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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o labirinto é evidente símbolo de perplexidade e a perplexidade fora uma das emoções mais comuns da sua vida, a reação diante de muitos atos e decisões que lhe pareciam inexplicáveis" "Meu primeiro conhecimento das coisas veio sempre dos livros, antes que do contato real com elas" "(...) Outra aquisição dos últimos anos de ensino médio genebrino foi Schopenhauer, de quem admirou O mundo como vontade e representação. Sempre achou que, se fosse possível expressar o universo em palavras e pudesse algum livro servir de plano, tal livro seria o de Schopenhauer"    "Apaixonava-o a mitologia sensual do submundo" "(...) apaixonou-o uma Buenos Aires que logo deixaria de existir, relegada ao esquecimento pelo progresso. E Borges, deslumbrado, saiu a descobrir a cidade" "Desejava fazer poemas essenciais, para além do aqui e agora, livres de cor local e das circunstâncias cotidianas" "As ruas de Bu

Da coleção de contos "As mulheres que não fui"*

Daliza se formou na leitura das revistas de 1950, na linha do Clube das Moças e nos filmes da sessão da tarde que padronizavam o romantismo, com Fred Astaire, Elvis e o humor inocente de Jerry Lewis. Assim, era velho seu nascimento cultural, um óvulo desabrochando num corpo mignon. Palavra antiquada, agora gostam mesmo é de picanha, vitelas com gordura pouca, só para dar o charme da sedução visual. Estava ligada ao movimento lascivo da vida instintiva por poucos fios... pena que ela não se alimentava de verduras, carnes e carboidratos como os seres normais. Pensava num tanto de preocupações sobre isso, os efeitos da vida medicamentosa para os órgãos.. mas... é a vida que conseguia ter, e os desdobramentos ela sempre pagava. Às vezes se sentia a moça casamenteira, ao estilo da sobrinha em "Meu amigo Harvey". Daliza era uma musa pin up. Tinha a leveza das panquecas com espessura de papel; diria que ela seria uma geleia de pêssego, se gostasse de doces. Deles só sabo

A perfeição*

O que me tranquiliza é que tudo o que existe, existe com uma precisão absoluta. O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete não transborda nem uma fração de milímetro além do tamanho de uma cabeça de alfinete. Tudo o que existe é de uma grande exatidão. Pena é que a maior parte do que existe com essa exatidão nos é tecnicamente invisível. O bom é que a verdade chega a nós como um sentido secreto das coisas. Nós terminamos adivinhando, confusos, a perfeição. *Clarice Lispector

Ditirambos*

Existe uma lógica superlativa em meio às façanhas usuais. Não fora seu ser extraordinário a desalojar cotidianos, poderia acessar, com mais facilidade, a epistemologia das coisas ao seu redor. Sua encenação de caráter imperfeito escolhe a vertigem para traduzir amanhãs. Um inusitado cio criativo, de essência exploratória, realiza festejos para representar mesclas de exclusão e integração. Sua essência Dionisíaca sugere uma nova página às promessas de um para sempre. Seu jogo de cena inventa linguagens para redesenhar a vida acontecendo. Essa dança de consciência alterada ensaia rupturas ao padrão existencial. Sua expressividade é das ruas, praças, teatros, diante do espelho. Seu êxtase menciona um lugar quase esquecido, recém chegando pelo deslocamento fora de si. Num estado diferenciado a existência se encontra com sua irrealidade, rascunha novas proposições. Ao surgir em retórica dançarina, o fenômeno ditirambo prescreve eventos de paixão desarrazoada. Em trânsitos d

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Temos tanta necessidade das lições de uma vida que começa, de uma alma que desabrocha, de um espírito que se abre" "Ver e mostrar estão fenomenologicamente em violenta antítese" "Não é também no devaneio que o homem se mostra mais fiel a si mesmo ?" "(...) o psicanalista pensa demais. E não sonha o bastante. Ao pretender explicar o fundo do nosso ser por resíduos que a vida diurna deposita na superfície, ele oblitera em nós o sentido do abismo. Em nossas cavernas, quem nos ajudará a descer ? Quem nos ajudará a reencontrar, a reconhecer, a conhecer o nosso ser duplo, que, de uma noite para outra, nos guarda na existência, esse sonâmbulo que não caminha nas estradas da vida, mas que desce, sempre e sempre, em busca de jazidas imemoriais ?"  "(...) Os grandes sonhadores são mestres da consciência cintilante. Uma espécie de cogito múltiplo se renova no mundo fechado de um poema. Por certo serão necessários outros poderes co

O outono e a harmonia*

Outono chegou trazendo seus ventos e derrubando as lindas folhas de múltiplos matizes coloridos. Convidando a transformação. Fazendo nossa pele arrepiar e nossa alma se aquietar. Outono chegou no tempo do relógio cósmico da harmonia. No tomar o chá e ouvir Beethoven. No pegar os pincéis e pintar os caminhos. Sinto-me aconchegada por esta estação das rugas e cabelos brancos encaracolados. Estação do "não ter que". Da sabedoria das coisas simples. Do olho no olho e das amizades eternas. Entro junto com o outono e convido você a caminhar comigo neste tempo sagrado a recitar o poema do existir e ser em sintonia. E saborear um chá de consciência e beleza observando o por do sol e a lua cheia chegando de mansinho. Pois, apesar de tudo, de tanto descompasso neste mundo insano, há a possibilidade de um instante de felicidade, quando nos damos tempo de respirar os ventos a tocar nosso rosto sussurrando: -viva o agora, porque o paraíso é também aqui! *Dra Rosângela

Mundo pequeno*

I O mundo meu é pequeno, Senhor. Tem um rio e um pouco de árvores. Nossa casa foi feita de costas para o rio. Formigas recortam roseiras da avó. Nos fundos do quintal há um menino e suas latas maravilhosas. Todas as coisas deste lugar já estão comprometidas com aves. Aqui, se o horizonte enrubesce um pouco, os besouros pensam que estão no incêndio. Quando o rio está começando um peixe, Ele me coisa Ele me rã Ele me árvore. De tarde um velho tocará sua flauta para inverter os ocasos. II Conheço de palma os dementes de rio. Fui amigo do Bugre Felisdônio, de Ignácio Rayzama e de Rogaciano. Todos catavam pregos na beira do rio para enfiar no horizonte. Um dia encontrei Felisdônio comendo papel nas ruas de Corumbá. Me disse que as coisas que não existem são mais bonitas. IV Caçador, nos barrancos, de rãs entardecidas, Sombra-Boa entardece. Caminha sobre estratos de um mar extinto. Caminha sobre as conchas dos caracóis da

Silêncio da letra*

Cansei dos teus olhos, de tua voz, a duração deste momento, o movimento faz o tempo durar o sempre na imagem. O breviário do solitário é catar os dias, então, do previsível, da atitude dos versos, a métrica é o fluxo do pensamento: e o silêncio fascina. Morrerei em Paris como César Vallejo e Celan. O Sena que lava a textura do tecido, palavras entre as pernas abrem-se às manhãs da cidade. A poesia nasce da algaravia, da alma perdida, morrer em águas turvas. O silêncio abre-se coberto de tardes tristes, um beijo na beleza incessante dos olhos esquecidos dos os amantes  que não se cansam de partir. O silêncio fascina sobre o escrito. *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Escritor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O que significa, aqui, dizer que a existência precede a essência ? Significa que, em primeira instância, o homem existe, encontra a si mesmo, surge no mundo e só posteriormente se define. O homem, tal como o existencialista o concebe, só não é passível de uma definição porque, de início, não é nada; só posteriormente será alguma coisa e será aquilo que ele fizer de si mesmo"  "(...) o primeiro passo do existencialismo é o de pôr todo homem na posse do que ele é, de submetê-lo à responsabilidade total de sua existência" "O existencialista não pensará nunca, também, que o homem pode conseguir o auxílio de um sinal qualquer que o oriente no mundo, pois considera que é o próprio homem quem decifra o sinal como bem entende. Pensa, portanto, que o homem, sem apoio e sem ajuda, está condenado a inventar o homem a cada instante" "(...) se vocês procurarem um padre, por exemplo, para que ele os aconselhe, vocês estarão escolhendo esse padre,

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