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Singularidade *



"Preferir os 'miniconceitos' ou as noções às certezas estabelecidas, mesmo que isso possa chocar, parece-me o penhor de uma atitude mental que pretende permanecer o mais perto possível dos solavancos que são próprios dos caminhos de toda vida social."
                                               Michel Maffesoli

Na contramão das terapias existenciais que lidam com conceitos maximizantes e, por isso, totalizadores e, que por isso, escondem a singularidade, Maffesoli propõe para uma leitura social aquilo que a Filosofia Clínica propõe para o indivíduo, para o singular.

Tentar aplainar os solavancos da vida é partir de um a priori de como deve ser a vida, de um universal, de uma norma. As demarcações nas ciências da natureza, as divisões de seres e outras fronteiras, estão, muitas vezes, claras.

No que concerne ao fenômeno humano e às suas complexidades, isso não acontece. Querer usar da mesma métrica de uma ciência natural para os fenômenos das relações humanas (inclusive em relação ao indivíduo com ele mesmo) é, no mínimo, descuidado e ingênuo, para não dizer perigoso e irresponsável.

A Singularidade é ofendida e corrompida quando se aproximam dela com métricas universais, conceitos totalizantes. Dizem que para entendê-la é preciso categorizá-la.

Mas categorizá-la é transformá-la em algo que ela não é, é mesmificar aquilo que não pode ser compreendido por um conceito geral ou particular.

Para compreender o singular é preciso dar a ele o direito de ser e se apresentar como ele é e ao compreendê-lo não olhá-lo com olhos ortopédicos de quem tem que consertar algo quebrado. Solavancos e imperfeições são realidades de todo terreno que não é ideal e que se constitui assim como é.

*Fernando Fontoura
Filósofo. Doutorando em Filosofia Unisinos. Filósofo Clínico. Prof. Titular em Porto Alegre/RS e Niterói/RJ.
Porto Alegre/RS

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