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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O nada e o ser são sempre absolutamente outros, é precisamente seu isolamento que os une; não estão verdadeiramente unidos, apenas se sucedem mais depressa diante do pensamento. Já que o vazio do Para-Si se preenche, já que o homem não está presente imediatamente a tudo, mas muito mais especialmente num corpo, numa situação e, somente através deles no mundo (...)." "(...) o olhar do outro - e é nisso que ele me traz algo de novo - envolve-me por inteiro, ser e nada." "Aparentemente, essa maneira de introduzir o outro como incógnita é a única que considera sua alteridade e a explica." "(...) o filósofo procura - uma linguagem da coincidência, uma maneira de fazer falar as próprias coisas." "(...) um mistério familiar e inexplicado, de uma luz que, aclarando o resto, conserva sua origem na obscuridade." "Lembrando Valéry: 'a linguagem é tudo, pois não é a voz de ninguém, é a própria voz das coisas, ondas e

Passagem*

Não dou conselho, viro a página do livro, Não vendo meus pertences, anulo meu sofrimento, Não compro drogas com código de barras, não voto na salvação, Não compro a alma de ninguém, não vendo meu coração, Alhures farei meu país, não jogo o jogo dos algozes, Não saio com bandeiras, minha luta é a paz, Não me iludo com promessas, minha pátria não tem dono. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Bruxa voa, não esqueçam*

  Pouco a pouco se esvai a energia de uma linda bruxa que dia após dia põe temperos de amor e dedicação em seu caldeirão. Se esvaindo troca de temperos põe agora tristeza e obrigação. O lar que antes afagava seus valores e sua doação hoje é sinônimo de vulcão que queima, machuca, não avisa. Mudar de lugar é imprescindível mas a bruxa está presa. Eu só fico na espreita do dia em que ela volte a voar... *Dionéia Gaiardo Filósofa Clínica da Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Presença de Clarice*

Meu primeiro encontro com Clarice Lispector foi numa tarde de domingo na casa da escultora Zélia Salgado, em Ipanema, creio que em 1956. Eu havia lido, quando ainda vivia em São Luís, o seu romance "O Lustre", que me deixara impressionado pela atmosfera estranha e envolvente, mas a impressão que me causou sua figura de mulher foi outra: achei-a linda e perturbadora. Nos dias que se seguiram, não conseguia esquecer seus olhos oblíquos, seu rosto de loba com pômulos salientes. Voltei a encontrá-la, pouco tempo depois, no "Jornal do Brasil", durante uma visita que fez à redação do "Suplemento Dominical". Conversamos e rimos, mas não voltamos a nos ver num espaço de uns dez anos. De fato, só voltei a encontrá-la logo após voltar do exílio, em 1977. Ela ligou para minha casa: queria entrevistar-me para a revista "Fatos e Fotos", para a qual colaborava naquela época. Clarice já era então uma mulher de quase 60 anos, marcada por acidente qu

Convite*

Não sou a areia onde se desenha um par de asas ou grades diante de uma janela. Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo, em cada praia renascendo outra. Sou a orelha encostada na concha da vida, sou construção e desmoronamento, servo e senhor, e sou mistério A quatro mãos escrevemos este roteiro para o palco de meu tempo: o meu destino e eu. Nem sempre estamos afinados, nem sempre nos levamos a sério. *Lya Luft

O livro sobre nada*

É mais fácil fazer da tolice um regalo do que da sensatez. Tudo que não invento é falso. Há muitas maneiras sérias de não dizer nada, mas só a poesia é verdadeira. Tem mais presença em mim o que me falta. Melhor jeito que achei pra me conhecer foi fazendo o contrário. Sou muito preparado de conflitos. Não pode haver ausência de boca nas palavras: nenhuma fique desamparada do ser que a revelou. O meu amanhecer vai ser de noite. Melhor que nomear é aludir. Verso não precisa dar noção. O que sustenta a encantação de um verso (além do ritmo) é o ilogismo. Meu avesso é mais visível do que um poste. Sábio é o que adivinha. Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições. A inércia é meu ato principal. Não saio de dentro de mim nem pra pescar. Sabedoria pode ser que seja estar uma árvore. Estilo é um modelo anormal de expressão: é estigma. Peixe não tem honras nem horizontes. Sempre que desejo contar alguma coisa, não faço nada; mas quando nã

O Ser Sem Representação*

Esse futuro nos iludir a, mas não importava: amanhã correremos mais depressa, estenderemos mais os braços... E, uma bela manhã... F. Scott Fitzgerald               Ícones do corpo, espaço da não representação, o olho furado tem espaço no mundo virtual, ganha a expressão das cores em notas musicais, a tribal eletrônica Björk expande os sentidos dos meus dias, os tambores me levam para longe das máscaras, o Brasil virou uma sinfonia de arrepiar, um sonho fora do lugar... essa é a distância entre o devir e o isolamento absoluto de uma realidade neurotizada pela tentação do conhecimento único. O próprio movimento do que é feito os corpos, os sons e a imagem que vem da unidade do ser e do nada, e como bem disse Heidegger “...a realidade do mundo não pode consistir em um ser”. Eu olho no horizonte a tua partida a outro país, a tua arte ficou no caos do cotidiano, a inquietação das coisas é que dá ânimo ao sonho à sinfonia da Terra... É como o ciberespaço que não se concretiza,

Tu Tens um Medo*

Tu Tens um Medo Acabar. Não vês que acabas todo o dia. Que morres no amor. Na tristeza. Na dúvida. No desejo. Que te renovas todo dia. No amor. Na tristeza Na dúvida. No desejo. Que és sempre outro. Que és sempre o mesmo. Que morrerás por idades imensas. Até não teres medo de morrer. E então serás eterno. Não ames como os homens amam. Não ames com amor. Ama sem amor. Ama sem querer. Ama sem sentir. Ama como se fosses outro. Como se fosses amar. Sem esperar. Tão separado do que ama, em ti, Que não te inquiete Se o amor leva à felicidade, Se leva à morte, Se leva a algum destino. Se te leva. E se vai, ele mesmo… Não faças de ti Um sonho a realizar. Vai. Sem caminho marcado. Tu és o de todos os caminhos. Sê apenas uma presença. Invisível presença silenciosa. Todas as coisas esperam a luz, Sem dizerem que a esperam. Sem saberem que existe. Todas as coisas esperarão por ti, Sem te falarem. Sem lhes

A poética das rosas*

Também pudera Esquecido como sou Eu não me perdoo Como eu não sabia ainda Que era amarela A rosa preferida dela? Vou cultivar rosas De todas as cores Que não falte a amarela Uma flor só para ela Vai ser um esplendor Quando nascer A flor de cor Ama-r-ela.... *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Filósofo Clínico da Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Basta um fantasma numa reunião para que todos os presentes adquiram um ar fantasmal, basta um milagre para que a realidade se torne milagrosa." "A primeira invenção do autor de um romance é sempre o narrador, seja este um narrador impessoal que narra na terceira pessoa ou um narrador-personagem, comprometido na ação, que relata a partir de um eu." "O narrador nunca é o autor porque este é um homem livre e aquele se move no interior das regras e limites que este lhe impõe." "Cada época tem a sua irrealidade: seus mitos, seus fantasmas, suas quimeras, seus sonhos e uma visão ideal do ser humano que a ficção expressa com mais fidelidade que qualquer outro gênero." "A bondade e a maldade são uma essência, um elemento constitutivo do ser que, em casos excepcionais, pode mudar de valência dentro da mesma pessoa (...)" "Manipulando e organizando astutamente os ingredientes da realidade, o narrador construiu outra r

Texto de consulta*

1   A página branca indicará o discurso Ou a supressão o discurso?   A página branca aumenta a coisa Ou ainda diminui o mínimo?   O poema é o texto? O poeta? O poema é o texto + o poeta? O poema é o poeta - o texto?   O texto é o contexto do poeta Ou o poeta o contexto do texto?   O texto visível é o texto total O antetexto o antitexto Ou as ruínas do texto? O texto abole Cria Ou restaura?     2   O texto deriva do operador do texto Ou da coletividade — texto?   O texto é manipulado Pelo operador (ótico) Pelo operador (cirurgião) Ou pelo ótico-cirurgião?   O texto é dado Ou dador? O texto é objeto concreto Abstrato Ou concretoabstrato?   O texto quando escreve Escreve Ou foi escrito Reescrito?   O texto será reescrito Pelo tipógrafo / o leitor / o crítico; Pela roda do tempo?   Sofre o operador: O tipógrafo trunca o texto. Melhor mandar à oficina O texto já truncado.     (...)

Atuar ou ser você mesmo? Dualismos da vida!*

Em nossa última coluna sobre os papéis existenciais abordaremos dois aspectos importantes e dilemáticos. PERGUNTA: Seria possível perde-se de si mesmo enquanto atua em determinado papel existencial ou função social? Seria possível que você usasse por tanto tempo um rótulo, uma roupagem, um papel profissional que, sem perceber, você tenha se tornado ele? Semelhante ao ator que ao perder-e de si mesmo passa a agir e a acreditar constantemente que é um dos personagens que representava? Sim! É possível nos perdermos de nós mesmos e nos tornarmos aquilo que durante muito tempo assumimos como identidade. Muitas pessoas tornam-se seus rótulos, seus papéis sociais de forma tão profunda que o sujeito já não mais existe, o que existe é pai, o empresário, o doente, o médico, o terapeuta... E aquilo que deveria ser apenas uma roupagem, um rótulo, uma forma de agir em determinada circunstância, passa a ser a própria pessoa. Muitas assumindo papéis que em nada lhes diz respeito. PER

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