seus encontros pessoais." "Com Antonin Artaud calou na França uma palavra dilacerada que só esteve pela

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