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Tempo*

".... de receber do tempo o sonho mais profundo.”                             e. e. cummings   Deslocamento existencial. O caminho entre a juventude e a leitura, passando pela dor constante do tempo perdido, do amor, da guerra, da morte, o falso-dorso, entre páginas marcadas por cintilante tinta, o esquecido entre as estantes, livro empoeirado, leitura retomada, a lentidão do passo, o caminhar até a cozinha, o ir até a piscina, nadar para salvar a alma do cansaço, uma dose de esperança, coração, a mão e braços em movimento constante. O aprendizado da vida, retilíneo de uma margem a outro lado do rio, olhar em viagem constante, o remédio em dose, a pressão arterial em sinfonia com violinos, abatimentos ocultos, o corpo em sincronia com o tempo de viver, o acordar antes que o tempo se apresse, o café ao sol, a fruta seca à janela, o pássaro que canta na palmeira. O primeiro dia da semana, o copo de vinho depois do expediente, a leitura final no começo da noite. A eterna solidã

A obra: "Introdução à Filosofia Clínica" de Miguel Angelo Caruzo tem sua primeira reimpressão!

  Parabéns a todos os envolvidos nesse trabalho! A coleção de Filosofia Clínica, parceria da Casa da Filosofia Clínica com a Editora Vozes, concede a obra do Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo, um justo reconhecimento (pela primeira reimpressão) ao seu livro, em menos de um ano após o lançamento! Hoje já são mais de 1.000 exemplares distribuídos no Brasil e exterior. Gratidão a todos os envolvidos com mais esse projeto de excelência da Casa da Filosofia Clínica. Parabéns ao Prof. Dr. Miguel Angelo Caruzo, pelo sucesso de sua primeira obra na coleção! Hélio Strassburger   Coordenador da Coleção   

Interseções de Estruturas de Pensamento – Uma Abordagem Possível***

Nossa maneira de ser, estar e agir dialoga com as vizinhanças. É provável que parcelas das percepções que temos sobre nós mesmos, os outros e o mundo brotem do impacto que o meio exerce em nossas vidas. As relações que travamos colaboram com a formatação do nosso olhar, ampliando-o ou reduzindo-o, nos deixando em posições mais ou menos confortáveis nas interações. Aí se insere o poder das referências que norteiam e justificam parte de nossas escolhas.   Em Filosofia Clínica as referências que inspiram nossos processos individuais, pela atração ou repulsão, são acolhidas no tópico Interseções de Estruturas de Pensamento (T28), que nos remete as associações entre elas. Posterior à pessoa, a Estrutura de Pensamento (EP) é o modo próprio do indivíduo se inserir existencialmente, inserção que passa pelo mergulho no coletivo. Assim, a qualidade das Interseções é ditada pela subjetividade de quem as vive, podendo produzir tanto bem quanto mal-estar. Familiares, amigos, parceiros, personal

Fenomenologia na Filosofia Clínica ***

Algumas perspectivas psicológicas se denominam ou têm no nome a palavra fenomenologia ou fenomenológica. No vídeo sobre psicologia fenomenológica com prof. Tommy Goto (https://www.youtube.com/watch?v=_RR9dHtF3e4&t=196s ) assumindo que a psicologia fenomenológica tem Edmund Husserl como fundamento da fenomenologia, pergunta-se onde está a fenomenologia nas abordagens psicológicas, pois “[..] se parte de pressupostos não pode ser o método fenomenológico, porque o método fenomenológico, de cara, já tem que eliminar os pressupostos. Então, se já tem uma prática psicológica que já considera esse pressuposto, então não pode ser método fenomenológico. Afinal de contas, então, o que é a psicologia fenomenológica”? O problema levantado por este professor de psicologia aparece porque a psicologia quis colocar a fenomenologia enquanto método terapêutico ou inserida dentro da metodologia terapêutica já estabelecida pela psicologia. A psicologia tenta usar da fenomenologia como método ou ap

Estéticas possíveis: sobre fluxos e contenções***

Recentemente uma pessoa querida solicitou indicação de um livro sobre Filosofia Clínica que fosse introdutório. Logo falei de “Filosofia Clínica: propedêutica” de Lúcio Packter, porém, em seguida eu disse “Pérolas Imperfeitas - apontamentos sobre as lógicas do improvável” de Hélio Strassburger. No instante em que escrevo, percebo que este último é para mim, introdutório e avançado.  Relendo-o esse mês, dez anos após minha primeira leitura, percebo que o método da Filosofia Clínica, talvez, consiga abrir caminhos para o fluir das águas que somos, como já falava Heráclito sobre este tipo de devir. O que percorre vales, abre caminhos formando contornos em busca de melhores lugares onde possa seguir seu curso, deságua em mares. Um tipo de devir onde uma parte das águas, vez ou outra empoça em um leito cômodo enquanto outra parte precisa seguir e como isso tudo faz parte, organicamente, de um sistema que afeta enquanto é afetado. Por isso, talvez, a Filosofia Clínica seja um método cont

Por que ler Hélio Strassburger?*

Hélio Strassburger é um filósofo clínico formado nas primeiras turmas de Lúcio Packter, em meados de 1990. Desde então, fez da filosofia clínica sua dedicação exclusiva. A experiência obtida em consultório, nos hospitais psiquiátricos, na prática docente em diversas cidades do país – formando novos terapeutas, dentre os quais o autor destas palavras – e em contínuos estudos resultou em produção bibliográfica. Por que ler sua obra? Embora a poética da expressão escrita de Strassburger, repleta de vice-conceitos – analogias, linguagens simbólicas e figuradas –, embale a leitura até de quem desconhece a filosofia e a filosofia clínica, seus textos não são para iniciantes. Para os interessados em saber mais sobre a filosofia clínica, a obra de Hélio pode ser considerada como o “segundo passo”. Em que consiste esse passo? O primeiro passo seria a leitura introdutória ou a etapa teórica do curso de formação. O segundo passo, por sua vez, é o exercício de manter-se aberto ao novo, ao inéd

Uma perspectiva prática da recíproca***

  A metodologia da Filosofia Clínica contempla elementos que constituem a estrutura de pensamento e os modos de agir de cada pessoa. Alguns elementos, como a inversão e a recíproca, podem estar tanto na espacialidade intelectiva quanto nas ações do indivíduo. Simplificadamente, inversão é o movimento de trazer o outro ao seu próprio mundo, enquanto a recíproca é ir em direção ao outro.   No espaço terapêutico, a recíproca pode fazer parte da qualificação da relação terapeuta/partilhante, sendo utilizada pelo terapeuta que escuta, acolhe e, principalmente, se isenta de suas perspectivas do mundo e das relações diante do discurso existencial do partilhante. Assim, considera essencialmente o outro para possibilitar o espaço da construção compartilhada.   Em um esboço preliminar, através do discurso existencial do partilhante, a recíproca pode aparecer como tópico importante da estrutura de pensamento. Com a evolução do tempo terapêutico, através do acesso à historicidade, às circunstâ

Polifilosofia, Lógica do terceiro incluso e Filosofia Clínica***

  A Filosofia Clínica é uma filosofia vazia de filosofia: é uma filosofia negativa, é uma não-filosofia, porque é total acolhimento. Ela nada impõe: ela recebe e acolhe as outras filosofias, inclusive as incompatíveis e contraditórias. A sua lógica geral somente pode ser uma lógica na qual as contradições sejam bem-vindas. Bachelard sugere que nenhuma filosofia corresponde à totalidade do mundo: seria necessária a criação de uma polifilosofia, de uma filosofia aberta de segunda ordem, na qual todas as filosofias – mesmo as filosofias contraditórias, mesmo as filosofias incompatíveis – tivessem um lugar. Essa polifilosofia é, propriamente, uma filosofia vazia de filosofia; ela é pura forma, é uma filosofia de segunda ordem, uma metafilosofia. Essa filosofia de segunda ordem, essa filosofia polifilosófica, evidentemente não pode existir segundo as normas da lógica clássica. Afinal, a lógica clássica não suporta as contradições e as incompatibilidades. Ela exige uma lógica do terceiro

Para onde estamos evoluindo?***

A guerra entre o bem e o mal não é travada entre exércitos adversários ou entre cidades e nações inimigas. A batalha entre o bem e o mal acontece dia a dia dentro de cada ser humano.   Segundo Platão, a mente humana trava uma disputa incessante entre três forças para controlar nosso comportamento. Uma das forças é o instinto animal de sobrevivência, preparado para lutar, comer e acasalar. A segunda força são nossas emoções, alegria, raiva, medo. Instinto e emoção funcionam como animais selvagens internos empurrando nosso comportamento para direções pouco aconselháveis.   O cérebro dos humanos evoluiu e desenvolveu o pensamento racional, visando refrear ambos os animais e nos guiar num caminho mais civilizado e justo. Há controvérsias. O mau comportamento não é fruto de atividade de animais ancestrais interiores inferiores, assim como o bom comportamento não é resultado da racionalidade. São metáforas utilizadas para tentar explicar condutas humanas aleatórias.   Cabe então uma pe

O cuidado do cuidador*

  A busca de um exercício ao papel existencial cuidador acessa e constitui no terapeuta, pela via da interseção, um conjunto harmônico para suas vontades. Ponto de partida a instruir os procedimentos essenciais à sua atividade clínica. O filósofo clínico atuante sabe que sua experiência pode valer muito pouco, pois cada partilhante traz consigo uma originalidade desconhecida. Com base no historicismo, fenomenologia, filosofia analítica da linguagem, este novo constructo metodológico exercita um acolhimento e cuidados com a singularidade. Esses referenciais metodológicos dinâmicos, adaptados em uma relação a posteriori , qualificam os atendimentos, reescrevem a história da pessoa a partir de sua própria matéria-prima. Essa nova abordagem trata de aprender com o aprendizado dos seus partilhantes. Analisa, reflete, compreende, compartilha, reelabora em conjunto, exercita sua plasticidade pelo devir existencial ali em frente. Para a S., filósofa clínica há cinco anos, é assim: “Esta

Revista da Casa da Filosofia Clínica Inverno 2022 - Ed. 01

[LEIA AQUI] A ideia aqui é compartilhar um material de qualidade para consulta aos estudiosos e demais interessados na nova abordagem terapêutica. Na mesma direção, destacar a juventude e o frescor da escrita da Filosofia Clínica, a qual se encontra em pleno desenvolvimento bibliográfico. A todo uma excelente leitura! CLIQUE PARA LER

Freios existenciais*

  Quando você for à bela cidade de Dourados, interior do Mato Grosso do Sul, observe que ela não possui subidas e descidas. Tudo é plano, tudo é povoado de planícies, poucos prédios, bicicletas por todo lado, árvores. Caso comprasse algum patinete para transitar pela região, provavelmente não seria necessário que tivesse um daqueles freios de mão. Para quê? Em lugares assim, a gravidade é o melhor e o mais suave freio ao embalo macio que traciona as rodinhas delicadas do patinete. No entanto, há modelos importados que já trazem o freio, modulado por um cabo, que naturalmente faz parecer necessária esta peça acoplada ao veículo. Acredito que alguns ficariam surpresos se soubessem que um patinete não precisa de freios. Talvez não comprassem, talvez devolvessem achando que tivesse um defeito. Lembro disso quando encontro seguidamente no consultório pessoas cujas construções semânticas, sintáticas, gramaticais trazem freios embutidos que não são necessários por aquilo que elas estão

Os filósofos na filosofia clínica*

Uma das diferenças entre a sistematização da filosofia clínica em relação às outras abordagens terapêuticas ocorre no modo em que os teóricos foram aproveitados nessa elaboração. A filosofia clínica não construiu uma teoria sobre o ser humano. Desse modo, Kant, Platão, Hume, Searle, Wittgenstein, Schopenhauer, entre inúmeros outros, não serviram para dizer quem é aquela pessoa que o filósofo clínico recebe em seu consultório. As reflexões dos filósofos foram aproveitadas na medida em que auxiliaram na construção de um meio para compreender as possibilidades de ser de cada pessoa, seu modo de agir e seu mundo. Nesse sentido, um partilhante pode apresentar em sua estrutura de pensamento características formalizadas na filosofia clínica por filósofos ou correntes filosóficas até opostas. Além disso, nem mesmo o sistematizador da filosofia clínica, Lúcio Packter, deve servir como critério para compreender quem está no consultório. Na psicanálise, por exemplo, é Freud quem dá as prime

Notas para una psicopolítica alternativa***

1. La ambivalencia de nuestra coyuntura psicosomática se encarna en la porosidad de una crisis anímica colectiva: el deterioro emocional de nuestras vidas precarias, agravado durante la pandemia, viene operando a su vez como punto de partida de “nuevos activismos psicopolíticos” y de iniciativas de “salud mental desde abajo”. Hoy el problema político es si delegamos la gestión de la crisis en el estado, la industria farmacéutica y el lenguaje progresista de las políticas desde arriba; o por el contrario, podemos resignificar y reapropiarnos de la crisis anímica desde abajo, redirigiendo las dinámicas de investigación y politización colectiva contra las causas estructurales del sistema productor de malestares. Animado por estos desafíos, releo dos libros antagónicos: Psicopolitica de Byung Chul Han (Herder) y Una lectura feminista de la deuda de Verónica Gago y Luci Cavallero (Tinta Limón). Leo de forma fragmentaria y dispersa, pero las resonancias militantes movilizan cierto deseo

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