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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Esta superpotência como vida do significante produz-se na inquietação e na errância da linguagem sempre mais rica que o saber, tendo sempre movimento para ir mais longe do que a certeza pacífica e sedentária. Como dizer o que eu sei com palavras cuja significação é múltipla ?" "(..) a racionalidade do Logos pela qual a nossa escritura é responsável obedece ao princípio da descontinuidade" "O livro, semelhante a um 'quadro em movimento', só se descobre por fragmentos sucessivos" "O sonhador inventa sua própria gramática" "O ato do 'compreender', que opõe à explicação e à objetivação, tem de ser o caminho principal das ciências do espírito" "Husserl sempre acentuou a sua aversão pelo debate, pelo dilema, pela aporia, isto é, pela reflexão sobre o modo alternativo em que o filósofo, no termo de uma deliberação, pretende concluir, isto é, fechar a questão, parar a expectativa ou o olhar numa op

Auto de fé da resistência*

“Assim se explica que até nossos dias acreditem mais firmemente na existência de uma cor quimérica do que na de Deus.” Elias Canetti Canetti, nasceu na Bulgária, judeu de origem serfadita, a língua materna espanhola, teve sua formação em mais de um lugar, circulou pela Inglaterra, depois Viena e adotou o alemão para escrever. Com doutorado em Química, a escrita literária nunca foi deixada de lado, tornou-se um estudioso da psicologia. Como Otto Maria Carpeaux [1] escreveu: “Precisava-se, aliás, de um esforço de reportagem literária para identificar a personalidade desse autor esquivo.” O romance que ofuscou os nazistas, que foi destruído na época da cegueira humana, Die Blendun – que ganhou em inglês o título Auto de Fé –, abriu meus sentidos nos anos 1980. Ainda hoje, volta e meia retorno a ele, o inesperado surge nas leituras e no que separa o leitor de uma grande obra. Logo uma obra que tem o personagem que se afunda em sua erudição, na incompletude do mundo, no qu

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) Pois efetivamente existe em nossas sociedades uma 'energia negra' que escapa aos investigadores, aos 'denunciadores' fechados em suas certezas causalistas. (...) a pessoa plural, à imagem de suas múltiplas identificações, tem 'sinceridades sucessivas' e verdades provisórias" "(...) Claro, não é nenhuma novidade, mas, como em outros períodos de mutação, continuamos a analisar ou julgar os fatos sociais com critérios de outras épocas" "O filósofo americano Thoreau fala em algum momento de um quarto Estado. Ao lado da Igreja, do Estado e do povo, o estado do 'andarilho errante'. Que podemos entender através de todas essas figuras nômades que recusam a estabilidade sexual, ideológica ou profissional" "(...) a conexão social é feita mais de 'afinidades eletivas' que de contratos racionais. Ter ou não o 'feeling' será o critério essencial para julgar a qualidade de uma relação. E é ness

O novo, o velho e o paradoxo*

Gostaria de conduzir a presente reflexão a partir do título. Segundo suponho, nele está a síntese, ainda não explicada, do que vou postular a seguir. Primeiramente vamos esclarecer o novo: a Filosofia Clínica. Por que novo? Porque é uma proposta criada no fim do século XX, formulada ao longo da década de 1980, consolidada em meados da década de 1990 e estendida até hoje. Trata-se de um método cuja riqueza reside no postulado de seu caráter inacabado, continuamente se reinventando, sempre em desenvolvimento. Levando em conta que o saber da área de humanas geralmente leva tempo para se consolidar, a Filosofia Clínica é uma proposta extremamente nova. E o que é o velho? Antes de explicá-lo, gostaria de contextualizar o porquê deste termo. Comecei a cursar a Filosofia Clínica em 2010, quando estava na segunda faculdade, cursando a licenciatura em filosofia – na primeira havia cursado o bacharelado na mesma área. Quando conheci a Filosofia Clínica, a perspectiva – que se mantém

Retrato do artista quando coisa*

A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

Quero me sentir aceita, bem vinda, livre*

Tenho 50 anos, duas filhas, uma mãe velhinha, algumas rugas, três quilos acima do peso, dois procedimentos estéticos. Posso dizer que já passei por alguns relacionamentos. Chorei, sorri, apaixonei, namorei, amei, odiei, casei, separei, casei de novo, enviuvei, morei junto, morei separado, até relação homo afetiva já experimentei. Já fui ciumenta, possessiva, desconfiada, vingativa, curiosa, dependente, submissa. Em cada vinculo aprendi algo, hoje sei bem o que quero e o que esperar desta vida. Quero acordar algumas manhãs e sonolenta, de olhos ainda fechados, conversar bobagens com ele por cinco minutos antes de sair da cama. Se der tempo, ainda podemos fazer amor, como se fosse a última e única vez. Quero que ele saia com os amigos, tome cerveja, e na manhã seguinte, se estiver de ressaca, me chame, porque quer estar entre meus braços e contar que havia uma menina no bar que flertava com ele. Quero voltar para casa depois de uma noitada com as amigas, receber um beijo,

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) O tempo, como a fortuna, é inconstante, disse o revisor, consciente da estupidez da frase. Não respondeu o empregado, a mulher não respondeu, que essa é a mais prudente atitude a tomar perante as sentenças definitivas, ouvir e calar, esperando que o mesmo tempo as faça cair em pedaços, não sendo raro que as torne mais definitivas ainda, como as dos gregos e latinos, finalmente também condenadas ao esquecimento quando o tempo tiver passado todo" "Raimundo Silva aprendeu a arte de fazer flutuar ideias vagas, como nuvens que se mantém separadas, e sabe mesmo soprar qualquer uma que se aproxime demasiado, o que é preciso é que não se encostem umas às outras criando um contínuo ou, o que ainda seria pior, se há electricidade na atmosfera mental, com a resultante tormenta de coriscos e trovoada (...)" "(...) averiguar o que, não tendo nenhuma importância, deu vida, lugar e ocasião à importância que passou a ter o que dizemos ser importante"

Ser Filósofo Clínico*

                                               “Então me senti como um observador dos céus. Quando um novo planeta desliza para o seu campo de vista; ou como o resoluto Cortês, quando com olhos de águia contemplou o Pacífico, e todos os seus homens entreolharam-se com um alucinado presságio (...)”                                                                                                                       John Keats O exercício clínico do Filósofo acontece em contextos de imprecisão e descoberta. Inexistem fórmulas prontas, verdades, aconselhamentos, receitas, testes ou orientações predeterminadas. As dinâmicas de acolhimento e atenção com a vida desdobram-se no mundo como representação da pessoa. Um processo inicial de abertura anuncia a terapia. Ponto de encontro aos desdobramentos do papel existencial cuidador. A fundamentação teórica é consequência aproximada de 2.500 anos de Filosofia. A fundamentação prática descortina-se nos eventos de consultório. Propor

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"A gente paga caro por ser imortal: morre-se mais de uma vez durante a vida por causa disso" "Nós, os novos, os sem-nome, os difíceis de serem entendidos, nós, os filhos prematuros de um futuro ainda não demonstrado (...)"    "(...) tudo aquilo que é decisivo nasce 'apesar de tudo'" "(...) um espírito que se tornou livre, que voltou a tomar posse de si mesmo" "No fim das contas ninguém pode captar nas coisas, incluídos os livros, mais do que ele mesmo já sabe. Para aquilo que a gente não alcança através da vivência, a gente também não tem ouvidos" "Não é a dúvida, é a certeza que enlouquece. Mas para isso a gente tem de ser profundo, tem de ser abismo, tem de ser filósofo para sentir assim (...)" "A gente retribui mal a um professor, quando permanece sendo sempre apenas seu aluno" "As palavras mais calmas são aquelas que trazem a tempestade, pensamentos que se aproximam e

A palavra e o poema*

Palavras são apenas palavras para quem não sabe ler, para quem não sabe ouvir, para quem não sabe sentir, por exemplo, que há poesia em tudo e quando não inspira, ensina demais. A poesia sempre pode nos transformar e é você quem escolhe se será por dor ou por amor. Mas, se palavras fossem apenas palavras e nada mais, não haveriam escrituras, nem contratos, nem constituições inteiras e, pior ainda, não haveriam nos contatos humanos nem entendimentos, nem acordos, nem abraços, nem mesmo a poesia. Porventura, as palavras são a expressão das impressões, dos sentimentos, da consciência; são de forma pujante a expressão da vida. Afinal, a arte imita a vida e é por isso que as palavras pulsam tanto aqui e agora sempre em forma de poemas provocados por você. Musa! *Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Filósofo Clínico. Educador. Escritor. Livre Pensador. Uberlândia/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Era eu um poeta estimulado pela filosofia e não um filósofo com faculdades poéticas. Gostava de admirar a beleza das coisas, descobrir no imperceptível, através do diminuto, a alma poética do universo"  "(...) a poesia é espanto, admiração, como de um ser tombado dos céus, a tomar plena consciência de sua queda, atônito diante das coisas" "Há entre mim e o mundo uma névoa que impede que eu veja as coisas como verdadeiramente são - como são para os outros" "Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente (...)" "Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (...) Desde que me conheço como sendo aquilo a que chamo eu, me lembro de precisar mentalmente, em figura, movimentos, caráter e história, várias figuras irreais que eram para mim tão visíveis e minhas como as c

Poética*

Poesi a: procura de um agora e de um aqui.”                      Octavio Paz A poesia é o rastro da vida. O rastro de uma explosão no universo que estilhaça em milhões de objetos, imagens, que nem todas as línguas conseguem dar conta. Mas o fato de o signo estar colado no que existe, da nuvem de linguagens, certamente é o que consegue ver além do olhar preso na realidade. Caminhos que perdemos podem ser um leve encontro poético mediado por signos e objetos. Quem um dia atravessou, quem passou por estradas, ruas, águas e o mais distante nas alturas, pensou na construção de suas emoções? Nem tudo é poesia na vida, mas a poética está em todos os lugares. O fato de existir narrativas sobre todas as coisas não significa que daí há poesia, mas a poesia está nela, na narrativa que diante da linguagem se faz o poético mais oculto ou mais límpido aos olhos. Temos depois o processo da leitura da vida: o entendimento da vida nem sempre é poético mas a beleza da forma deixa o

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