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Bernardo é quase uma árvore*

Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe E vêm pousar em seu ombro. Seu olho renova as tardes. Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho; 1 abridor de amanhecer 1 prego que farfalha 1 encolhedor de rios – e 1 esticador de horizontes. (Bernardo consegue esticar o horizonte usando três Fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.) Bernardo desregula a natureza: Seu olho aumenta o poente. (Pode um homem enriquecer a natureza com a sua Incompletude?) *Manoel de Barros

Falta de imunidade...*

Ah, como era difícil para ele amar. Calculava a sua dor antes. Antevia o fim a partir do primeiro abraço. Já havia se proposta a não amar mais. Continuava amando, porém. Era perigoso o amor para ele. É que não tinha criado autodefesas Sua alma não aprendeu imunidades Quando amava falava coisas que não imaginava que conseguiria falar algum dia. O amor fazia dele um homem confuso e incoerente. Verdadeiro e mentiroso. Sério e brincalhão ao mesmo tempo. Para conseguir dizer do jeito que amava.. Quando deixava de amar, ainda assim continuava amando. Não superava a perda, apenas se acostumava com a dor... E tomava os seus chazinhos.... *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Estudante na Casa da Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

O Herói*

"— Papai, o que é um herói? Eu pergunto porque tenho grande vontade De ser herói também ... Será que posso ser herói sem entrar numa guerra? Será que posso ser herói sem odiar os homens E sem matar alguém?" O homem que já sofrera as mais fundas angústias E as mais feias misérias Trabalhando a aridez de uma terra infecunda Para que não faltasse o pão no pequenino lar; O homem que as mais humildes ilusões perdera No seu cotidiano e ingrato labutar; Aquele homem, ao ouvir a pergunta do filho: — "Papai, o que é um herói?" Nada soube dizer, nada pôde explicar... Tomou de uma peneira E cantando saiu, outra vez, a semear! *Judas Isgorogota

Compreensão*

“O que seria a vida sem esquecimento.” Hans-Georg Gadamer Que bom envelhecer e esquecer, e que não devemos esquecer de viver, e que todo esquecimento é viver mais um pouco, é lembrar viver mais um tanto outro muito de vida. Porque viver é esquecer um pouco de tudo, é viver um tudo de nada dos poucos instantes vividos.  Viver e não deixar de sentir as imagens, de não deixar de provar o vento como se o olfato fosse um som a cruzar um eterno campo de vida, e nosso voltar para o tempo é cheirar mais um pouco do esquecido, do ar que passa sobre a cabeça. E um vasto oceano e todo movimento a desaguar na vida. E morder a vida com aquilo que o esquecer nos deixou sentir: Viver os últimos dias como se vivesse os primeiro anos de vida, viver por viver sem deixar de cuidar da vida. Viver sem as certezas da exatidão, das verdades, e sentir todas as verdades vividas nesse caminho de vida intensa. *Dr. Luis Antônio Paim Gomes Professor. Escritor. Editor Sulina.  Porto Aleg

Sonhar*

"Será que um sonho, depois de sonhado, acomodará mudanças no sonhador?", essa é uma pergunta intrigante que o protagonista do livro "Quando Nietzsche Chorou" elabora. Longe de responder ou concluir o tema, que penso ter raízes na poesia, gostaria sim perguntar mais, esquadrinhar uma série de dúvidas destinadas aos sonhadores que estão lendo essas linhas. A quem os sonhos são mais que um gosto doce ou amargo ao acordar, mas um alento na dureza dos dias. Penso que o próprio sonho, para alguns, pode ser um submodo, ou seja, uma maneira da pessoa lidar com suas questões íntimas. Ao lembrar e reviver o que foi sonhado, em alguns casos, se encerram questões existenciais, significados são atribuídos, para que a vida tome outros rumos. Mas ainda assim, o que é lembrado e o que é esquecido? Qual o sentimento que cada um traz de um sonho? O que acalenta ou o que atormenta? Como saber o universo de possibilidades em tantos infinitos particulares de quem sonha?

Pensamento vem de fora*

Pensamento vem de fora e pensa que vem de dentro, pensamento que expectora o que no meu peito penso. Pensamento a mil por hora, tormento a todo momento. Por que é que eu penso agora sem o meu consentimento? Se tudo que comemora tem o seu impedimento, se tudo aquilo que chora cresce com o seu fermento; pensamento, dê o fora, saia do meu pensamento. Pensamento, vá embora, desapareça no vento. E não jogarei sementes em cima do seu cimento.   *Arnaldo Antunes

Porque é Primavera*

Da natureza em cores e formas Do esplendor das açucenas De tantas flores De novos tempos Tantos afazeres e desfazeres Desprezamos um amor-perfeito Caminhamos por entre as flores Sem perceber o tempo Desperte minh'alma Para alcançar as rosas Sentir o vento Florescer nesse tempo *Fernanda Sena Filósofa. Filósofa Clínica. Poeta. Barbacena/MG

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