Resenha do livro de Miguel Angelo Caruzo, “Introdução à Filosofia Clínica”. Editora Vozes. 2021. Petrópolis/RJ.*
As duzentas e duas páginas do livro Introdução à Filosofia Clínica do Professor Miguel Angelo Caruzo, publicado recentemente pela Editora Vozes de Petrópolis, RJ, desencadearam um processo de leituras que culminou em três momentos diversos de escrita, que justificam o título dado a cada seção desta “resenha”.
Primeira
leitura: De trás pra frente, salteada e incompleta
Sem ordem linear, a leitura começou
do posfácio, veio para a conclusão, depois considerações iniciais,
apresentação. Folheando as páginas, sem
compromisso, chamaram a atenção os títulos: Planejando a clínica, Analise
o caminho da realização, Lidando com ruínas. O primeiro destaque a
ser feito: títulos sugestivos, originais e atraentes ao leitor, já conhecedor,
ou não, do método terapêutico da filosofia clínica, tema central da obra. Foi,
então, que veio o primeiro momento de escrita. Julgando ser a resenha, escrevi,
numa espécie de brain storm:
Inicio esta resenha pelo fim. Recomendo a leitura da obra do
Professor Caruzo pela coragem de escrever um livro, não só pelo interessante
assunto em si, a Filosofia Clínica, mas também pelo momento de desafio por que
passa a situação editorial.
Aos já
iniciados no tema da obra, compartilho a grata sensação de conforto e
familiaridade, pela identificação que nos aproximou e fez abraçar essa proposta
terapêutica. Os bem-vindos debates, críticas, sugestões e construções
compartilhadas reservem-se para os encontros e eventos próprios dos estudiosos
e praticantes do método.
Aos leigos,
em geral, proponho uma leitura curiosa. Preparem-se com um bom café, ou vinho,
cerveja ou chá, para apreciarem,
degustando, a seu modo, um texto que pode servir-lhes ao autoconhecimento, ou à
descoberta do mundo das terapias, uma
aproximação com o humano, principalmente neste delicado momento da humanidade.
Será uma leitura proveitosa.
Aos profissionais de outras terapias, um convite para conhecer um companheiro de estrada. Trocar figurinhas, para usar um vice-conceito, em Filosofia Clínica. Não nos iludamos. Apesar da atual circunstância pandêmica ter, aparentemente, ampliado a demanda por apoio terapêutico, o excesso pode levar ao desgaste e ao esvaziamento de sentido, além dos antagonismos advindos de outras esferas. Sejamos respeitosos e sábios para que possamos sobreviver e continuar após esse período. Unir forças em prol da sobrevivência das atividades terapêuticas éticas e de fundo verdadeiramente humano. Não estamos no mesmo barco, mas navegamos no mesmo oceano. E “Navegar é preciso”, já dizia o poeta Fernando Pessoa.
Segunda
leitura: Em linha reta, do começo ao fim, detalhes
Passado o primeiro momento, veio uma
pausa. A segunda leitura foi mais calma.
O olhar atento aos detalhes encontrou na dedicatória um bom começo de conversa:
partilhantes, termo usado para se referir aos que procuram o filósofo clínico
nessa clínica terapêutica. Partilhantes, um dos diferenciais do método. Na
dedicatória, um possível resumo, quase a síntese do que é a alma da Filosofia
Clínica: a prática. A dedicatória insinua sua importância, e é o que dá sustentabilidade
ao texto do autor que foi muito feliz ao dedicar o livro aos seus partilhantes.
Na página 30, Caruzo define,
apropriadamente, Filosofia Clínica, na seção em que apresenta a sistematização
da proposta. Antes, porém, em A história de uma inquietação, menciona a
trajetória de Lúcio Packter, mentor desta abordagem.
O autor de Introdução
à Filosofia Clínica consegue dar uma visão bastante abrangente dos aspectos
relevantes ao método terapêutico. Utiliza exemplos para ilustrar Tópicos e
Submodos, que são noções básicas para trabalhar com esse método.
Em alguns muitos casos, Caruzo nomeia
ou renomeia, de forma inédita e precisa, Tópicos e Submodos, o que faz a caminhada pelo livro ser tranquila,
respirável.
O leitor totalmente leigo ao assunto
da obra, ou o da Filosofia canônica, ou o de outras áreas acadêmicas podem
estranhar o preenchimento de vocábulos com um sentido aparentemente diverso que
é dado pelo mentor do método, Lúcio Packter, a termos consagrados da academia
ou do senso comum. É necessário um esforço ou uma postura mais aberta, por
parte do leitor, para entender a apropriação que Packter fez e da significação
por ele dada. Por exemplo: epistemologia, axiologia, pré-juízo, expressividade,
autogenia. Não se trata de uma mera apropriação. Não. Trata-se de uma extensão
ou expansão de sentido, um novo dimensionamento.
Na sua conclusão, o autor de Introdução à Filosofia Clínica, registra, no segundo parágrafo, a postura de abertura e constante construção em que o próprio método se coloca, a relação de respeito para com as demais terapias e, principal e fundamentalmente, firma seu preceito mais caro em relação à proposta original, inspiração de Lúcio Packter.
Terceira
leitura: Procurando Caruzo
Essa última leitura destinou-se a procurar o
autor no texto. Não se encontra Miguel Angelo Caruzo. Encontra-se o filósofo clínico,
em seu novo papel existencial de autor responsável pela tarefa de continuação
da prática da filosofia clínica.
Esperamos encontrá-lo em outras obras vindouras.
Consideração
Final
É importante e honesto esclarecer aos leitores dessa resenha que as minhas leituras do texto, principalmente a primeira, podem, talvez, só terem sido possíveis por eu ser uma estudiosa da Filosofia Clínica. Não é um guia de leitura que faço. É apenas um registro do meu movimento de leitura. A cada leitor, caberá seu próprio movimento, de acordo com sua estrutura de pensamento.
*Jandira Ramiro de Souza
Professora. Filósofa. Filósofa
Clínica
Niterói/RJ
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