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Clínica e teatro*

Rolando dados de Semiose Onde oralidade e escrita silenciam, o corpo grita! O repertório que angariamos em nossa trajetória existencial nos auxilia a qualificar nossas interseções, sejam pessoais ou profissionais. Quando essa bagagem brota de uma trajetória analisada, meio caminho andado... Percepcionar a nós mesmos, navegando espacialidades, pode nos colocar tanto diante de jardins secretos vicejantes quanto diante de terrenos baldios espinhosos. Passado o assombro inicial, ambos guardam lições preciosas a partilhar e sinalizam autogenias capazes de dirimir embates internos. E com isso, suavizar e/ou eliminar choques externos. Talvez quanto mais parturientes de nós mesmos sejamos, mais habilitados para acolher e dialogar com outros estejamos. Sócrates, com a maiêutica, e Platão, com a dialética, que o digam! A maiêutica (arte de parir a alma) nos leva além, nos aproxima do cerne da questão, nos coloca diante do novo enquanto arquétipo. Mas como dar a luz sem a dilatação necess

El instante aprendiz***

*Traducción:  Prof. Dra. Arantxa Serantes Al esbozar apuntes sobre una lógica de la locura, un envés del absurdo se desvela en astillas de múltiples caras. Frontera donde la normalidad se reconoce en sus paradojas. Una de las características de la expresividad delirante es ensimismarse en desacuerdo con el mundo alrededor. Crea dialectos de difícil acceso para proteger sus versiones de mayor intimidad. El papel de la Filosofía Clínica en la intersección con la crisis inmediata también es presentación indeterminada en un proceso caracterizado por la exageración de la manifestación del que comparte. Un no saber vehicula provisionales verdades en el compartir deconstructivo de las sesiones. Representaciones existenciales difusas se alternan en narrativas del tiempo de la persona. El lenguaje de la locura se constituye en un conjunto de convivencias estúpidas. El punto de partida es la extraordinaria lengua de la persona estructurada en alguna forma caótica.   Ernst Cassirer refier

O primeiro passo para compreender a Filosofia Clínica*

O título ideal para um texto desse tipo sobre filosofia clínica, deveria ser: Abordagem do que não é possível ser abordado, guia para um texto que não deveria ser escrito. Controverso, não? Mas, nas linhas seguintes, explicitaremos o porquê que um título assim seria justificável. Para esclarecer nossa proposta, vamos nos remeter a Sócrates (469 a.C. – 399 a. C.) um ateniense que mudou o foco da filosofia Ocidental. Longe de nos determos em longas linhas acerca da história da filosofia, abordaremos apenas alguns traços desse pensador para servir ao fio condutor de nossa reflexão. Antes de Sócrates, havia pensadores denominados filósofos da natureza, ou seja, suas reflexões estavam voltadas para o todo, o cosmos, a ordem, a origem de tudo o que é. Depois desses pensadores, surge Sócrates inaugurando o pensamento mais antropológico. Ele não escreveu nada, tudo o que sabemos dele foi escrito por seus seguidores, como Platão, ou por opositores, como Aristófanes. Platão nos mostra que

A literatura como matéria-prima*

  A cultura literária é condição indispensável para a aproximação com a Filosofia. É fácil entender o porquê: o leitor de bons livros vive várias vidas em sua vida; assim, pode intuir o que há de universal na experiência humana possível, a partir de uma pluralidade de experiências humanas, no curto tempo de sua existência. É esse o sentido da bela fórmula do filósofo espanhol Fernando Savater: “a Literatura multiplica a alma”. * * * A deficiência literária na Filosofia produz um pensamento pueril: produz a Filosofia de visão míope e fôlego curto, a Filosofia dos horrendos congressos de pós-graduandos e dos irrelevantes “papers” - o túmulo do espírito. * * * A Literatura, a Grande Literatura, é a matéria-prima de que se constitui todo o pensamento que vale a pena ser pensado. * * * Amigos, não basta saber ler para compreender um texto. Para absorvê-lo mais ou menos inteiramente, é preciso conhecer o campo de sentidos em que foi escrito. Isto é: o domínio da língua não se

Críticas*

“Há apenas uma maneira de não receber críticas: não faça nada, não diga nada, não seja nada”.   Esta é uma frase que ouvi há muito tempo e que está na internet com diferentes nomes de autores, então prefiro não colocar nenhum. Mas o que interessa aqui para mim é que isso se torna mais verdadeiro hoje nos dias das mídias sociais e do enxame de pessoas com “coisas a dizer” na internet. A gama de informações aumentou vertiginosamente, mas a capacidade de se colocar aberto a críticas ou ao diálogo não acompanhou esse crescimento. Na era da subjetivação da personalidade, do acesso e exposição pessoal de cada vírgula pensada, a gama de opiniões e “verdades” assola nosso entorno em qualquer lugar que nos conectamos. Hoje não é somente as grandes mídias de televisão, jornal ou rádio que dão opinião e contam “verdades” ou fatos, mas qualquer um da rua, que cruzamos no dia a dia. As comunidades “tribais” cresceram vertiginosamente o que favoreceu aparecerem do ostracismo ou da margem a q

Edital para a edição de inverno da revista da Casa da Filosofia Clínica*

  Olá! Para acessar o edital: CLIQUE AQUI Envie seu texto até o dia 21/05 para a edição de inverno,  que estará disponível em julho/2023. Coordenação

Leituras clínicas*

“O ponto de vista Partilhante, ao se deixar acessar pelos termos agendados, reivindica um leitor de raridades. O fenômeno terapia aproxima papéis existenciais da clínica com a arqueologia. Sua estética cuidadora, a descobrir e proteger inéditos, mescla saberes para acolher as linguagens da singularidade.”                                                Hélio Strassburger                              O trecho citado está na obra “ A palavra fora de si ”. Ed. Multifoco/RJ. 2017, do professor Hélio e especificamente no texto dedicado “As linguagens da terapia”. Aqui é essencial dar-se conta de que o veículo que nos faz percorrer caminhos dentro do espaço clínico é a linguagem, e nesse sentido, é papel do cuidador dar espaço de passagem e fornecer proteção às cenas que se revelam sessão após sessão, acolhendo o conteúdo. Durante esses 5 anos de clínica, atendi algumas mulheres (sim, hoje falarei delas). Sou grata pela confiança que depositam no processo clínico, sei dos meus limites de

Idioma dos olhos*

Aprendi com uma fotógrafa que para demonstrar felicidade em uma foto não é preciso sorrir com a boca, são os olhos que transmitem o estado de humor. Quantas vezes você já viu aquilo que chamamos de “sorriso amarelo”? Boca sorrindo e olhos chorando, denunciando o estado de espírito em sofrimento.   Quando uma pessoa está bem, seus olhos transmitem essa energia positiva que se projeta direto na foto. Não há como enganar. Aprendi com meu neto Bernardo, que agora completou um ano de idade, que a boca também não é necessária para ser entendido, os olhos conseguem dizer quase tudo. Quando brinco com ele e faço uma bolha de sabão, na tentativa de agarrá-la com as mãos, invariavelmente estoura. Ele me encara e seus olhos perguntam “onde foi parar a bola”? Ainda não tem capacidade de raciocínio para entender a fragilidade de uma bolha de sabão, o que ele quer mesmo saber é onde se meteu a tal bola que estava bem à sua frente, diante dos olhos. Bernardo ainda não sabe que sou seu avô, não

Investigação das águas*

“A imagem mental é a imagem que é descrita quando alguém descreve sua imaginação”. (Wittgenstein) Comer todas as palavras e certezas de palavras, vãos em muros, filamentos do tempo, a história, paixão e fome dos olhos, diafragma da alma, um escape de som, uma luz entre os corpos, um resto de palavras, o som quase silêncio entre o medo e a revelação, a fome do desejo nas paredes do tempo, e o corpo abundantemente dança em luz que suaviza os movimentos, o som perdido entre os livros, uma letra entre as letras, a formação de nuvens no outono, o céu se fecha, os olhos de sal, mareados, o instante final do esquecimento desaparece entre os restos dos dias, afasia da desrazão em águas profundas, um mar de realidade, um revestimento encobrindo a palavra, a claridade na luz do sol cortando o revestimento, o emergir. De volta. É como trazer as palavras e o corpo de volta à superfície. E os braços em longos, demorados movimentos, chapinhar entre plantas submersas, mistura de cansaço e carpas

Nota Dez*

Dez foram os encontros, dez as oportunidades de ampliar mundos e nos fazer um pouco mais presentes. Aguçamos leituras de contextos, exercitamos formas outras de estar, sem deixar de ser. Individualidades oceânicas espraiaram-se generosamente na vazão coletiva de fazer e aprender juntos. Respeitamos tempos, espaços e comandos. De bom grado, em confiantes acordos tácitos.     Com a entrega ao processo, ondas desaguaram na gente, ora como tormenta, ora como calmaria. Incomodados ou fascinados, nunca indiferentes. Soubemos não só sobreviver como tirar proveito da travessia.   Ingressei buscando maior materialidade, canalização corporal (sensorial) às abstrações que me são próprias. Meu corpo, tolhido e tiranizado em tempos de exceção, farto de tamanhas contenções, clamava por expressão, toque, contato, chão.   Pina Bausch, em meio a padrões de repetição, destamponou o mote do movimento. O grito contido que libera a ação. O salto felino que liga a terra ao céu.   Jerzy Grotowski d

Apontamentos de um Filósofo Clínico*

Ouvir de fato será sempre um desafio muito maior do que falar porque qualquer escuta qualificada ou, pelo menos, funcional, depende prioritariamente de competências afetivas muito ligadas a empatia, a compaixão, a solidariedade e a cidadania.  Já a fala é um impulso que pode até mesmo sair pelos cotovelos, sobretudo, quando a precariedade da observação e do sentir prevalecem. E tanto ouvir como falar nunca se limitou ao trivial. Pois, podemos desenvolver uma escuta através do sentir em diversas formas... Podemos ouvir com o coração, através do tato ou de um simples olhar! Podemos ouvir até a geografia de um sorriso ou o percurso das lágrimas no rosto de uma pessoa em prantos. E podemos falar com as mãos, com os olhos ou por meio das nossas próprias posturas e imposturas diante das circunstâncias presentes na jornada da vida. Mas sempre estará repousada nas nossas mãos a escolha de como sentir o outro e de como nos expressar na direção do outro, uma vez que essa responsabilidade nos

A Filosofia Clínica e o robô de escuta***

        O site: www.mittechreview.com.br publicou em janeiro/2022: “Terapeutas podem usar Inteligência Artificial para melhorar os resultados das terapias”. O artigo foi assinado pelo: MIT- technology review.    Inicialmente a proposta é de auxílio ao trabalho clínico do profissional da área PSI. Trata-se de uma pesquisa para saber como a terapia funciona. Uma verificação das linguagens utilizadas na hora clínica. Segundo o artigo: “busca identificar as expressões e devolutivas de resposta mais eficazes no tratamento de diferentes distúrbios”. Oferece uma “automação dos princípios ativos da terapia”. O projeto se desenvolve em universidades como: Washington e Pensilvânia (EUA), numa parceria da IA – inteligência artificial com a psicologia. Diz assim: “Busca-se desvendar os segredos de porque alguns terapeutas obtêm melhores resultados que outros (...) a tecnologia funciona semelhante a um algoritmo de análise de sentimentos”. Prossegue afirmando: “a IA converte a linguagem de

Dialogar*

Sobre a Filosofia Clínica dialogar ou não com as outras linhas Terapêuticas. Estudei por sete anos Psicologia e por questões circunstanciais, tive contato direto com a Psiquiatria, estudando e aprendendo durante 12 anos. Convivi com terapeutas do Brasil inteiro, tive uma clínica de terapia comportamental e eu mesma como paciente fiz terapia cognitiva, Gestáltica, psicanalítica até chegar na Filosofia Clínica. Com isso, acredito que posso dizer alguma coisa enquanto paciente e como estudante e pesquisadora. Entendo que se tem uma linha que dialoga com as outras é a Filosofia Clínica, primeiro por ser honesta no sentido de dar o mérito de sua fundamentação a mãe de todas, ou seja, a própria Filosofia, que por si só já é um oceano tão grande e recheado de conteúdos que poderíamos dela já ter múltiplas e infinitas linhas terapêuticas. Segundo porque profissionais de todas as áreas podem fazer o certificado B, que dá a base teórica a clínica filosófica, porém para a prática e para o c

Uma perspectiva prática da recíproca***

A metodologia da Filosofia Clínica contempla elementos que constituem a estrutura de pensamento e os modos de agir de cada pessoa. Alguns elementos, como a inversão e a recíproca, podem estar tanto na espacialidade intelectiva quanto nas ações do indivíduo. Simplificadamente, inversão é o movimento de trazer o outro ao seu próprio mundo, enquanto a recíproca é ir em direção ao outro. No espaço terapêutico, a recíproca pode fazer parte da qualificação da relação terapeuta/partilhante, sendo utilizada pelo terapeuta que escuta, acolhe e, principalmente, se isenta de suas perspectivas do mundo e das relações diante do discurso existencial do partilhante. Assim, considera essencialmente o outro para possibilitar o espaço da construção compartilhada. Em um esboço preliminar, através do discurso existencial do partilhante, a recíproca pode aparecer como tópico importante da estrutura de pensamento. Com a evolução do tempo terapêutico, através do acesso à historicidade, às circunstâncias,

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