"O mar, de ordinário, esconde seus golpes. Permanece de bom grado obscuro. A incomensurável sombra guarda tudo para si mesma. É muito raro que o mistério renuncie ao segredo. Existe, sem dúvida, monstro na catástrofe, mas em quantidade desconhecida. O mar é patente e secreto; esconde-se, não lhe interessa divulgar as suas ações"
"A madrugada tem grandeza misteriosa que se compõe de restos de sonho e começos de pensamento"
"(...) O vento encontra-se repleto de semelhante mistério. Do mesmo modo o mar. Também este é complicado; sob os vagalhões de água, que se vêem, há os vagalhões de forças que se não vêem. Compõe-se de tudo. De todas as misturas, o oceano é a mais indivisível e a mais profunda (...)"
"Experimente-se conhecer esse caos, tão enorme que termina à superfície. É o recipiente universal reservatório para as fecundações, cadinho para as transformações"
"A diversidade solúvel funde-se em sua unidade. Possui tantos elementos que se transforma em identidade. Está todo em cada uma de suas gotas. Porque está repleto de tempestades, torna-se equilíbrio"
"As obras da natureza, não menos supremas que as obras do gênio, contem algo do absoluto e impõem-se. O que tem de inesperado faz que o espírito lhes obedeça imperiosamente; sente-se, no caso, premeditação que se encontra fora do homem. Não são nunca mais surpreendentes do que quando fazem, de súbito, o delicado sair do terrível"
"A perseverança é para a coragem o que a roda é para a alavanca: perpétuo renovamento do ponto de apoio. (...) A ascensão nasce da queda. Os medíocres deixam-se desaconselhar pelo obstáculo especioso; os fortes, não"
"A gente vê-se na engrenagem, é parte integrante de ignorado. Todo, sente o desconhecido que tem dentro de si fraternizar misteriosamente com o desconhecido que tem fora de si"
*Vitor Hugo in "Os trabalhadores do mar". Ed. das Américas. SP. 1957.
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