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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) esses grandes continuadores da literatura tradicional em todas as suas possíveis gamas não cabem mais dentro dela, são acossados pela obscura intuição de que alguma coisa excede as suas obras, de que quando vão fechar a mala de cada livro há mangas e fitas penduradas para fora e é impossível encerrar" "(...) se alguém se levanta como Holderlin nos alvores do romantismo ou como Mallarmé em sua decadência, esse alguém segue cegamente a intuição infalível que o encaminha à linguagem poética, não estética, linguagem em que é possível superar as limitações do verbo por via da imagem - essa ideia do verbo que os homens poetas conseguem apreender e formular"  "Os escritores ampliam as possibilidades do idioma, levam-no ao limite, buscando sempre uma expressão mais imediata, mais próxima do fato em si que sentem e querem manifestar, quer dizer, uma expressão não-estética, não-literária, não-idiomática. O escritor é o inimigo potencial - e hoje já at

A mão e a poesia*

Eu era tão somente A mão que escrevia Se há alguém culpado Este é o meu coração. O que me traz alegrias Não é o mesmo Que te deixa alegre Aquilo que dói em mim Não é o mesmo Que dói em ti. E que a poesia Nos traga alegria E nos alivie No ano de 2017, *Jose Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A obra de Thomas Mann situa-se na categoria muito rara (...). Tais obras comovem-nos à quinta leitura, por motivos diferentes daqueles que nos fizeram amá-las à primeira, ou até opostos a eles" "(...) busca de uma sabedoria mágica cujos segredos cochichados ou subentendidos flutuam entre as linhas, destinados, ao que parece, a permanecer voluntariamente o mais despercebidos possível" "A Montanha Mágica é a descrição bastante precisa de um sanatório na Suíça alemã, por volta de 1912" "(...) para esse analista das mutações e da passagem, o presente não tem um lugar privilegiado na sequência dos séculos; todos os tempos, inclusive aquele em que estamos, flutuam igualmente à superfície do tempo" "Parece que Mann nunca conseguiu eliminar totalmente de sua consciência, e ainda menos do inconsciente, um vestígio de timidez burguesa ou de reprovação puritana perante essa aventura do espírito a caminho de si mesmo" &quo

Quando nosso corpo virou uma máquina*

Na última coluna vimos que algumas pessoas encontram-se caminhando por lindos lugares da nossa cidade, tais como o Ecoparque, mas que não estão lá de fato, pelo menos não do ponto de vista do seu pensamento, das suas emoções, das suas ideias. Vimos que uma das consequências de ter isto como um padrão é a dissociação entre corpo e mente, entre o ambiente em que estamos e o que se passa dentro de nós. A pessoa fica com o seu pensamento pulando de quadro em quadro, de ideia em ideia, de coisas boas do nada para coisas horríveis. Entre as consequências usuais destes padrões de espacialidade encontram-se queixas como o fato de a pessoa não ver mais graça de estar em lugar algum, não importa o quanto belo ele seja, e assim acaba se fechando em casa, em uma sala muitas vezes escura, de janelas fechadas, como se o mundo lhe fizesse mal. Outras vezes a pessoa reclama que nada mais lhe agrada, que não consegue saborear uma boa comida, que não consegue sentir atrações físicas pela es

Soneto da Manhã Primeira*

Quero a manhã exata, a manhã viva, pois estas luzes e estes vôos na aurora, são só ensaios de manhãs.   E agora  o que eu quero é a manhã definitiva, a autêntica manhã pura, exclusiva, manhã nascida de si mesma e fora desta jubilação falsa e sonora que só por um momento nos cativa. Ah, a manhã da última promessa, manhã de um novo mundo que começa, mais acessível, mais humano e bom. Meu Deus, seria como chegasse a manhã do primeiro sol que nasce, a cor primeira e do primeiro som. *José Chagas         

Geometria dos ventos***

Eis que temos aqui a Poesia, a grande Poesia. Que não oferece signos nem linguagem específica, não respeita sequer os limites do idioma. Ela flui, como um rio. como o sangue nas artérias, tão espontânea que nem se sabe como foi escrita. E ao mesmo tempo tão elaborada - feito uma flor na sua perfeição minuciosa, um cristal que se arranca da terra já dentro da geometria impecável da sua lapidação. Onde se conta uma história, onde se vive um delírio; onde a condição humana exacerba, até à fronteira da loucura, junto com Vincent e os seus girassóis de fogo, à sombra de Eva Braun, envolta no mistério ao                                        mesmo tempo fácil e insolúvel da sua tragédia. Sim, é o encontro com a Poesia. *Rachel de Queiroz **(Poesia feita em homenagem ao poema "Geometrida dos Ventos" de Álvaro Pacheco)

Apontamentos de lógica superlativa*

Existe um mundo exageradamente singular. O lugar constitui-se de eventos descritos num vocabulário de exuberâncias. Uma estrutura onde tudo se agiganta diante das expressões de êxtase. Sua sobrevida se alimenta de anúncios nos eventos realçados. Seu teor fantástico traduz rumores de imensidão. Seu ser extraordinário transborda numa perspectiva exaltada. Nas entrelinhas do discurso bem ajustado essa lógica dos excessos busca emancipar-se. Um devir assim aprecia o refúgio numa dialética dos sobressaltos. Ao sujeito constituído nalguma esteticidade, não é raro seu meio prescrever tipologias.  Ao surgir em intensidade máxima contrapõe-se a rotina mediana. Seu dizer superlativo emancipa o cotidiano para engendrar sonhos. Os relatos dessa linguagem sugere um brilho incomparável ao seu autor. Desdobrando-se para além dos territórios reconhecidos, modifica o lugar_espaço_tempo ao seu redor.   Uma fonte inesgotável de paixões renova suas armadilhas existenciais. Assim, caminhar

O Livro*

Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, indubitavelmente, o livro. Os outros são extensões do seu corpo. O microscópio e o telescópio são extensões da vista; o telefone é o prolongamento da voz; seguem-se o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação. Em «César e Cleópatra» de Shaw, quando se fala da biblioteca de Alexandria, diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro é isso e também algo mais: a imaginação. Pois o que é o nosso passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? Tal é a função que o livro realiza. (...) Se lemos um livro antigo, é como se lêssemos todo o tempo que transcorreu até nós desde o dia em que ele foi escrito. Por isso convém manter o culto do livro. O livro pode estar cheio de coisas erradas, podemos não estar de acordo com as opiniões do autor, mas mesmo assim conserva alguma coisa de sagrado, al

Caminhar à deriva*

O tempo não mudou, o que mudou foi a prioridade" Mario Sergio Cortella As pessoas escravizadas pelo conceito do trabalho limitam-se à prática da vida e não praticar a vida no seu uso mais ordinário, a de viver na busca de tudo e de nada, o de simplesmente viver o instante em cada investigação de sua subjetividade.  Depois, o mais adiante é o que está em frente a si mesmo, o prático da vida. Ter essa força interna faz com que lidamos melhor a vida, é como saber ouvir o som das coisas, como saber compreender o sentido da linguagem que sai dos sons, saber flutuar nas cores existentes na palheta do pintor. Sim, é preciso termos mais tempo no nosso tempo de pensar sem o pensamento prático, buscar um pouco mais o ato de indagar, o investigar é a esperteza que só aprendemos com a vida, com aqueles que souberam viver bem esse tempo.  Aí, a importância de um dia termos andado de mãos dadas com os pais, com a nossa mãe pelas ruas da cidade escura. A noite é o silêncio

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