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Sou*

Sou o que sabe não ser menos vão Que o vão observador que frente ao mudo Vidro do espelho segue o mais agudo Reflexo ou o corpo do irmão. Sou, tácitos amigos, o que sabe Que a única vingança ou o perdão É o esquecimento. Um deus quis dar então Ao ódio humano essa curiosa chave. Sou o que, apesar de tão ilustres modos De errar, não decifrou o labirinto Singular e plural, árduo e distinto, Do tempo, que é de um só e é de todos. Sou o que é ninguém, o que não foi a espada Na guerra. Um esquecimento, um eco, um nada. *Jorge Luis Borges

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) por mais que se diga o que se vê, o que se vê não se aloja jamais no que se diz" "(...) o rosto que o espelho reflete é igualmente aquele que o contempla" "A identidade das coisas, o fato de que possam assemelhar-se a outras e aproximar-se delas, sem contudo se dissiparem, preservando sua singularidade, é o contrabalançar constante da simpatia e da antipatia (...)" "A linguagem não é um sistema arbitrário; está depositada no mundo e dele faz parte porque, ao mesmo tempo, as próprias coisas escondem e manifestam seu enigma como uma linguagem e porque as palavras se propõem aos homens como coisas a decifrar" "(...) se a língua é uma ciência espontânea, obscura a si mesma e inábil - em contrapartida é aperfeiçoada pelos conhecimentos que não se podem depositar em suas palavras sem nelas deixar seu vestígio e como que o lugar vazio de seu conteúdo" "O que erige a palavra como palavra e a ergue acima dos

Dançar e Punir*

“E assim, à medida que o sol se punha, uma visão foi se impondo aos meus olhos.” Antonin Artaud Nas redes sociais as pessoas que gostam de legitimar a cultura do óbvio, da constatação, da quantidade, essas, emburreceram de vez. Jogam suas frustrações na falta de tempo para compreender a vida, naquilo que ela possa nos apresentar de novo, de desconhecido. A vida é o tempo de todas as coisas, o mais simples é o extremo, destruidor ou construtivo: arrasar ou adorar. É mais fácil primeiro adorar, depois, em outro sentido, destruir o pensamento contrário; sem se dar conta, pode-se estar cavando o próprio erro: o fim é o limite para o pensamento duro. O que vem a ser o pensamento duro, bruto? É o pensar dentro da construção cultural dual, em que existem os polos do bem e do mal. Essa religiosidade racional é parte da vida, é claro, não serei eu a refutar todas as manifestações pelo simples fato de pensar diferente. Eis a reflexão dos frágeis, pensar, refletir, o contra

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

(...) Descobri aos 13 anos que o que me dava prazer nas leituras não era a beleza das frases, mas a doença delas. Comuniquei ao Padre Ezequiel, um meu Preceptor, esse gosto esquisito. Eu pensava que fosse um sujeito escaleno. - Gostar de fazer defeitos na frase é muito saudável, o Padre me disse. Ele fez um limpamento em meus receios. O Padre falou ainda: Manoel, isso não é doença, pode muito que você carregue para o resto da vida um certo gosto por nadas… E se riu. Você não é de bugre? – ele continuou. Que sim, eu respondi. Veja que bugre só pega por desvios, não anda em estradas - Pois é nos desvios que encontra as melhores surpresas e os ariticuns maduros. Há que apenas saber errar bem o seu idioma. Esse Padre Ezequiel foi o meu primeiro professor de gramática. *Manoel de Barros

A lua e os sonhos*

Tremendo. Frio nos ossos. Entardecer róseo na alma. Fresta entre os dois mundos. O que está para além do horizonte? Vastidão do infinito. O que sempre foi e será. Mundo das possibilidades. Colcha de cristais e fios de seda. Olimpo inteiro. Planetas e Deuses. Naves espaciais e anjos. Realidades paralelas. Tremendo. Fogueira acesa. Ventos limpando arestas. Bacantes dançando à Dioniso. Lua nova plantando sonhos. Prenúncio de flores... Desejos renascendo do coração. Saturno despede da retrogradação. Todos respiram aliviados. Por enquanto, na casa do Centauro, Ele planeja uma faxina mais leve. A noite chega com céu estrelado O frio continua intenso. A fogueira esquenta a alma. E a lua nova traz fio de esperança. Para quem sabe e compreendeu! *Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica. Livre Pensadora. Juiz de Fora/JF

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