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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) é certo que há vários Gregorios" "(...) a estética barroca que desvendava a complexidade de um homem múltiplo na multiplicidade do universo de contrastes e oposições. O texto, entretanto, é um só, dotado de unidade nesta desafiadora diversidade" "(...) a fronteira como uma zona privilegiada de encontro" "Se estamos diante de outro espaço e, assim, diante do espaço do outro, a verdadeira questão que ora se impõe é a questão da alteridade" "(...) o universo d'O Continente é observado de fora para dentro, mediante a perspectiva inusitada de um estrangeiro que tudo vai registrando e anotando, em cartas e diários, compondo a sua ótica caleidoscópica, onde se dá a decifração (e a revelação) do mundo do outro" "O tempo e o vento (...) um estrangeiro cruzou a sua fronteira e pode então construir uma perspectiva crítica que parece ser vedada aos que se encontram no interior da região microscósmica"

Estamos todos certos*

Surpreende-me a voracidade com que algumas pessoas sentem necessidade de ter suas ideias e opiniões aceitas e compartilhadas. O espaço para troca de ideias, contrapontos e antíteses, para então gerar uma nova síntese, é reduzido a zero. Quando o interlocutor tem o mesmo perfil, a situação se agrava: transforma-se em diálogo surdo a conversa que podia ter sido prenhe de sentidos e pontos de chegada. Surpreende-me ainda mais quando, durante a discussão, surge a expressão: ‘você está errado’. Oras, tão simples é entender que, em toda e qualquer situação, a julgar pelo íntimo e historicidade de cada um, todos estão certos! Gerar uma opinião e posição sobre determinado fato nunca é aleatório, por mais que pareça, para decepção daqueles que gostam de apontar a mídia como formadora de rebanhos. Posicionar-se, mesmo que em cima do muro, exige, mesmo que inconscientemente, uma justificativa. Cada um é único, ímpar, singular, em sua trajetória. Simpatias e antipatias são formadas

Não sei quantas almas tenho*

Não sei quantas almas tenho. Cada momento mudei. Continuamente me estranho. Nunca me vi nem achei. De tanto ser, só tenho alma. Quem tem alma não tem calma. Quem vê é só o que vê, Quem sente não é quem é, Atento ao que sou e vejo, Torno-me eles e não eu. Cada meu sonho ou desejo É do que nasce e não meu. Sou minha própria paisagem; Assisto à minha passagem, Diverso, móbil e só, Não sei sentir-me onde estou. Por isso, alheio, vou lendo Como páginas, meu ser. O que segue não prevendo, O que passou a esquecer. Noto à margem do que li O que julguei que senti. Releio e digo: "Fui eu ?" Deus sabe, porque o escreveu. *Fernando Pessoas

Eu te amo. Ao vivo, dublado ou com legendas?*

Existem várias maneiras de dizer a mesma coisa. Algumas chegam a ser um disparate de tão incompreensíveis, mas se incorporam rapidamente ao linguajar popular, e, teoricamente, não fazem mal a ninguém, a não ser a gramática portuguesa, “Foi mal“ virou um pedido de desculpa, “valeu” agora é uma forma de agradecimento, “vazar” quer dizer ir embora. Mas nem tudo está perdido, existem palavras que quando bem colocadas no lugar de outras, podem salvar relacionamentos, contratos e até mesmo vidas. Ao invés de falarmos em autoridade, fica mais elegante substituirmos por liderança. No lugar de irritante, usaremos persistente. Trocar a condição de dramática por emotiva faz toda a diferença. Fofoqueiro pode ser amenizado pela expressão bem informado. Com base nesta proposta, resolvi brincar e escrever um sentimento de 100 maneiras diferentes. Nem sempre se consegue expressar com palavras aquilo que se pensa ou sente. Talvez meu dicionário sentimental auxiliasse alguém em momento de de

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"O caráter artístico dionisíaco não se mostra na alternância de lucidez e embriaguez, mas sim em sua conjugação" "Na embriaguez dionisíaca, no impetuoso percorrer de todas as escalas da alma, por ocasião das agitações narcóticas ou na pulsão de primavera, a natureza se expressa em sua força mais elevada: ela torna a unir os seres isolados e os deixa se sentirem como um único" "A mais íntima e mais frequente fusão entre uma espécie de simbólica dos gestos e o som denomina-se linguagem. A essência da coisa é simbolizada na palavra por meio do som e de sua cadência, da força e do ritmo de sua sonorização; a representação paralela, a imagem, o fenômeno da essência são simbolizados por meio do gesto da boca (...)"  "Os símbolos podem e precisam ser múltiplos; eles crescem, porém, instintivamente e com grande e sábia regularidade. Um símbolo entendido é um conceito (...)" "Grito e contragrito a força da harmonia" &quo

Lucidez e desapego*

Todo começo ou recomeço sempre acontece primeiro por dentro. E nunca é por acaso nem as circunstâncias que vivemos nem as pessoas com as quais nos encontramos ou nos envolvemos durante a jornada da vida. Também não é por acaso que você está lendo esse texto nesse seu momento. É preciso compreender que tudo que já alcançamos ou já experimentamos apenas aconteceu porque já estávamos prontos para lidar e todo desfecho foi aquele que devia ser. Devemos ter coragem e lucidez para desapegar do que passou de modo que possamos nos libertar para estarmos muito mais inteiros no nosso aqui e no nosso agora. Pois só assim saberemos o que fazer, quando fazer e até onde persistir antes de recomeçarmos mais uma vez uma nova história dentro de uma história muito maior e abrangente. Afinal, quando um ciclo se encerra é porque um novo já começou e tanto prosseguir, ajustar rotas ou se perder em alguns momentos fazem parte do bom caminho. Musa! *Prof. Dr. Pablo Mendes Filósofo. Educa

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Essa é uma 'participação mágica', tal como C.G. Jung soube falar. Como essa recordação da criança sentada sobre uma pedra no jardim familiar: ' Sou o que está sentado sobre a pedra ou sou a pedra sobre a qual ela está sentada?'. Essa experiência, que não tem nada de patológica, vem a ser, como no caso das sociedades pré-modernas, moeda corrente na pós-modernidade" "Instantes encantados dos carnavais, dos festivais, das festas de todas as ordens. Minutos encantados de encontros amigáveis ou amorosos, ainda que sejam sem amanhã (...)" "(...) o excesso sobrevém como uma vibração que legitima e dá sentido à monotonia cotidiana. A transgressão e a anomia necessitam de limites, ainda que seja somente para serem ultrapassadas" "Há aqui uma antinomia de valores que merece ser pensada: a morosidade do instituído, a alegria do instituinte (...)" "(...) nenhum problema é definitivamente resolvido, mas que encontram

Fragmentos Filosóficos Clínicos*

"Na expressividade ainda não cooptada pelos rituais conhecidos, suas deixas, sobras ou deslizes incitam a interrogação para outras verdades. Fonte de matéria-prima às incertezas recém-decaídas das convicções. Seu anúncio de nitidez inesperada se oferece na escassez de um porém. Sua irrealidade ainda sem fundamentação não desmerece paradoxos, ao contrário, os fortalece com sua existência sutil." Helio Strassburger, Pérolas Imperfeitas - Apontamentos sobre as lógicas do improvável . Ed. Sulina. Porto Alegre/RS. 2012 "A folha em branco à espera do traço rememora o que se cala nas afirmações. O sujeito assim descrito refere, no chão de suas vertigens, uma estética dos excessivos roteiros. Interseção onde temor e tremor transbordam expressividades de anúncio. Sua errância descreve peripécias ilegíveis ao dado literal, sua sobrevida acontece nos contornos e margens do mundo conhecível. Ao cogitar uma ideia, insinua a embriaguez de ser nada, faz-se entrelinhas na quim

O Imaginar das palavras*

“Nós somos o seu mundo e elas o nosso. Para capturar a linguagem não precisamos mais que usá-las. As redes de pescar palavras são feitas de palavras.”                                                                        Octavio Paz O que não nos permite mais nos vermos, é o que permite de nós sermos sozinhos, por breve espaço do tempo, onde tudo se evaporou. Hoje ficou um vazio, uma solidão alojada ao lado do corpo inerte. A tortuosa solidão está aí, na tela, no espaço entre os minutos que não lembraremos nunca mais e o que não permitirá que eu vá mais além, mas mesmo assim, mesmo, existe um processo de memória recente, algo que tange o lado sensível da reflexão.  E os outros sentidos? O espaço imaginal, lugar em que tecemos nossos sonhos, e de lá tratamos de registrar, esse espaço que é o lugar do momento mútuo de ainda existir a possibilidade dos encontros. Como se eu sentisse algo por alguém no plano virtual, mas que a ideia, numa construção, acaba dando espaço

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"De repente um autor, para descrever-nos algo que talvez já vimos e conhecemos de longa data, emprega as palavras (ou os outros tipos de signos de que se vale) de modo diferente, e nossa primeira reação se traduz numa sensação de expatriamento, numa quase incapacidade de reconhecer o objeto, efeito esse devido à organização ambígua da mensagem em relação ao código. A partir dessa sensação de estranheza, procede-se a uma reconsideração da mensagem, que nos leva a olhar de modo diferente a coisa representada mas, ao mesmo tempo, como é natural, a encarar também diferentemente os meios de representação e o código a que se referiam" "(...) a obra transforma continuamente sua denotações em conotações, e seus significados em significantes de outros significados" "A mensagem pode pôr em jogo vários níveis de realidade" "A circunstância é a presença de uma realidade à qual, por experiência fui habituado a aliar o emprego de certos significado

Apontamentos sobre a ótica das lacunas*

"(...) o que se encontra lá onde ninguém o tinha ainda encontrado"                                        Jacques Derrida Uma incerta busca para oferecer depoimentos sobre os incríveis momentos na década de 90 me fez acreditar na possibilidade de divulgar, tal qual se apresentavam, os desdobramentos das primeiras sessões. Hoje vejo os eventos de consultório como instantes únicos, irrepetíveis e nem sempre possível de compartilhar.  Naqueles dias pensava em ter um registro das primeiras repercussões: críticas e ressentimentos, inseguranças e temores, esperanças e sonhos. Agora consigo ver melhor as desavenças inicias como aliadas na legitimação do novo paradigma. Longe de desmerecer o método da Filosofia Clínica fortaleceram a ideia de paradoxo com aquilo que se buscava superar.  A conversação com amigos e colegas ia mostrando a melhor resposta para o infortúnio das verdades satisfeitas: trabalho, trabalho, trabalho. Não tínhamos tempo para o famigerado debate ac

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) uma influência anonima, assim como o sangue dos antepassados se movimenta em nós constantemente, misturando-se ao nosso e formando com ele a coisa única e irrepetível que somos em cada curva de nossa vida" "Não sabia estar em transição ? desejava algo melhor que transformar-se ? Se algum ato seu for doentio, lembre-se de que a doença é o meio de que o organismo se serve para se libertar de um corpo estranho" "(...) Há de se reconhecer, aos poucos, que aquilo a que chamamos destino sai de dentro dos homens em vez de entrar neles" "Numa ideia criadora revivem mil noites de amor esquecidas que a enchem de altivez e altitude" "Ser artista não significa calcular e contar, mas sim amadurecer como a árvore que não apressa a sua seiva e enfrenta tranquila as tempestades da primavera, sem medo de que depois dela não venha nenhum verão" "Uma obra de arte é boa quando nasceu por necessidade" "(...

Estrelas na Terra*

O tempo é o agora aqui no coração. No agora sonho e projeto cuidar… Das flores, animais, pessoas… Não cruzo os braços esperando salvação. O tempo do agora é AÇÃO! Pequenas e delicadas. No cuidar das borboletas e flores. No cuidar dos amigos e conhecidos. No cozinhar, costurar, pintar, escrever… Até no nada fazer. Na escuridão, na sombra, no inferno Tem o vislumbre das estrelas As possibilidades infinitas paraíso. Só não tenho tempo a perder Com tagarelices, fofocas, inveja Poder, vaidade e orgulho. Realmente difícil é ser simples! Na simplicidade das sementes Podemos plantar um jardim de girassóis Plantar estrelas na Terra. *Dra Rosângela Rossi rosangelarossi.com/blog Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica. Autora da obra “ Ser Terapeuta ” da editora Vozes – integrante da coleção: Filosofia Clínica.

Tratado geral das grandezas do ínfimo*

A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei. Meu fado é o de não saber quase tudo. Sobre o nada eu tenho profundidades. Não tenho conexões com a realidade. Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro. Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas). Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil. Fiquei emocionado. Sou fraco para elogio *Manoel de Barros

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