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Eu e meus outros eus*

Sei que eu sou eu Mas não sou só eu Sou eu, e sou minhas circunstâncias Sou eu e sou os meus outros eus. Sou só, sozinho, solitário Sou único, sou singular Todavia, sou plural , também Sou estes pedacinhos Que outros deixaram em mim Sou, ainda, estes pedacinhos Que outros levaram de mim Apenas me prolonguei Me expandi Me enriqueci Nada perdi Cresci Fiquei maior e melhor.... talvez! Se eu não sou nem meu Como poderia ser de alguém Ou alguém poderia ser meu??? *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Tratado geral das grandezas do ínfimo*

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogios. *Manoel de Barros

O viajante de amanhãs*

“O filósofo é uma das maneiras pela qual se manifesta a oficina da natureza – o filósofo e o artista falam dos segredos da atividade da natureza.”                      Friedrich Nietzsche O espírito aventureiro impróprio à cristalização do saber, se refaz nas escaramuças de um território movido a movimento. Seu viés de intimidade precursora se alimenta das ruas, estradas, subúrbios desmerecidos. É incomum ser facilmente compartilhável, esses eventos anteriores ao engessamento conceitual. A irregularidade narrativa como propósito sem propósito, se reveste de uma quase poesia, para tentar dizer algo sobre os eventos irreconciliáveis com a ótica dos limites bem definidos. Essa lógica de singularidades flutuantes se aplica as coisas irreconhecíveis ao vocabulário sabido. Seu desprezo pelas fronteiras, objetivadas pelos acordos e leis, é capaz de antecipar amanhãs no agora irrecusável. Num caráter de existência marginal entre o cotidiano e a miragem das lonjuras, parece q

O Albatroz*

Às vezes, por prazer, os homens da equipagem Pegam um albatroz, imensa ave dos mares, Que acompanha, indolente parceiro de viagem, O navio a singrar por glaucos patamares. Tão logo o estendem sobre as tábuas do convés, O monarca do azul, canhestro e envergonhado, Deixa pender, qual par de remos junto aos pés, As asas em que fulge um branco imaculado. Antes tão belo, como é feio na desgraça Esse viajante agora flácido e acanhado! Um, com o cachimbo, lhe enche o bico de fumaça, Outro, a coxear, imita o enfermo outrora alado! O Poeta se compara ao príncipe da altura Que enfrenta os vendavais e ri da seta no ar; Exilado no chão, em meio à turba obscura, As asas de gigante impedem-no de andar. *Charles Baudelaire

Interlúdio*

As palavras estão muito ditas e o mundo muito pensado. Fico ao teu lado.   Não me digas que há futuro nem passado. Deixa o presente — claro muro sem coisas escritas.   Deixa o presente. Não fales, Não me expliques o presente, pois é tudo demasiado.   Em águas de eternamente, o cometa dos meus males afunda, desarvorado.   Fico ao teu lado. *Cecília Meireles

Poema Perdido de Fernando Pessoas***

Cada palavra dita é a voz de um morto. Aniquilou-se quem se não velou   Quem na voz, não em si, viveu absorto. Se ser Homem é pouco, e grande só   Em dar voz ao valor das nossas penas E ao que de sonho e nosso fica em nós   Do universo que por nós roçou Se é maior ser um Deus, que diz apenas   Com a vida o que o Homem com a voz: Maior ainda é ser como o Destino   Que tem o silêncio por seu hino E cuja face nunca se mostrou. *Fernando Pessoas **Poema perdido de Fernando Pessoas (19/09/1918)

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