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A leitura e o amor impossível*

Eu sabia O que mais ninguém sabia Que os livros que ela lia Ela não somente lia Transformava-se nos personagens De todos os livros que lia Eu sabia, ela era ela E era todos os outros que lia E ela sorria e parecia Que olhava para longe Para um buraco sem fundo. E aconteceu que houve Um tempo muito distante Um tempo bem lá para frente Em que o tempo caducou E se dizia por aí Que ela havia caducado Enfim achara o seu amor Impossível..!! *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Especialista em Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Traduzir-se*

Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir uma parte na outra parte — que é uma questão de vida ou morte — será arte? *Ferreira Gullar

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Feitiçaria é o mundo onde as palavras têm poder. O feiticeiro fala e a palavra, sem o auxílio das mãos, realiza o que diz. Deus diz 'Paraíso!', e um jardim de delícias aparece. A bruxa diz 'Sapo!', e o príncipe se transforma em sapo. Outro é o mundo da técnica e da ciência: ali as palavras não têm poder. As palavras podem ser ditas à vontade que nada acontece" "Não gosto de conclusões. Conclusões são chaves que fecham. Cada conclusão faz parar o pensamento. Como nos livros de Agatha Christie: resolvido o crime, nada sobre em que pensar. E não adianta ler o livro de novo. Quando o pensamento aparece assassinado, pode-se ter a certeza de que o criminoso foi uma conclusão" "A ciência normal', diz T.S. Kuhn, 'não procura nem novidades de fato nem de teoria. Quando é bem-sucedida, ela não encontra novidades'" "Os poetas buscam as palavras que moram no silêncio" "Palavras de ordem não toleram as br

Fenomenologia de fragmentos*

“A utopia é o campo do desejo, diante da Política, que é o campo da necessidade.”Roland Barthes A irreverência de Nietzsche, em fazer a transvaloração de todos os valores levou o filósofo a transbordar o século XX com aforismos, e um estilo de pensar sem as rédeas da cavalaria oficial do pensamento racionalista. A idiossincrasia do pensador, dado à polêmicas, foi o que estigmatizou-o, porém seu estilo é uma nova forma de pensar a realidade. Atrevidamente sempre atentou contra a moral. No Crepúsculo dos Ídolos, o pensador ataca: "Se nós, os imoralistas, causamos dano à virtude? Tanto quanto os anarquistas o fazem aos príncipes. Só depois que se atira contra eles é que eles voltam a estar firmemente assentados em seu trono. Moral da história: é preciso atirar contra a moral." É preciso passar da lógica cartesiana, aristotélica para uma nova forma de pensar a cultura. Michel Maffesoli, herdeiro do pensamento fenomenológico e da sociologia compreensiva, f

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Existir é tão completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos, nós enlouqueceríamos" "Eu me sei assim como a larva se transmuta em crisálida: esta é minha vida entre vegetal e animal" "Lóri quis transmitir isso para Ulisses mas não tinha o dom da palavra e não podia explicar o que sentia ou o que pensava, além de que pensava quase sem palavras" "De algum modo já aprendera que cada dia nunca era comum, era sempre extraordinário. E que a ela cabia sofrer o dia ou ter prazer nele. Ela queria o prazer do extraordinário que era tão simples de encontrar nas coisas comuns: não era necessário que a coisa fosse extraordinária para que nela se sentisse o extraordinário"  "(...) viver é tão fora do comum que eu só vivo porque nasci" "(...) Agora ela está toda igual a si mesma" *Clarice Lispector in " Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres ". Ed. Rocco

A invenção da palavra*

“Eu vejo o mundo através de minhas palavras.” Carlos Nejar A textura dos dias sugere a conjugação de um andarilho com o devir das quimeras. Ao desler o mundo ao seu redor, sua maldição consiste numa percepção que se refugia na ilegibilidade. À deriva dos consensos, seu viés discursivo aprecia surgir num ponto entre um delírio e outro. Ao derivar ideias complexas de ideias complexas, afronta a sintaxe conhecida. Um teor assim mencionado, antes de permitir algum deciframento, rascunha-se num dizer impregnado de meias-verdades, subterfúgios, errâncias discursivas. Quando chega a ter definição, já é saber mumificado. Em Filosofia Clínica é comum um acolhimento compreensivo ao ser incomum. No esboço dessa linguagem que transborda, um dizer busca descrever-se. A referência indireta reverencia a vida em estado nascente. Sua verdade possui rituais de singularidade. Um discurso pessoal em territórios de intimidade. Num devir caótico, sua antevisão desestruturada aponta realid

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) Bacon: (...) o entendimento humano é como um espelho falso, que, recebendo raios de modo irregular, distorce e descolore a natureza das coisas, que se misturam à própria natureza do espelho" "Não somos a medida das coisas, mas os logrados pelas coisas. A Caverna é pessoal, uma toca fechada, isolada do mundo comum" "Samuel Johnson (...) ensinou-nos que a essência da poesia é a invenção, no sentido de descoberta" "(...) O que há de melhor e mais maduro em nós há de responder, integralmente, àquil que pretendemos enxergar" "Não temos palavra adequada para explicar Shakespeare: ele escapa a qualquer categorização disponível" "Lemos, penso eu, para sanar a solidão, embora, na prática, quanto melhor lemos, mais solitários ficamos" "Nada explica Shakespeare, e nada pode reduzi-lo a uma explicação" "Contemplamos na vasta escritura de Cervantes aquilo que já somos" "V

Limites ou horizontes?*

​- Nosso relacionamento é aberto ou fechado? - Por mim tanto faz. - Desculpa, mas para mim não é assim. Só consigo me relacionar se houver fidelidade conjugal. Relacionamento fechado. - OK, combinado.Vamos fechar, mas precisamos esclarecer algumas questões. Se meu personal trainer convidar para um café depois da aula e eu aceitar, isto é considerado infidelidade? - Claro que não. - Preciso lhe contar sobre o café? Não aconteceu nada, conversamos sobre dieta e exercícios. - A principio, não é necessário que eu saiba tudo sobre sua vida. Tudo certo querida. - Na outra semana, o personal me convida pra jantar.  Não vai rolar nada proibido, ele só quer me apresentar um programa de treinamento para a maratona de abril.  Preciso lhe contar? Você acha isto uma forma de infidelidade conjugal? - Confio em você querida, não precisa contar. - Quinze dias depois, você vai viajar e o personal me convida para assistir um filme sobre a maratona de Paris em

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