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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Nossa língua reencontra no fundo das coisas a fala que as fez" "(...) Seja mítico ou inteligível, há um lugar em que tudo o que é ou que será prepara-se ao mesmo tempo para ser dito" "Na terra, já se fala há muito tempo, e a maior parte do que se diz passa despercebido" "Mas o livro não me interessaria tanto se me falasse apenas do que conheço. De tudo que eu trazia ele serviu-se para atrair-me para mais além. Graças aos signos sobre os quais o autor e eu concordamos, porque falamos a mesma língua, ele me fez justamente acreditar que estávamos no terreno já comum das significações adquiridas e disponíveis. Ele se instalou no meu mundo. Depois, imperceptivelmente, desviou os signos de seu sentido ordinário, e estes me arrastam como um turbilhão para um outro sentido que vou encontrar" "Entro na moral de Stendhal pelas palavras de todo o mundo, das quais ele se serve, mas essas palavras sofreram em suas mãos uma torção se

Pretéritos imperfeitos*

“A experiência trivial do dia-a-dia sempre nos confirma alguma antiga profecia (...)”                                      Ralph Waldo Emerson Existem eventos que possuem um começo sem fim. Perseguem uma in_de_termin_ação futura na travessia pelas antigas pontes. Neles é possível vislumbrar uma sombra suspeita, como algo mais a perturbar a lógica bem ajustada das convicções. Assim a grafia parece se orientar por um ontem a perdurar.   Atitude rarefeita de olhares a perseguir buscas contaminadas. Esse contágio parece querer singularizar a pluralidade de cada um. Aprecia a menção de fatos acontecidos no prolongamento do instante. Aparecem como atuação simultânea de um em outro, seu paradoxo dilui-se numa dialética de integração.      Uma de suas características é realçar fatos no momento em que ocorriam. Essa incerteza quanto ao amanhã, parece coincidir com o desfecho provisório de seu inacabamento.   Nessa terra de ninguém uma infindável trama de acontecimentos se

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Não existem fenômenos morais, apenas uma interpretação moral dos fenômenos" "O sábio como astrônomo - Enquanto você sentir as estrelas como 'algo acima', falta-lhe ainda o olhar do conhecimento" "É preciso livrar-se do mau gosto de querer estar de acordo com muitos" "(...) as grandes coisas ficam para os grandes, os abismos para os profundos, as branduras e os tremores para os sutis e, em resumo, as coisas raras para os raros" "Todo homem seleto procura instintivamente seu castelo e seu retiro, onde esteja salvo do grande número, da maioria, da multidão (...)" "Um filósofo: é um homem que continuamente vê, vive, ouve, suspeita, espera e sonha coisas extraordinárias; que é colhido por seus próprios pensamentos, como se eles viessem de fora, de cima e de baixo, constituindo a sua espécie de acontecimentos e coriscos; que é talvez ele próprio um temporal, caminhando prenhe de novos raios; um homem fat

Breves reflexões e outros apontamentos*

A vida humana é dor, angústia, sofrimento; caminhamos, a cada dia, para o nosso último suspiro, e somente uma personalidade mimada e imatura exige, como se jamais fosse encontrar o seu fado, uma vida tranqüila e confortável todo o tempo. Mas os breves momentos em que, compartilhando o que há de mais elevado na humanidade, alcançamos a pura felicidade - ao participarmos da vida das pessoas amadas, ao lermos um bom livro, ouvirmos boa música ou contemplarmos o céu estrelado - compensam luminosamente todas as inevitáveis frustrações, impotências e amarguras da vida. É uma pena que tantos, em nosso tempo, substituam o que há de melhor na vida humana pela alegria efêmera dos remédios (servidos em copos gelados ou em comprimidos coloridos) e do consumo de reluzentes inutilidades: o arrependimento por ter desertado quando se era chamado a viver a tragédia da existência é inútil quando o que resta é a descoberta de que se está morrendo sem haver jamais vivido. *Prof. Dr. Gustav

Movimento(s) de Leitor*

“A arte só está próxima do absoluto no passado, e é apenas no Museu que ela ainda tem valor e poder.”                                                        Maurice Blanchot Meu grupo é tão seleto que não existe, vivo no limbo da desatenção, permaneço só. A multidão amordaça, é calada, dizimada que nem cauda da serpente explodindo por balas perdidas. Vejo no espelho o movimento do corpo, a luz difusa, a névoa de um domingo quase sol meio cinza. Corro louco, feito refugiado, do meu próprio país para ver o mar. Não olho para trás nunca mais é forte demais. Fuga dos sonhadores, minha alma dentro do casaco cinza que atravessa o frio sem se entregar. Depois, nado fundo para não mais voltar. Jamais. Sigo em braçadas até o fim do livro. Leitura voraz, audição do silêncio. A mesma cena que passa aos olhos é um filme autoral, a mesma cruz um sonho insistente de causar questionamentos. Ouço o tilintar do pensamento, notas dissonantes, ritmo das pernas, braços em sincronia ao ba

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"E nada há mais belo que o momento que antecede à viagem, o instante em que o horizonte de amanhã vem visitar-nos e contar as suas promessas" "(...) porque os versos de Jaromil pareciam-lhe ininteligíveis e pensou consigo mesma que havia nos seus versos mais do que seria capaz de compreender e que, consequentemente, era mãe de uma criança prodígio" "(...) as palavras comuns são feitas para se apagarem assim que tiverem sido pronunciadas, não têm outro objetivo senão o de servir ao instante da comunicação" "(...) o que há de mais belo nos sonhos, dizia ele, é o encontro improvável de seres e de coisas que não poderiam encontrar-se na vida real" "(...) lembremo-nos desta carta de Rimbaud -  'todos os poetas são irmãos e apenas um irmão pode reconhecer num outro irmão o sinal secreto da família'" "Delirem comigo!, exclama Vitezslav Nezval dirigindo-se ao seu leitor, e Baudelaire: 'É preciso estar é

A poesia em alto mar*

A linguagem poética Seria um frágil barco Que navega á deriva Outras vezes em alto mar?. Anseia pelas coisas minúsculas Que poucos se atrevem a ver Busca dizer alguma coisa Sobre o impossível de falar E de outro modo Insuportável de calar. A poesia em alto mar Não seria da vida Uma tábua de salvação Da surdez da linguagem Que de outro modo Permaneceria muda..? *José Mayer Filósofo. Livreiro. Poeta. Especialista em Filosofia Clínica Porto Alegre/RS

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Sou o intervalo entre o que sou e o que não sou, entre o que sonho e o que a vida fez de mim, a média abstrata e carnal entre coisas que não são nada, sendo eu nada também" "Um homem pode, se tiver a verdadeira sabedoria, gozar o espetáculo inteiro do mundo numa cadeira, sem saber ler, sem falar com alguém, só com o uso dos sentidos e a alma não saber ser triste" "(...) Mas felizmente para a humanidade, cada homem é só quem é, sendo dado ao gênio, apenas, o ser mais alguns outros" "Posso imaginar-me tudo, porque não sou nada. Se fosse alguma coisa, não poderia imaginar. O ajudante de guarda-livros pode sonhar-se imperador romano; o Rei de Inglaterra não o pode fazer, porque o Rei de Inglaterra está privado de ser, em sonhos, outro rei que não o rei que é. A sua realidade não o deixa sentir" "Se considero com atenção a vida que os homens vivem, nada encontro nela que a diferencie da vida que vivem os animais. Uns e outro

Colorindo estradas tristes***

Meu primeiro amor tinha gosto de estrada e som de montanha Jeito de botina de couro no caminho de chão e cheirinho de mato molhado... Tinha um ninho quente e pequenino, tão imenso quanto o abraço mais seguro! Meu primeiro amor ensinava o passo a passo da vida com melodia e papo madrugueiro... Pensava mais profundo que os pensadores e brincava rasinho, lindo como uma criança levada. Meu primeiro amor mostrou verdades abafadas, historias, dramas, causos, souvenires mas acima de tudo o amor em si matizado de toda sorte de dor e delícia cheio de som e lareira, ladeira subida e descida... Meu primeiro amor era inventor de jeitos e coisas: Paredes de pendurar utilidades, banhos de leito pra quem tem sono, acendedor de fogueira hiperinstantaneo, métodos de ensino duros, rápidos e aventureiros... Meu primeiro amor dava presentes com o olhar e podia fazer que qualquer um fizesse qualquer coisa, só de ver seu semblante iluminado por aquele sopro de criança exc

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Cada época tem a sua irrealidade: seus mitos, seus fantasmas, suas quimeras, seus sonhos e uma visão ideal do ser humano que a ficção expressa com mais fidelidade que qualquer outro gênero"  "(...) O que conserva o seu frescor e o seu encanto é tudo aquilo que Victor Hugo estilizou, embelezando ou enegrecendo, ao compasso da sua fantasia, e que, mesmo irreal, exprime uma verdade profunda: a de certos sonhos, medos ou anseios nossos que coincidem com os que ele materializou nessa soberba invenção" "Basta um fantasma numa reunião para que todos os presentes adquiram um ar fantasmal, basta um milagre para que a realidade se torne milagrosa" "(...) as ficções fazem o leitor viver o 'impossível', tirando-o do seu eu particular, ultrapassando os limites da sua condição, e fazendo-o compartilhar, identificado com os personagens da ilusão, uma vida mais rica, mais intensa, ou mais abjeta e violenta, ou simplesmente diferente daquela

Deus poesia*

O TaoDeus criou... O cosmos, o mar e eu! Você, a natureza e o amor. Ou na sua infinitude, No tudo e nada ser, Poetizou a alegria e a dor. Sentir me basta. Admiro o que vejo. Agradeço esta vastidão. Apenas observo sem pensar. E gozo meu existir... Oro em gratidão! Em conexão vislumbro Deus! *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Filósofa Clínica. Livre Pensadora. Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Philippe Pons traça um sugestivo quadro de todos esses saltimbancos: monges, mendigos, músicos, sacerdotisas praticantes do xamanismo, dançarinas e artistas de todos os gêneros, que infringem as regras da aldeia, e com isso provocam uma importante mexida social" "A nostalgia do outro lugar engendra a errância que, por sua vez, favorece um ato fundador. A anomia e a efervescência são fundações sólidas de qualquer nova estruturação" "Essa errância nos manda de volta a uma realidade móvel e fervilhante, a da troca que, no próprio seio das sociedades mais sedentárias, está sempre à espreita, pronta para aparecer e balançar as certezas estabelecidas e os diversos conformismos do pensamento" "É uma boa metáfora do aspecto fundador do nomadismo que, por saber escapar da esclerose da instituição, pode ser eminentemente construtor" "O próprio da mudança, como o indiquei acima, é ser dolorosa e essencialmente traumática. Socialme

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