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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Há dois tipos de gênio: o que antes de tudo fecunda e quer fecundar, e o que prefere ser fertilizado e dar à luz" "(...) todos grandes descobridores no terreno do sublime (...) com misteriosos acessos a tudo que seduz, atrai, compele, transtorna, inimigos natos da lógica e da linha reta, cobiçosos do que seja estranho, exótico, enorme, torto, contraditório (...)" "Todos os deuses até aqui não foram demônios rebatizados e santificados?" "É difícil aprender o que é um filósofo, porque isso não se pode ensinar (...)" "(...) tudo o que ergue o indivíduo acima do rebanho e infunde temor ao próximo é doravante apelidado de mau; a mentalidade modesta, equânime, submissa, igualitária, a mediocridade dos desejos obtêm fama e honra morais" "O que se faz por amor sempre acontece além do bem e do mal" "O que fazemos em sonhos, fazemos acordados: inventamos e construímos a pessoa com quem lidamos - para e

Desideias*

Só o meu é o caminho do meio. Já que só a mim me vejo ali. Nem a direita, ou a esquerda, ou ao alto, ou abaixo, outrem vejo eu... O caminho do meio é ermo. Nem o tabaco de Buko, nem o legado de Buda. É caminho que não se trilha trilha que não se abriu... nem os bebês cor de rosa nem as rosas do tango cálido! Melancólico até é e não... Já que aporta minha alegria caduca de quem está cabeluda de saber que não se tem mais a se tirar do mundo, por ninguém que esteja vivo, pisando sobre o planeta... É solitário, mas não é só - ou o contrário, sei lá... Tem a sombra amiga e perigosa das minhas convicções nada inflexíveis, no entanto fartas de conhecer que não há grande margem pra mudar segundo se pensa dos outros lados onde transitam os demasiado crédulos, que se dão ao desfrute da demasiada ilusão! O verdadeiro caminho do meio, não aporta o equilíbrio dos buscadores, nem a descompensação dos viciados... Distingue-se diametralmente desse outro de

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Terreno da liberdade, a crônica é também o gênero da mestiçagem. Haverá algo mais indicativo do que é o Brasil ? País de amplas e desordenadas fronteiras, grande complexo de raças, crenças e culturas, nós também, brasileiros, vacilamos todo o tempo entre o ser e o não ser. Somos um país que se desmente, que se contradiz e que se ultrapassa. Um país no qual é cada vez mais difícil responder à mais elementar das perguntas: Quem sou eu?" "Para Mário (de Andrade), a lei moral do artista digno era 'se realizar cada vez melhor em sua personalidade'. Ser simples, ou ser confuso, é uma consequência, não uma escolha"   "Escreveu Marina Tsvetaeva: 'A poesia é a língua dos deuses. O deuses não falam, os poetas falam por eles'. Via também os poetas como seres errantes, em eterno exílio, já que procederiam do Reino Celeste e estariam perdidos na Terra" "A literatura é um poço profundo, em que o chão nos escapa. Uma vez em seu inte

O leitor do século XXI consegue ser sartreano?*

“Eu queria que, ao renunciar à torre de marfim, o mundo me aparecesse em sua plena e ameaçadora realidade, mas não quero que, por isso, minha vida deixe de ser um jogo. Por isso endosso inteiramente a frase de Schiller: ‘O homem só é plenamente homem quando joga’.”                                     Jean-Paul Sartre (Diário de uma guerra estranha – Caderno XIV – 1940) “Se é verdade que apenas podemos viver uma pequena parte daquilo que há dentro de nós, o que acontece com o resto?”                                                          Pascal Mercier (Trem Noturno para Lisboa) Quais os olhares que existem sobre o Jean-Paul Sartre no século XXI, de que forma o l’adulte terrible é visto hoje, existe espaço para o homem sartreano neste século? Me vem essas questões quando busco uma de sua obras que mais admiro, O ser e o nada. Há uma pertinência na leitura histórica dos festejados filósofos do século passado, não sou adepto ao modismo, pelo simples fato, a afetação beir

Retrato do artista quando coisa*

A maior riqueza do homem é sua incompletude. Nesse ponto sou abastado. Palavras que me aceitam como sou — eu não aceito. Não aguento ser apenas um sujeito que abre portas, que puxa válvulas, que olha o relógio, que compra pão às 6 da tarde, que vai lá fora, que aponta lápis, que vê a uva etc. etc. Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem usando borboletas. *Manoel de Barros

Filosofia Clínica e alguns desafios ao cuidado de si e dos outros*

“Parece-me que a aposta, o desafio que toda história do pensamento deve suscitar, está precisamente em apreender o momento em que um fenômeno cultural, de dimensão determinada, pode efetivamente constituir, na história do pensamento, um momento decisivo no qual se acha comprometido até mesmo nosso modo de ser de sujeito moderno.” (Michel Foucault, A Hermenêutica do Sujeito, 2006, p. 13) Ao abordar o cuidado de si, Foucault ressalta tratar-se de um fenômeno cultural que surge num determinado contexto e estende-se por um período também determinado caracterizando a filosofia antiga como “preceito de vida”, i. é, uma vida filosófica implica não somente o conhecimento de si, mas antes e principalmente o “cuidado de si”. Torna-se fundamental apreender, ou seja, “assimilar mentalmente, abarcar com profundidade, compreender, captar”, esse fenômeno para que se possa dimensionar sua importância e o seu impacto na história de vida das pessoas e da sociedade. O cuidado de si, como fenô

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Queremos ao menos uma vez chegar no lugar em que já estamos" "Citando Humboldt: 'Apreendida em sua verdadeira essência, a linguagem é algo consistente e, a cada instante, transitória. Mesmo a sua preservação na escrita é sempre uma preservação incompleta, mumificada, mas necessária quando se busca tornar perceptível a vida de seu pronunciamento" "A linguagem é, na verdade, o eterno trabalho do espírito de tornar a articulação sonora capaz de exprimir o pensamento (...)" "(...) o poder suave da simplicidade de um saber escutar" "Pensando a proximidade, anuncia-se a distância" "Os trechos nos quais e com os quais medimos a proximidade e a distância como intervalos constituem a sequência de agoras, ou seja, o tempo" "(...) uma coisa, chamada palavra, confere ser a uma outra coisa" "Falamos da linguagem dando sempre a impressão de estarmos falando sobre a linguagem quando, na ve

As dores e suas réguas*

As recepções de hospitais costumam exibir um cartaz que informa o nível de prioridade no atendimento aos pacientes. É uma espécie de tabela de risco, com cinco níveis, desde ‘emergência’ até ‘pouco urgente’.   O atendimento imediato, por exemplo, contempla pacientes com parada cardiorrespiratória, em estado de choque ou com perfurações e hemorragia. O nível mais brando de risco (não urgente) contempla pacientes com dor leve, escoriações e pode levar horas e horas até um enfermeiro ou médico se ocupar do problema… Já complicações de saúde como crise de asma, dor de cabeça intensa, taquicardia e dor abdominal correspondem aos níveis intermediários: muito urgente, pouco urgente e urgente. Já pensou se as dores e desconfortos emocionais também pudessem ser medidos com uma régua tão objetiva? Dor de amor: emergência. Dor de saudade: muito urgente. Dor de decepção: urgente. Dor de tédio: pouco urgente. Dor de reprovação: pouco urgente. Outro sujeito poderia apresentar tabela diversa.

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) um par de anos depois, topei com esse nome nas inesperadas páginas de De Quincey, onde se refere a um teólogo alemão que, em princípios do século XVII, descreveu a imaginária comunidade da Rosa-Cruz - que outros fundaram mais tarde, à semelhança da que ele preconcebera (...)"  "(...) em vida padeceu de irrealidade (...)" "Todo estado mental é irredutível: o mero fato de nomeá-lo - de classificá-lo - implica um falseamento" "São numerosos os sistemas incríveis, mas de arquitetura agradável ou de caráter sensacional. Os metafísicos de Tlon não buscam a verdade nem sequer a verossimilhança: buscam o assombro. Julgam que a metafísica é um ramo da literatura fantástica" "A base da geometria visual é a superfície, não o ponto. Esta geometria desconhece as paralelas e declara que o homem que se desloca modifica as formas que o circundam" "Um livro que não inclua seu contralivro é considerado incompleto"

A escuta das palavras*

                                            A palavra, em deslocamento por seus muitos territórios, também busca uma legibilidade para sua escuta escutando-se. Aptidão rara em meio as ditaduras da semiose verbal. Ao conviver sempre no mesmo lugar, ainda que em línguas diferentes, é excepcional vivenciar as dialéticas da aventura.       Em um mundo apropriadamente imperfeito, pode ser indizível, ao dicionário conhecido, encontrar o melhor para si. Essa suspeita se insinua nas possibilidades do instante perfeito nas entrelinhas da imperfeição. Essa transgressão da zona areia movediça de conforto existencial, se aproxima de um mundo razoável e suas contradições. Assim pode acolher e dialogar com a mutante medida de todas as coisas em cada um.      Ao destacar o viés dessas poéticas da irreflexão, se esboça uma negação de que tudo já foi dito, pensado, tentado. Nele um espaço desconhecido se abre como proposta. Talvez a escola, ao ensinar a ler e escrever, também pudesse in

Motivo*

Eu canto porque o instante existe e a minha vida está completa. Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. Irmão das coisas fugidias, não sinto gozo nem tormento. Atravesso noites e dias no vento. Se desmorono ou se edifico, se permaneço ou me desfaço, — não sei, não sei. Não sei se fico ou passo. Sei que canto. E a canção é tudo. Tem sangue eterno a asa ritmada. E um dia sei que estarei mudo: — mais nada. *Cecília Meirelles

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) um mundo de 'realidades múltiplas', causa e efeito da intersubjetividade" "O filósofo americano Thoreau fala em algum momento de um quarto Estado. Ao lado da Igreja, do Estado e do povo, o estado do 'andarilho errante'. Que podemos entender através de todas essas figuras nômades que recusam a estabilidade sexual, ideológica, profissional"  "A escolástica tem medo da vida. E toma a si a missão de inculcar por todos os meios esse temor" "(...) esse conhecimento glacial da ciência oficial se arvora de ser normativo e judicativo. Atitudes pretensiosas, vãs e que perderam o contato precisamente com aquilo que explicam" "(...) a conexão social é feita mais de 'afinidades eletivas' que de contratos racionais. Ter ou não o 'feeling' será o critério essencial para julgar a qualidade de uma relação. E é nesse aspecto no mínimo evanescente que repousará sua durabilidade" "O gênio

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