Pular para o conteúdo principal

Fragmentos Filosóficos, Devaneios e algo mais*


"O espelho das águas ? É o único espelho que tem uma vida interior. Como estão próximos, numa água tranquila, a superfície e a profundidade! Profundidade e superfície encontram-se reconciliadas. Quanto mais profunda é a água, mais claro é o espelho A luz vem dos abismos. Profundidade e superfície pertencem uma a outra, e o devaneio das águas dormentes vai de uma à outra, interminavelmente. O sonhador sonha sua própria profundeza"

"(...) o mundo vem respirar em mim, eu participo da boa respiração do mundo, estou mergulhado num mundo que respira"

"As cosmogonias antigas não organizam pensamentos, são audácias de devaneios, e para devolver-lhes a vida é necessário reaprender a sonhar"

"Quando um sonhador de devaneios afastou todas as preocupações que atravancavam a vida cotidiana, quando se apartou da inquietação que lhe advém da inquietação alheia, quando é realmente o autor de sua solidão, quando, enfim, pode contemplar, sem contar as horas, um belo aspecto do universo, sente esse sonhador, um ser que se abre nele"

"E que vem a ser um belo poema senão uma loucura retocada? Um pouco de ordem poética imposta às imagens aberrantes? A manutenção de uma inteligente sobriedade no emprego das drogas imaginárias. Os devaneios, os loucos devaneios, conduzem a vida"

"Que importam para nós, filósofo do sonho, os desmentidos do homem que reencontra, após o sonho, os objetos e os homens? O devaneio foi um estado real, em que pesem as ilusões denunciadas depois. E estou certo de que fui eu o sonhador. Eu estava lá quando todas essas coisas lindas estavam presentes no meu devaneio. Essas ilusões foram belas, portanto benéficas. A expressão poética adquirida no devaneio aumenta a riqueza da língua"

"O devaneio poético é sempre novo diante do objeto ao qual se liga. De um devaneio a outro, o objeto já não é o mesmo; ele se renova, esse movimento é uma renovação do sonhador"

"(...) nos conduz para além de nós mesmos, para um outro nós mesmos" 

*Gaston Bachelard in "A Poética do Devaneio". Ed. Martins Fontes. SP. 2001.

Comentários

Visitas