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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) a estupidez humana é grande, e a bondade humana não é notável" "Há entre mim e o mundo uma névoa que impede que eu veja as coisas como verdadeiramente são - como são para os outros" "Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas (...) Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada, por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço" "(...) ninguém pode esperar ser compreendido antes que os outros aprendam a língua em que fala" "Era eu um poeta estimulado pela filosofia e não um filósofo com faculdades poéticas. Gostava de admirar a beleza das coisas, descobrir no imperceptível, através do diminuto, a alma poética do universo" "Toda obra fala por si, com a voz que lhe é própria, e naquela ling

Respostas?*

Vivo a vida repleto de perguntas. Tudo é questionável, desde as coisas mais inacessíveis até as cotidianas mais banais. Gostaria, se possível, de todas as respostas. Mas, não as encontro. Quando penso nas respostas, não me refiro às diversas criadas para nos consolar com alívios. Essas encontramos aos montes. As ciências, as psicologias, as filosofias, as religiões, todas estão aí a nos proporcionar respostas para quase todas as nossas perguntas. Entretanto, o limite dessas respostas está explícito nos regionalismos. Verdades, valores, conhecimentos são todos restritos a um grupo, contexto cultural e histórico, dentre outros limites. Não há uma só resposta que valha para todas as perguntas. Acho que se houvesse, facilmente poderia ser partilhada por todos, haja vista que é uma busca que, se não geral, pelo menos se encontra num grande número de pessoas. Suspeito que a grande vitória da filosofia foi postular seus limites e contingências, mesmo depois de grandes sistemas

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O pensamento só é interessante quando é perigoso. Perigoso para a opinião consagrada e ronronante que serve de fundamento a todos esses 'pareceres especialistas' em que se refestela o poder" "São cada vez mais numerosos os que nada têm a dizer e o dizem em voz alta" "Num momento em que predomina o nomadismo existencial, a divagação intelectual deve oferecer resposta, como num eco. Antes a pergunta que a solução. A precaução, supostamente científica, deve dar lugar à audácia das ideias" "Já não se trata de ser um adulto sério e tensionado para a perfeição de um 'estado' estável, mas, pelo contrário, uma eterna criança, sempre em devir e ávida pelo que se apresenta" "O sentido para a pessoa é fornecido pela pluralidade das máscaras que a constituem, e pelo contexto no qual suas diversas máscaras poderão expressar-se" "(...) Essa polissemia repousa no fato de que o arquétipo é 'pré-substan

Domingar*

Domingar, cozinhar e meditar. Conjunção poética do existir em sintonia. Não me tirem de casa no domingo. Depois da semana toda no trabalho o domingo, para mim, é o momento de contemplar as delícias do viver. Admirar as plantas, cuidar da casa, tomar café com calma lendo o jornal e na cozinha meditar e refletir no silêncio. O picar os legumes e verduras, sem pressa. O afogar a cebola e alho sentindo o aroma ressaltar em festa. Preparar o prato para ser degustado por todos acende a alma. Coisas simples fazem a diferença. Domingar em meditação, percepcionando cada detalhe, cada sabor, perfume na entrega descompromissada, sem relógio nem obrigações é puro gozo. A criatividade brota serena e o tempo passa devagarinho. Depois a taça de vinho e o gozo da comida feita com amor. O soninho da tarde, a leitura na poltrona gostosa, o filme no final da noite. Tudo compartilhado com carinho e ternura. Quando a alma está quieta tudo se torna um poemar. *Dra. Ro

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) os amigos da humanidade e da perfectibilidade que acreditam que o ser humano almeja a felicidade e a vantagem, quando na verdade ele também anseia por sofrimento, essa única fonte de conhecimento, e não deseja o palácio de cristal e o formigueiro da perfeição social, jamais abrindo mão da destruição e do caos" "Finalmente, há ainda coisas que o homem tem vergonha de revelar a si mesmo, e cada indivíduo vai colecionando uma quantidade bastante grande dessas coisas. Sim, podemos até dizer que, quanto mais correta for uma pessoa, maior será o número dessas coisas" "(...) certas conquistas da alma e do conhecimento não podem existir sem a doença, a loucura, o crime intelectual" "(...) a obra do gênio doente, elevando, prosseguindo, transformando, legando-a para a cultura que não vive apenas do pão ordinário da saúde"  "(...) aquilo que resulta da doença é mais importante e estimulante para a vida e sua evolução do que

Arte de ampliar horizontes*

É a arte e não a história a mestra da existência, assim entende Fernando Pessoa. Através da arte é que advêm as manifestações mais densas do indivíduo. É a edificação de uma ponte que vai de um para o outro, encontrando a essência do outro, que se desvela em identidade singular. O contágio propiciado pela afirmação deste diálogo é o fator que alarga a existência, caracteriza o gênio, expande as ideias, como profere Kant. A ressonância criada pelo instrumento que é a arte é o que constitui a história sensível, diversa daquela composta para servir de “exemplo”, agindo como castradora, embotando os indivíduos. Respiramos uma era de transformações, de rupturas paradigmáticas que exigem novos olhares. É chegado o instante de reconsiderarmos nossas prioridades. O indivíduo que abre mão da magia da arte para influenciar no seu destino, não anseia em ultrapassar suas sânies, está condenado a não ver além, originando como consequência primeva a servidão. Ansiamos por um novo mod

O apanhador de desperdícios*

Uso a palavra para compor meus silêncios. Não gosto das palavras fatigadas de informar. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão tipo água pedra sapo. Entendo bem o sotaque das águas Dou respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes. Prezo insetos mais que aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais que a dos mísseis. Tenho em mim um atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. Tenho abundância de ser feliz por isso. Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: Amo os restos como as boas moscas. Queria que a minha voz tivesse um formato de canto. Porque eu não sou da informática: eu sou da invencionática. Só uso a palavra para compor meus silêncios. *Manoel de Barros

Colcha de retalhos*

Desenrolava O novelo de lã Na varanda De sua morada. Tricotava Sua vida Entre os nós Que fazia E em cada retalho Que juntava Ainda lembrava De quanto amara... E no embalo Da rede Do seu coração Costurava Suas saudades Entrelaçava Suas lembranças E de ponto Em ponto Se construía Numa colcha De retalhos... *José Mayer Filósofo. Poeta. Livreiro. Especialista em Filosofia Clínica. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes***

"O poema, ser de palavras, vai além das palavras e a história não esgota o sentido do poema; mas o poema não teria sentido - e nem sequer existência - sem a historia, sem a comunidade que o alimenta e à qual alimenta" "A palavra poética jamais e completamente deste mundo: sempre nos leva mais além, a outras terras, a outros céus, a outras verdades" "Condenado a viver no subsolo da história, a solidão define o poeta moderno. Embora nenhum decreto o obrigue a deixar sua terra, é um desterrado" "O programa surrealista - transformar a vida em poesia e operar assim uma revolução decisiva nos espíritos, nos costumes e na vida social" "(...) a experiência poética é um estado de exceção (...)" "A contradição do diálogo consiste em que cada um fala consigo mesmo ao falar com os outros; a do monólogo em que nunca sou eu, mas outro, o que escuta o que digo a mim mesmo" "O homem é o inacabado, ainda que s

O Viajante*

“Tudo isso é a passagem aos nossos olhos. E nada disso ela foi outrora.” Walter Benjamin Um amor além desta cidade, O verão queima as casas, os telhados brilham, Um amor além deste lugar, A vida é mais que um prato à mesa, É a fome dos fantasmas que vivem nesta cidade. Um verão a mais na vida dos meus planos, Depois desta cidade não existe mais um lugar para morar sozinho. Um amor além desta cidade só com você, Lá na beira do Sena, irei plantar meu sonho, Ele nunca morreu, irei catar lixo para sobreviver de amor. Irei morar em baixo da ponte para pagar o teu doce preferido, um amor além desta cidade é preciso. Vamos envelhecer longe daqui, que ninguém nos ouça: Vamos embora quando findar o dia, o avião não espera ninguém. Partimos!   *Prof. Dr. Luis Antonio Paim Gomes Filósofo. Editor. Livre Pensador. Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) este mundo que não sou eu, e ao qual me apego tão intensamente como a mim mesmo, não passa, em certo sentido, do prolongamento de meu corpo; tenho razões para dizer que eu sou o mundo" "(...) compreender é traduzir em significações disponíveis um sentido inicialmente cativo na coisa e no mundo" "O segredo do mundo que procuramos é preciso, necessariamente, que esteja contido em meu contato com ele. De tudo o que vivo, enquanto o vivo, tenho diante de mim o sentido, sem o que não o viveria e não posso procurar nenhuma luz concernente ao mundo a não ser interrogando, explicando minha frequentação do mundo, compreendendo-a de dentro" "A literatura, a música, as paixões, mas também a experiência do mundo visível são tanto quanto a ciência de Lavoisier e de Ampére, a exploração de um invisível, consistindo ambas no desenvolvimento de um universo de ideias" "A filosofia não propõe questões e não traz as respostas que pr

Poética clandestina*

                           “A alquimia do verbo é um delírio”                                                                                                                                                                    Arthur Rimbaud                                                                                                                                                                     Uma profecia de caráter excepcional recai sobre alguns escolhidos, parecem surgir de uma cepa rara, sujeitos a descrever a saga do personagem marginal. Estruturados para surgir como transgressão, desconstroem a certeza de uma só versão para todas as coisas.     A atitude inesperada de toda razão oferece uma perspectiva plural na forma de poesia, filosofia, arte, subversão estética ao mundo instituído. No caso da inquietude filosófica, antes de virar comentário ou técnica acadêmica, é a concepção do eu como outros, reapresentada na inspiração libertária dos movimentos da irre

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