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Fragmentos Filosóficos, Literários e algo mais*


"Ler a partir do lugar em que se escreveu não define o leitor ideal como aquele que lê melhor, mas como aquele que lê a partir de uma posição próxima à composição em si. Nabokov aponta isso com clareza: 'O bom leitor, o leitor admirável não se identifica com os personagens do livro, mas com o escritor que compôs o livro"

"Quem lê a partir desse lugar segue um rastro no texto e, fiel a esse trajeto, considera as alternativas que a obra deixou de lado. (...) Mais que ler como se o texto tivesse um sentido oculto, tende-se a interpretar no sentido musical, a imaginar as possíveis variantes e modulações"

"(...) Ler a partir daí significa ler como se o livro nunca tivesse acabado. Nenhum livro está, por mais bem-sucedido que pareça. O texto fechado e perfeito não existe: o acabamento, no sentido artesanal, faz com que se busquem os lugares de construção em seu avesso e se apresente o problema do sentido de outra maneira. Manuel Puig contava que toda vez que começava a ler um romance começava a escrevê-lo"  

"A experiência pessoal é a corroboração da verdade do texto. Anna lê para decifrar uma verdade que está sepultada nela"

"A leitura funciona como um modelo geral de construção do sentido. A indecisão do intelectual é sempre a incerteza quanto à interpretação, quanto às múltiplas possibilidades da leitura"

"A letra tem algo de mágico, como se convocasse um mundo ou o anulasse"

"(...) Podemos ler filosofia como literatura fantástica, diz Borges, ou seja, podemos transformar a filosofia em ficção mediante um deslocamento e um erro deliberado, um efeito produzido no ato mesmo de ler"

"(...) o romance - com Joyce e Cervantes em primeiro lugar - procura seus temas na realidade, mas encontra nos sonhos um modo de ler. Essa leitura noturna define um tipo particular de leitor, o visionário, o que lê para saber como viver"

Ricardo Piglia in "O último leitor". Ed. Cia das Letras. SP. 2017.

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