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Fragmentos Filosóficos, Delirantes*


"Philippe Pons traça um sugestivo quadro de todos esses saltimbancos: monges, mendigos, músicos, sacerdotisas praticantes do xamanismo, dançarinas e artistas de todos os gêneros, que infringem as regras da aldeia, e com isso provocam uma importante mexida social"

"A nostalgia do outro lugar engendra a errância que, por sua vez, favorece um ato fundador. A anomia e a efervescência são fundações sólidas de qualquer nova estruturação"

"Essa errância nos manda de volta a uma realidade móvel e fervilhante, a da troca que, no próprio seio das sociedades mais sedentárias, está sempre à espreita, pronta para aparecer e balançar as certezas estabelecidas e os diversos conformismos do pensamento"

"É uma boa metáfora do aspecto fundador do nomadismo que, por saber escapar da esclerose da instituição, pode ser eminentemente construtor"

"O próprio da mudança, como o indiquei acima, é ser dolorosa e essencialmente traumática. Socialmente, ela se exprime através de tensões graves, e destruições de toda ordem a acompanham. É no vazio dessas destruições que se aninha a elaboração daquilo que está para nascer"

"Há um empenho inicial para estabelecer um cerco em torno do errante, daquele que se desvia, do marginal, do estrangeiro, depois para domesticar, para estabelecer em uma residência o homem sem condição de nobreza, assim privado de aventuras"

"Em constantes peregrinações, sempre à margem, vivendo e suscitando a aventura, o profeta está nas encruzilhadas. Seu discurso está sempre no limite, sua atitude é um desafio ao instituído. Na comunidade é que ele se situa, fazendo-a viver na inquietude"

"Ninguém pode se gabar de ter uma morada permanente. Em suas diversas manifestações, a vida é sempre um caminhar entre o aqui e o alhures"

"Há uma 'alma desconhecida' no seio de cada indivíduo, mas também no seio do conjunto social. Quer dizer que o 'eu' tem uma infinidade de facetas, assim como a sociedade não é mais que uma sucessão de potencialidades. A errância, finalmente, é apenas um modus operandi que permite abordar esse pluralismo estrutural"

*Michel Maffesoli in "Sobre o nomadismo - Vagabundagens pós-modernas". Ed. Record. RJ. 1997.

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