Pular para o conteúdo principal

Postagens

Fragmentos Filosóficos, Literários e algo mais*

"(...) mostrar como é precário e sujeito a erros o conhecimento que o homem pode ter de outros homens e como, por isso mesmo, seu juízo moral é insuficiente e frequentemente equivocado" "Só estando eximido dos condicionamentos humanos de tempo e lugar é que se pode perceber a equivalência profunda e essencial entre tudo o que existe" "(...) O incompreensível - o infinito - nos rodeia, e no entanto existe" "O homem precisa de certezas. Pode encontrá-las na ciência ? Por certo que não, já que cada avanço científico mostra os erros e as lacunas em que a sociedade viveu até então (...) os limites da realidade são elásticos (...) a realidade cresce a cada dia, à mercê da ciência, no distante (graças ao telescópio) e no próximo (graças ao microscópio)" "Observar o mundo é descobrir abismos" "Nesse mundo, o homem nasce bom e a sociedade se encarrega de piorá-lo com suas instituições desumanas e sujeitas a erros&qu

O papel do filósofo clínico*

Uma pessoa do senso comum e até especialista em alguma área, como a de humanas e terapêuticas, pode pensar no papel do filósofo clínico de modo bem controverso. Em primeiro lugar por não conseguir compreender a junção de duas palavras opostas em seu sentido usual, uma vez que filosofia conota algo teórico, abstrato, enquanto clínico remete à prática, à cura do corpo e do psíquico. Poderíamos responder a essas questões demonstrando-as seu equívoco, apresentando o sentido correto do termo ao que corresponde. Isso seria fácil, pois filosofia clínica, em suma, aborda o referencial teórico inspirado na tradição filosófica e a clínica a essa aplicabilidade da riqueza filosófica no auxílio existencial das pessoas que procuram o profissional da filosofia clínica. Por outro lado, fazermos um percurso entre três grandes referenciais da filosofia clínica no país pode nos esclarecer alguns pontos e enriquecer nossa proposta de reflexão. Por isso, vamos nos remeter ao Will Goya, de Goiá

Fragmentos Filosóficos, Literários e algo mais*

"Ler a partir do lugar em que se escreveu não define o leitor ideal como aquele que lê melhor, mas como aquele que lê a partir de uma posição próxima à composição em si. Nabokov aponta isso com clareza: 'O bom leitor, o leitor admirável não se identifica com os personagens do livro, mas com o escritor que compôs o livro" "Quem lê a partir desse lugar segue um rastro no texto e, fiel a esse trajeto, considera as alternativas que a obra deixou de lado. (...) Mais que ler como se o texto tivesse um sentido oculto, tende-se a interpretar no sentido musical, a imaginar as possíveis variantes e modulações" "(...) Ler a partir daí significa ler como se o livro nunca tivesse acabado. Nenhum livro está, por mais bem-sucedido que pareça. O texto fechado e perfeito não existe: o acabamento, no sentido artesanal, faz com que se busquem os lugares de construção em seu avesso e se apresente o problema do sentido de outra maneira. Manuel Puig contava que toda

O viajante de amanhãs*

"O filósofo é uma das maneiras pela qual se manifesta a oficina da natureza - o filósofo e o artista falam dos segredos da atividade da natureza"                                                                     Friedrich Nietzsche O espírito aventureiro impróprio à cristalização do saber se faz nas escaramuças de um território movido a movimento. Seu viés de intimidade precursora se alimenta das ruas, estradas, subúrbios desmerecidos. É incomum que sejam facilmente compartilháveis, esses eventos anteriores ao gesso conceitual. A irregularidade narrativa como propósito sem propósito se reveste de uma quase poesia, para tentar dizer algo sobre os eventos irreconciliáveis com a ótica dos limites bem definidos. Essa lógica de singularidade flutuante se aplica às coisas irreconhecíveis ao vocabulário sabido.  Seu desprezo pelas fronteiras, objetivadas pelos acordos e leis, é capaz de antecipar amanhãs no agora irrecusável. Num caráter de existência marginal entre

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"Seu orgulho exigiu a ilusão da permanência. O nosso, pelo contrário, parece deleitar-se em provar que podemos tornar a pedra e o tijolo tão transitórios quanto nossos próprios desejos (...) Derrubamos e reconstruímos enquanto esperamos ser derrubados e reconstruídos. É um impulso provocador da criação e da fertilidade. A descoberta é estimulada e a invenção fica em alerta" "(...) A mente se torna uma lousa perpetuamente mutante na forma, nos sons e nos movimentos" "(...) não há qualquer embarcação de lazer nesse rio. Atraídos por uma irresistível corrente, chegam das tempestades e calmarias do mar, do seu silêncio e solidão, para o ponto de ancoragem que lhes é atribuído" "(...) e o velho mendigo, após jantar os restos de um saco de papel, espalha migalhas para os pardais" "Ali estão os poetas mortos ainda meditando, ainda ponderando, ainda questionando o significado da existência" "(...) os lábios estão c

Observador da sacada*

     “Adorava poder mostrar-lhe o filme, mas, por outro lado, sei que tem outras coisas na cabeça.”                                            Win Wenders sobre o Papa Francisco Ainda procura ver os rostos, nada pessoal, ele ainda busca enxergar todos em sua individuação, a captura do anonimato é a imagem oca, ele busca ver os olhos dos anônimos. As imagens confundem o centro, rasga os lados, alarga os braços, entorna o vinho sobre o mundo, Ele procura os olhos, ausculta o som do mundo, Ele vigia os sentidos, vê a face do desconhecido, os olhos na multidão é como o tempo que não tem dimensão única, interminável aos olhos a imagem-tempo. Ele ainda vê tudo como observador privilegiado, o mundo não muda, mãos que matam mudam. Ele busca o movimento da humanidade, a contínua ida ao desconhecido do Ser, procura o olhar que retorna em sua finitude. Ele é o observador do que se esgota, do tempo que permanece movente, percebe o transmutar e o que permanece intacto.

Fragmentos Filosóficos, Literários e algo mais*

"O mar, de ordinário, esconde seus golpes. Permanece de bom grado obscuro. A incomensurável sombra guarda tudo para si mesma. É muito raro que o mistério renuncie ao segredo. Existe, sem dúvida, monstro na catástrofe, mas em quantidade desconhecida. O mar é patente e secreto; esconde-se, não lhe interessa divulgar as suas ações"  "A madrugada tem grandeza misteriosa que se compõe de restos de sonho e começos de pensamento" "(...) O vento encontra-se repleto de semelhante mistério. Do mesmo modo o mar. Também este é complicado; sob os vagalhões de água, que se vêem, há os vagalhões de forças que se não vêem.  Compõe-se de tudo. De todas as misturas, o oceano é a mais indivisível e a mais profunda (...)" "Experimente-se conhecer esse caos, tão enorme que termina à superfície. É o recipiente universal reservatório para as fecundações, cadinho para as transformações" "A diversidade solúvel funde-se em sua unidade. Possui tan

As palavras e o horizonte existencial*

Primeiranistas de graduação em Filosofia às vezes "refutam o perspectivismo" com o seguinte joguete lógico que remete a uma contradição: "Não há fatos - somente interpretações. Isto é um fato." Ou, na notação da lógica proposicional, P^~P P, logo não-P. Isto é: a afirmação de que não há fatos, mas só interpretações, conduz a uma contradição e, por conseguinte, não pode ser verdadeira. A refutação parece persuasiva, não? * * * O diabo é que as palavras não são planas. Há profundidades hermenêuticas variáveis em cada uma delas. No caso que expus acima, a primeira palavra "fato" corresponde ao plano ôntico, enquanto a segunda corresponde ao plano ontológico. Uma coisa são os "fatos" ("não há fatos") que lemos em um jornal, que sabemos numa conversa, que usamos para tomar decisões na vida. Outra coisa, bem diferente, é uma afirmação metafísica universal a respeito do funcionamento da estrutura da realidade (&

Fragmentos filosóficos, literários e algo mais¨*

"(...) aquela compreensão do ser humano que nos possibilita reconhecer outra pessoa pelo tom da voz, pela maneira de segurar um objeto, até pelo timbre do seu silêncio ou a postura com que se coloca num determinado espaço; em suma, por toda essa maneira quase imperceptível mas peculiar de alguém existir" "O hábito de ler livros em que nenhuma palavra podia ser tirada de seu lugar sem alterar o significado oculto do texto, a avaliação prudente e atenta de cada frase em busca de seu sentido e até de seu duplo sentido, deram a seus olhos essa expressão particular" "(...) O que será isso? Sinto-o muitas vezes. Esse silêncio repentino como uma linguagem inaudível" "(...) Mais tarde seguiremos nossos próprios caminhos e nos tornaremos aquilo a que temos direito, pois não existe só uma sociedade" "E quando um ser humano se perdeu a si mesmo, renunciou a si, perdeu também aquela coisa especial, singular, para a qual a Natureza o

A escuta e o mundo*

As vezes contamos histórias para esquece-las enquanto quem ouve se comove e as leva consigo para partilha-las noutros lugares. Os desabafos podem nos deixar mais leves ao mesmo tempo em que complementa lacunas de quem já aprendeu a ouvir. A escuta pode libertar ao ponto de aprendermos a desapegar do que passou, deixando partir em paz o que não faz mais sentido. Pois, só é dolorosa qualquer partida quando ainda não se compreendeu que nada é para sempre, sobretudo, quando se trata do efêmero. Ou seja, se podemos tocar, lembrar ou sentir significa que é finito e que durará somente o suficiente para ecoar e seguir adiante se transformando. Por isso, as histórias sempre serão tão importantes seja para quem as esqueceu seja para quem as recebeu para aprender mais uma nova forma de enxergar o seu mundo ou de lidar com as próprias emoções. Enfim, as vezes a palavra é o nosso melhor remédio, outras vezes é o único. Musa! *Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Educador. Escritor. Fi

Fragmentos de filosofia, poesia e algo mais*

O Roteiro*** Não plantei trigo nem rosas: Plantei mudas de baladas Pelas tardes cor-de-rosa, Por marinhas madrugadas. Pesquei peixes coloridos Dos olhos do meu amor. E andei de tartaruga Pelas margens do sol-pôr. Esqueci dos meus chinelos Num tapete de veludo. E pus um gato angorá Em cima do sobretudo. Fiz um avião supersônico Com a manchete do jornal. E o vento levou a morte Para longe do meu quintal... Fiz tudo que foi possível Do tempo que me foi dado. Deixei a vida macia, Tornei meu dia encantado." *Luiz Guilherme do Prado Veppo Médico. Escritor. Poeta. Professor de Literatura. Santa Maria/RS (1932-1999) **Compilado da obra: "Prado Veppo - Obra Completa" Ed. UFSM

O primeiro passo para compreender a Filosofia Clínica*

O título ideal para um texto desse tipo sobre filosofia clínica, deveria ser Abordagem do que não é possível ser abordado: guia para um texto que não deveria ser escrito. Controverso, não? Mas, nas linhas seguintes, explicitaremos o porquê que um título assim seria justificável.   Para esclarecer nossa proposta, vamos nos remeter a Sócrates (469 a.C. – 399 a. C.) um ateniense que mudou o foco da filosofia Ocidental. Longe de nos determos em longas linhas acerca da história da filosofia, abordaremos apenas alguns traços desse pensador para servir ao fio condutor de nossa reflexão. Antes de Sócrates, havia pensadores denominados filósofos da natureza, ou seja, suas reflexões estavam voltadas para o todo, o cosmos, a ordem, a origem de tudo o que é. Depois desses pensadores, surge Sócrates inaugurando o pensamento mais antropológico. Ele não escreveu nada, tudo o que sabemos dele foi escrito por seus seguidores, como Platão, ou por opositores, como Aristófanes. Platão nos

Fragmentos Filosóficos, Poéticos, Criativos*

"De algum modo já aprendera que cada dia nunca era comum, era sempre extraordinário. E que a ela cabia sofrer o dia ou ter prazer nele. Ela queria o prazer do extraordinário que era tão simples de encontrar nas coisas comuns; não era necessário que a coisa fosse extraordinária para que nela se sentisse o extraordinário" "(...) viver é tão fora do comum que eu só vivo porque nasci" "Eu me sei assim como a larva se transmuta em crisálida: esta é minha vida entre vegetal e animal" "(...) Lóri quis transmitir isso para Ulisses mas não tinha o dom da palavra e não podia explicar o que sentia ou o que pensava, além de que pensava quase sem palavras" "Os humanos tinham obstáculos que não dificultavam a vida dos animais, como raciocínio, lógica, compreensão. Enquanto que os animais tinham esplendidez daquilo que é direto e se dirige direto" "(...) a mentira em que se havia acomodado acabava de ser levemente locomot

Visitas