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Noções*

Entre mim e mim, há vastidões bastantes para a navegação dos meus desejos afligidos. Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos. Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.   Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza, só recolho o gosto infinito das respostas que não se encontram.   Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a Minha virtude era esta errância por mares contraditórios, e este abandono para além da felicidade e da beleza.   Ó meu Deus, isto é a minha alma: qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário, como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera... *Cecília Meireles

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Pertenço, porém, àquela espécie de homens que estão sempre na margem daquilo a que pertencem, nem vêem só a multidão de que são, senão também os grandes espaços que há ao lado." "Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre (...)" "Deus é o existirmos e isto não ser tudo." "Toda a vida da alma humana é um movimento na penumbra. Vivemos, num lusco-fusco da consciência, nunca certos com o que somos ou com o que nos supomos ser. Nos melhores de nós vive a vaidade de qualquer coisa, e há um erro cujo ângulo não sabemos. Somos qualquer coisa, e há um erro cujo ângulo não sabemos. Somos qualquer coisa que se passa no intervalo de um espetáculo (...)"   "Que coisa morro quando sou ?" "Damos comumente às nossas ideias do

Descrituras*

“(...) Deram-me esta bela gravata... como um presente de desaniversário! (...) o que é um presente de desaniversário ? – Um presente oferecido quando não é seu aniversário, naturalmente.”                                                     Lewis Carroll Uma redação se faz página cotidiana na vida de qualquer pessoa, quer ela entenda ou não. Algo que restaria esquecido, não fora a ousadia semiótica a tentar decifrar essa trama de códigos imperfeitos. Por esse esboço a lógica descritura se incompleta para prosseguir inconclusa, aberta, viva.  Nem sempre se escolhe escrever, muitas vezes são as palavras a escolher você para dizer suas coisas. Conteúdos de rascunho, ilação, percepção extemporânea de ideias, reflexão. Aproximações com a zona interdita das margens de cada um. O tempo aprecia conceder eficácia de tradução aos traços persistentes. O sujeito prisioneiro dessa armadilha conceitual experimenta liberdades nem sempre possíveis de mencionar na

Ora (direis) ouvir estrelas! *

XIII "Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto ... E conversamos toda a noite, enquanto A via láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto. Direis agora: "Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?" E eu vos direi: "Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas." *Olavo Bilac

Sabor da vida*

Para saborear a vida é preciso vivê-la devagar Mastigar bem cada momento Respirar, sentir o cheiro de algo muito bom chegando… Não exagere no tempero, muita pimenta pode estressar O sal e o açúcar deve ser usado com moderação Observe o tempo, não deixe passar do ponto Sente-se à mesa com apetite e deguste um bom dia!… *Marli Savelli

Uma temporada no Hospício*

Entrada; A palavra tranca Regurgita e volta O que está sendo feito? O que fizeram de mim? O que fizeram em mim? Uma droga: Caio, desmaio Agora não lembro Agora não penso Agora não sinto Agora, nada sou... No porão: Aqui é escuro Não vejo nada Não sinto nada Nada fala em mim O que sou aqui? Como dizer O que não sei? Como encontrar Aquele que não pode ser encontrado?... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) cada época torna canônicos textos considerados marginais na época precedente." "A nova epopeia é a primeira a permitir que duas vozes sejam simultaneamente ouvidas: a voz do poeta e a dos outros, interiorizada; trata-se de um diálogo interior." "O ideal de Brecht não é um teatro total, mas um teatro do heterogêneo, no qual reina a pluralidade no lugar da unidade." "Então Brecht escolhe, sem talvez sabê-lo, a posição de Aristóteles, para quem a surpresa é a fonte de conhecimento." "(...) escritura; ou, em todos os casos, quando o aspecto literário adquire uma pertinência nova." "O leitor é constitutivo da literatura, repete Sartre: 'O objeto literário é um estranho pião que só existe em movimento. Para fazê-lo surgir, é necessário um ato concreto designado leitura, e este só dura enquanto a leitura durar."  "(...) um imperativo para os livros: o melhor sentido é atribuído pelos leito

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