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O que fazer ?*

 

Se, após apresentar os problemas de uma época, região, comunidade etc., perguntarem a um filósofo clínico o que fazer diante dessa situação, a única coisa que seu método lhe permite dizer é: não sei.    

É uma máxima socrática que, sem os elementos de ironia, o filósofo clínico é apto a utilizar em situações nas quais não houve a investigação que o método exige, a saber:

1) Exames Categoriais: reconhecer as características do mundo no qual a pessoa habita, contada e vivenciada por ela mesma.

2) Estrutura de Pensamento: compreender os elementos que habitam a pessoa - emoções, o que pensa sobre si, como vê o mundo, valores etc. - e como é o peso subjetivo e a interseção entre eles.

3) Submodos: como a pessoa viabiliza sua Estrutura de Pensamento, quais os meios utilizados por cada pessoa para lidar com o mundo, seus conflitos internos e/ou externos etc.

Somente após um criterioso e profundo trabalho de escuta, percepção, sensibilidade etc. é que o filósofo clínico pode dizer alguma coisa. Mesmo assim, não se trata de um dizer algo exato. Trabalhamos com aproximações, uma vez que não pretendemos ser os detentores absolutos do saber a respeito do outro.

O filósofo clínico pode trabalhar com indivíduos, grupos, empresas etc. Com os indivíduos o critério maior da filosofia clínica, a saber, a radicalidade da noção de singularidade, é claramente visualizado. Com grupos, há uma Estrutura de Pensamento presente na empresa, os princípios de verdade da mesma, e cada indivíduo que a compõe.

Para responder às questões surgidas nesses âmbitos, do individual ao grupal, os critérios são os mesmos. Se em algum momento a filosofia clínica perder seu critério, radicalizado, da singularidade, sua razão de ser se perde.

O filósofo clínico é aquele que confessa sua ignorância diante das pessoas a respeito das quais não sabe nada. E continua a manter seu papel existencial de aprendiz ao reconhecer que, por mais criterioso que seja ao aplicar o método da Filosofia Clínica, seu conhecimento do outro se dá por aproximação. Uma aproximação que lhe dá a possibilidade de realizar uma excelente terapia, permanecendo uma aproximação. 

*Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo.

Filósofo. Escritor. Filósofo Clínico. Professor Titular de Filosofia Clínica em Chapecó/SC e Porto Alegre/RS. Em 2019 o Conselho da Casa da Filosofia Clínica lhe concedeu o título de doutoramento “Honoris Causa”, pelas relevantes contribuições prestadas ao novo paradigma.

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