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Uma mitologia das aparências*

A notícia mais comentada no Brasil nesta segunda-feira foi um erro de goleiro num jogo de futebol. Sintoma da mais grave doença do espírito brasileiro: a ausência de desejo de compreender qualquer coisa que não seja vistosa aparência. Nossa filosofia profunda tornou-se pirrônica desde o fim do século XIX. Como os pirrônicos, recusamo-nos a procurar qualquer verdade além do que o mundo espetacular da mídia nos oferece, pois consideramos que nada é, no fundo, verdadeiramente digno, nobre ou real. Assim, tomamos a liberdade de viver como todos, sem nenhuma problematização, resolvendo tudo com "jeitinho", o que é exatamente o que faziam os pirrônicos no mundo helênico. Será essa recusa de fundamento uma consequência do positivismo de nossas classes militares e científicas do fim dos anos 1800? Será essa negação da metafísica um resultado do antiintelectualismo dos românticos franceses que influenciaram os nossos escritores desde então? Talvez nossa cabeça de ve

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) o homem experimentado é sempre o mais radicalmente não dogmático, que, precisamente por ter feito tantas experiências e aprendido graças a tanta experiência, está particularmente capacitado para voltar a fazer experiências e delas aprender" "(...) o homem compreensivo não sabe nem julga a partir de um simples estar postado frente ao outro de modo que não é afetado, mas a partir de uma pertença específica que o une com o outro, de modo que é afetado com ele e pensa com ele" "(...) o horizonte do presente está num processo de constante formação, na medida em que estamos obrigados a põe à prova constantemente todos os nossos preconceitos" "A essência da pergunta é a de abrir e manter abertas possibilidades" "O verdadeiro objeto histórico não é um objeto mas é a unidade de um e de outro, uma relação na qual permanece tanto a realidade da história como a realidade do compreender histórico" "Quando se ouve

A leitura e o amor impossível*

Eu sabia O que mais ninguém sabia Que os livros que ela lia Ela não somente lia Transformava-se nos personagens De todos os livros que lia Eu sabia, ela era ela E era todos os outros que lia E ela sorria e parecia Que olhava para longe Para um buraco sem fundo. E aconteceu que houve Um tempo muito distante Um tempo bem lá para frente Em que o tempo caducou E se dizia por aí Que ela havia caducado Enfim achara o seu amor Impossível..!! *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Especialista em Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Traduzir-se*

Uma parte de mim é todo mundo: outra parte é ninguém: fundo sem fundo. Uma parte de mim é multidão: outra parte estranheza e solidão. Uma parte de mim pesa, pondera: outra parte delira. Uma parte de mim almoça e janta: outra parte se espanta. Uma parte de mim é permanente: outra parte se sabe de repente. Uma parte de mim é só vertigem: outra parte, linguagem. Traduzir uma parte na outra parte — que é uma questão de vida ou morte — será arte? *Ferreira Gullar

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Feitiçaria é o mundo onde as palavras têm poder. O feiticeiro fala e a palavra, sem o auxílio das mãos, realiza o que diz. Deus diz 'Paraíso!', e um jardim de delícias aparece. A bruxa diz 'Sapo!', e o príncipe se transforma em sapo. Outro é o mundo da técnica e da ciência: ali as palavras não têm poder. As palavras podem ser ditas à vontade que nada acontece" "Não gosto de conclusões. Conclusões são chaves que fecham. Cada conclusão faz parar o pensamento. Como nos livros de Agatha Christie: resolvido o crime, nada sobre em que pensar. E não adianta ler o livro de novo. Quando o pensamento aparece assassinado, pode-se ter a certeza de que o criminoso foi uma conclusão" "A ciência normal', diz T.S. Kuhn, 'não procura nem novidades de fato nem de teoria. Quando é bem-sucedida, ela não encontra novidades'" "Os poetas buscam as palavras que moram no silêncio" "Palavras de ordem não toleram as br

Fenomenologia de fragmentos*

“A utopia é o campo do desejo, diante da Política, que é o campo da necessidade.”Roland Barthes A irreverência de Nietzsche, em fazer a transvaloração de todos os valores levou o filósofo a transbordar o século XX com aforismos, e um estilo de pensar sem as rédeas da cavalaria oficial do pensamento racionalista. A idiossincrasia do pensador, dado à polêmicas, foi o que estigmatizou-o, porém seu estilo é uma nova forma de pensar a realidade. Atrevidamente sempre atentou contra a moral. No Crepúsculo dos Ídolos, o pensador ataca: "Se nós, os imoralistas, causamos dano à virtude? Tanto quanto os anarquistas o fazem aos príncipes. Só depois que se atira contra eles é que eles voltam a estar firmemente assentados em seu trono. Moral da história: é preciso atirar contra a moral." É preciso passar da lógica cartesiana, aristotélica para uma nova forma de pensar a cultura. Michel Maffesoli, herdeiro do pensamento fenomenológico e da sociologia compreensiva, f

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