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Revista da Casa da Filosofia Clínica Inverno 2022 - Ed. 01

[LEIA AQUI] A ideia aqui é compartilhar um material de qualidade para consulta aos estudiosos e demais interessados na nova abordagem terapêutica. Na mesma direção, destacar a juventude e o frescor da escrita da Filosofia Clínica, a qual se encontra em pleno desenvolvimento bibliográfico. A todo uma excelente leitura! CLIQUE PARA LER

Freios existenciais*

  Quando você for à bela cidade de Dourados, interior do Mato Grosso do Sul, observe que ela não possui subidas e descidas. Tudo é plano, tudo é povoado de planícies, poucos prédios, bicicletas por todo lado, árvores. Caso comprasse algum patinete para transitar pela região, provavelmente não seria necessário que tivesse um daqueles freios de mão. Para quê? Em lugares assim, a gravidade é o melhor e o mais suave freio ao embalo macio que traciona as rodinhas delicadas do patinete. No entanto, há modelos importados que já trazem o freio, modulado por um cabo, que naturalmente faz parecer necessária esta peça acoplada ao veículo. Acredito que alguns ficariam surpresos se soubessem que um patinete não precisa de freios. Talvez não comprassem, talvez devolvessem achando que tivesse um defeito. Lembro disso quando encontro seguidamente no consultório pessoas cujas construções semânticas, sintáticas, gramaticais trazem freios embutidos que não são necessários por aquilo que elas estão

Os filósofos na filosofia clínica*

Uma das diferenças entre a sistematização da filosofia clínica em relação às outras abordagens terapêuticas ocorre no modo em que os teóricos foram aproveitados nessa elaboração. A filosofia clínica não construiu uma teoria sobre o ser humano. Desse modo, Kant, Platão, Hume, Searle, Wittgenstein, Schopenhauer, entre inúmeros outros, não serviram para dizer quem é aquela pessoa que o filósofo clínico recebe em seu consultório. As reflexões dos filósofos foram aproveitadas na medida em que auxiliaram na construção de um meio para compreender as possibilidades de ser de cada pessoa, seu modo de agir e seu mundo. Nesse sentido, um partilhante pode apresentar em sua estrutura de pensamento características formalizadas na filosofia clínica por filósofos ou correntes filosóficas até opostas. Além disso, nem mesmo o sistematizador da filosofia clínica, Lúcio Packter, deve servir como critério para compreender quem está no consultório. Na psicanálise, por exemplo, é Freud quem dá as prime

Notas para una psicopolítica alternativa***

1. La ambivalencia de nuestra coyuntura psicosomática se encarna en la porosidad de una crisis anímica colectiva: el deterioro emocional de nuestras vidas precarias, agravado durante la pandemia, viene operando a su vez como punto de partida de “nuevos activismos psicopolíticos” y de iniciativas de “salud mental desde abajo”. Hoy el problema político es si delegamos la gestión de la crisis en el estado, la industria farmacéutica y el lenguaje progresista de las políticas desde arriba; o por el contrario, podemos resignificar y reapropiarnos de la crisis anímica desde abajo, redirigiendo las dinámicas de investigación y politización colectiva contra las causas estructurales del sistema productor de malestares. Animado por estos desafíos, releo dos libros antagónicos: Psicopolitica de Byung Chul Han (Herder) y Una lectura feminista de la deuda de Verónica Gago y Luci Cavallero (Tinta Limón). Leo de forma fragmentaria y dispersa, pero las resonancias militantes movilizan cierto deseo

Nota Dez*

  Dez foram os encontros, dez as oportunidades de ampliar mundos e nos fazer um pouco mais presentes. Aguçamos leituras de contextos, exercitamos formas outras de estar, sem deixar de ser.   Individualidades oceânicas espraiaram-se generosamente na vazão coletiva de fazer e aprender juntos. Respeitamos tempos, espaços e comandos. De bom grado, em confiantes acordos tácitos.    Com a entrega ao processo, ondas desaguaram na gente, ora como tormenta, ora como calmaria. Incomodados ou fascinados, nunca indiferentes. Soubemos não só sobreviver como tirar proveito da travessia.   Ingressei buscando maior materialidade, canalização corporal (sensorial) às abstrações que me são próprias. Meu corpo, tolhido e tiranizado em tempos de exceção, farto de tamanhas contenções, clamava por expressão, toque, contato, chão.   Pina Bausch, em meio a padrões de repetição, destamponou o mote do movimento. O grito contido que libera a ação. O salto felino que liga a terra ao céu.   Jerzy Grot

El instante aprendiz*

Traducción:  Prof. Dra. Arantxa Serantes   Al esbozar apuntes sobre una lógica de la locura, un envés del absurdo se desvela en astillas de múltiples caras. Frontera donde la normalidad se reconoce en sus paradojas. Una de las características de la expresividad delirante es ensimismarse en desacuerdo con el mundo alrededor. Crea dialectos de difícil acceso para proteger sus versiones de mayor intimidad. El papel de la Filosofía Clínica en la intersección con la crisis inmediata también es presentación indeterminada en un proceso caracterizado por la exageración de la manifestación del que comparte. Un no saber vehicula provisionales verdades en el compartir deconstructivo de las sesiones. Representaciones existenciales difusas se alternan en narrativas del tiempo de la persona. El lenguaje de la locura se constituye en un conjunto de convivencias estúpidas. El punto de partida es la extraordinaria lengua de la persona estructurada en alguna forma caótica. Ernst Cassirer refiere

Apontamentos sobre a lógica dos excessos*

A descrição da loucura, como um fenômeno errático na relação com a realidade consensual, contribui para revelar sua face de cara-metade. Longe de integrar um constructo único e coerente, desdobra-se na pluralidade das perspectivas entreabertas.    É improvável que a verdade delirante se estruture em um lugar onde as experiências concretas não exerçam influência. Como anfitriã, aprecia acolher os ditos da normalidade, ainda quando essa lhe propõe alguma forma de distorção. Uma e outra referem vestígios de intimidade. O tempo subjetivo dos devaneios intervém no espetáculo da realidade. Enquanto o louco é capaz de simular ditos razoáveis, a pessoa normal também pode expressar acessos de insanidade. As diferenças parecem estar relacionadas aos conteúdos, significados e distanciamento de alguma tradução. Na perspectiva de cada um, a vida se apresenta como um devir singular. Mesmo quando experiencia seus dias como se todos falassem a mesma língua. Umberto Eco, em uma estética dos vis

Um olhar para a singularidade***

Pensar a singularidade é um exercício de ver que “A vida insinua-se de um jeito único na subjetividade de cada pessoa, lugar privilegiado para decifrar os enigmas da natureza (...)”, os enigmas de sua própria natureza, da natureza das coisas e do mundo. Aí, no fenômeno da singularidade, há espaço para o “exótico aparecimento”, quem sabe por esses caminhos possamos acessar alguma identidade, alguma integridade sobre quem somos, um pouco mais leves das bagagens impostas.   Há quem busque comparações e generalizações ao longo da vida, há quem se adapte bem a esse modo de ser e ver as coisas, de ler o mundo através de termos gerais. Há quem se sinta completa ou parcialmente preso por essas tipologias, classificações e diagnósticos e, no entanto, careça de um outro tipo de olhar, o singular, ainda ofuscado, escondido em algum recanto seu ou do mundo, e sabe que algo em si fica sem espaço para transbordar diante de uma sociedade viciada em padrões, muitas vezes camuflados em discursos sobr

Projeto Emcantar no Triângulo Mineiro*

  Essa belíssima iniciativa dos queridos e talentosos Filósofos Clínicos: Marquinhos e Maíra, vem desempenhando uma atividade de raro e destacado valor nesse país. Há cerca de 25 anos, tivemos o privilégio de ver nascer esse projeto (hoje acho que é uma organização maior). Na época, já cuidavam de mais de 1.000 crianças de escolas e bairros de periferia do triângulo mineiro (Uberlândia, Uberaba, Araguari), oferecendo cantorias, teatro, dança... como forma de acolhimento e partilha de bem estar e busca por vida melhor. Um exemplo para os dias de hoje e sempre! Coordenação Visite o site e conheça mais:  EMCANTAR Cia Cultural | Brasil

Nós das circunstâncias*

    A forte e familiar sensação de ser vida analisada (refletida, ponderada) mais que abraçar e acolher, viver a fundamentação da Filosofia Clínica, me acompanha. A questão da prática se insere nos muitos aprimoramentos das imbricações trágico-cômicas da poética do existir, onde se entrelaçam: fazer e pensar, para ser! Sentir na pele o peso, a leveza e a neutralidade dos dias... Observar o que nos diz o reflexo da nossa imagem no espelho... Escutar com todos os poros... Sustentar o olhar...   O que vemos segue a passagem meramente cronológica do tempo – onde segundos convertem-se em minutos, horas, dias, semanas, meses, anos – ou engloba também o tempo sentido, que nos coloca como resultado e resultante dos significados que estabelecemos nessa trajetória? Qual nosso nível de intimidade ao nos relacionarmos com a vida: história, natureza, conosco e os demais (incluindo as organizações que integramos)?   Protágoras e Schopenhauer ditam para a Filosofia Clínica que a medida das

Casa da Filosofia Clínica, de Porto Alegre (RS), concede ao filósofo clínico Beto Colombo o título de “Doutor Honoris Causa”. *

Catarinense de Criciúma (SC), Beto Colombo foi homenageado pela entidade por seus relevantes estudos em filosofia clínica nas organizações.   Há dez anos, Beto Colombo levou os métodos da filosofia clínica – até então voltada exclusivamente ao atendimento em consultórios – para dentro das empresas, criando assim o que hoje se conhece como Filosofia Clínica nas Organizações.   O filósofo atende empresas em processo de sucessão e também analisa a cultura organizacional a fim de identificar a estrutura de pensamento das empresas, chegando ao que ele denominou de a Alma da Empresa, título de seu livro em parceria com o filósofo clínico Rosemiro Sefstrom, lançado em 2016 e que ganhou uma edição bilíngue (português-espanhol) no final de 2019, ambos publicados pela Dois Por Quatro Editora, de Florianópolis. Além de ter escrito diversos livros voltados à gestão e à filosofia, Colombo foi um dos fundadores do Instituto Sul Catarinense de Filosofia Clínica e atualmente coordena o curso de

Startups da alma*

“Dedicatória: Me ame, ame meu guarda-chuva.” James Joyce   Nota significativa para quem se sente feliz no seu canto, para quem tem um refúgio para a alma, para suas incongruentes manias de viver, de poder se sentir bem num canto, mesmo que seja na parte mínima de um lugar pequeno chamado casa. Um lugar que se transforma em espaço infinito, onde se pode sentir a liberdade de estar só. A tarde que esfria, o sol recolhe o calor externo, sozinho se pode vislumbrar a solidão do seu lado mais poético, às vezes assusta o instante em que aparece na casa do seu Ser. Parecendo filme, livro, uma viagem que se torna tão real que já não distingue se um dia saiu de seu canto do pensar sobre algo, ou se realmente existe base para conectar a leitura de um livro, a audição de uma música com o filme que está na memória e foi assistido há um tempo, e se tudo isso faz parte da realidade ou é mera participação do voo do inconsciente que se lança para diante do corpo. E se tudo isso era só um luga

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