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Roupas velhas, vida nova*

Quando a dor impede dormir e se resolve a escrever pouquinho, pode-se chegar a uma tentativa de regeneração. Falam sobre reinventar. Revi essa palavra num cartão com a linda fênix de fogo subindo ao céu.... Sim, se pode reescrever o passado. A tentativa de ser outra pessoa persiste. Afinal, Por todos os lados se propaga a famigerada correção. O passado que nos fez ser quem somos! Para deixarmos de sê-lo há que se resignificar vivências, memórias e valores, embora estes estejam mais próximos ao essencial e ao presente... ou estariam ancorados em eventos mudos para o dia de hoje? Procura-se a chave da prisão da casa-corpo. Procura-se a vida nas dimensões sutis quando a matéria é campo minado. Os alunos percebem que além da letra há o intertexto, o contexto, a intenção, a entonação e a falácia. Os mundos dentro de mundos sugam para o interior do redemoinho o espírito indócil. Fatalmente, as roupas velhas, ainda no corpo, já não servem mais. *Vânia Dantas Filósofa

Uma noite*

o tio cuspia pardais de cinco em cinco minutos. esta grama de lágrimas forrando a alma inteira (conforme se diz da jaula de nervos) recebe os macios passos de toda a família na casa evaporada mais os vazios passos de ela própria menina. a avó puxava linhas de cor de dentro dos olhos. uma gritaria de primos e bruxas escalava o vento escalpelava a tempestade pedaços de romã podre no bolor e charco do tanque. o pai conduzia a festa como um barqueiro puxando peixes mortos nós os irmãos jogávamos no fogo dentaduras pétalas tranças fotografias cuspes aniversários e sempre uma canção só cal e ossos a mãe de nuvem parindo orquídeas no cimento. * Afonso Henriques Neto

A palavra território*

Existe um lugar_esconderijo diante de cada possibilidade. Nele as singularidades deixam entrever vontades, ensaios, buscas. Com os termos agendados descrevem um ser determinado. Desse endereço de onde exercita-se existencialmente, a pessoa elabora rituais, se apropria de atitudes, pensamentos, indica regiões da subjetividade, propõe uma gerencia para manutenção de seu entorno.   Ao localizar existencialmente esse vislumbre de um chão por traduzir, o sujeito, em seus desdobramentos cotidianos, refere a expressividade como chave de acesso à essa intimidade, nem sempre acessível diretamente. Seu teor concede a duração possível para ser esboço. As possibilidades da linguagem derivam do contexto onde a pessoa vivencia seus dias e noites.  Nessa geografia, impregnada de eventos nem sempre localizáveis, é possível visualizar fronteiras, descobrir um continente a se mover. Assim a realidade se institui, significa-se, desdobra-se em deslocamentos imprevisíveis. Seu aparecer inédito,

Bem no fundo*

No fundo, no fundo, bem lá no fundo, a gente gostaria de ver nossos problemas resolvidos por decreto a partir desta data, aquela mágoa sem remédio é considerada nula e sobre ela — silêncio perpétuo extinto por lei todo o remorso, maldito seja quem olhar pra trás, lá pra trás não há nada, e nada mais mas problemas não se resolvem, problemas têm família grande, e aos domingos saem todos a passear o problema, sua senhora e outros pequenos probleminhas. *Paulo Leminski

Num passe de mágica*

Amar nos ajuda a compreender palavras e silêncios; momentos e atitudes. E isso, nos convoca a perceber que por teimosia da precariedade da observação, às vezes, podemos dar passos dissonantes, mesmo estando dentro de caminhos repletos de boas consonantes, que surgiram tão somente para nos promover e libertar. E podemos sim, deixar passar ou abraçar oportunidades que nunca virão ao acaso nos convidando à transcendência ora lado a lado, ora a quatro mãos. Porventura, o mais sábio a fazer possa mesmo ser começar agora, de onde estivermos, na condição que estivermos, simplesmente fazendo o melhor que pudermos, sem desmerecer o cuidado com o nosso coração para que o amor e a paz nos faça transbordar e florescer em dias lindos. Na verdade, quando transcendemos pelo menos uma vez, instantaneamente, como num passe de mágica, percebemos que julgar o outro nunca o definirá, mas sempre servirá para revelar a verdadeira face do opressor. Enfim, um grande segredo para sermos felizes, condiz co

Fenomenologia de fragmentos*

“A utopia é o campo do desejo, diante da Política, que é o campo da necessidade.” Roland Barthes A irreverência de Nietzsche, em fazer a transvaloração de todos os valores levou o filósofo a transbordar o século XX com aforismos, e um estilo de pensar sem as rédeas da cavalaria oficial do pensamento racionalista. A idiossincrasia do pensador, dado à polêmicas, foi o que estigmatizou-o, porém seu estilo é uma nova forma de pensar a realidade. Atrevidamente sempre atentou contra a moral. No Crepúsculo dos Ídolos, o pensador ataca: "Se nós, os imoralistas, causamos dano à virtude? Tanto quanto os anarquistas o fazem aos príncipes. Só depois que se atira contra eles é que eles voltam a estar firmemente assentados em seu trono. Moral da história: é preciso atirar contra a moral." É preciso passar da lógica cartesiana, aristotélica para uma nova forma de pensar a cultura. Michel Maffesoli, herdeiro do pensamento fenomenológico e da sociologia

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