Amigos, nestes anos
tenho ouvido e lido profissionais liberais, magistrados, jornalistas e - pasmem
- professores universitários com uma nítida dificuldade de descrever as suas
intuições e percepções ou com uma evidente incapacidade de efetuar as operações
lógicas mais simples.
Essa dificuldade dos
brasileiros com a ordenação do discurso é uma conseqüência do modelo de
educação que adotamos. A nossa capacidade de escrever bem e de raciocinar
corretamente tem decaído desde as reformas educacionais do regime militar -
reformas que baniram do currículo escolar, em nome da "formação para o
trabalho", os estudos clássicos e a filosofia (e, com ela, o estudo da
lógica).
É fácil atestar essa
decadência: basta visitar uma livraria e buscar um romance de qualquer escritor
brasileiro contemporâneo. Raríssimos são os casos em que o texto não é de uma
vulgaridade estrutural e vocabular que seria considerada inadmissível na
redação de um ginasial dos anos 1950.
Ou seja: ter recebido a
educação escolar e universitária no Brasil nas últimas décadas é praticamente
uma condenação à impotência discursiva.
* * *
Será possível reverter
essa condenação?
É claro que sim. E a
fórmula é simples: a leitura dos grandes escritores somada ao estudo da lógica
clássica.
Efetivamente, não basta
somente ler a grande literatura e adquirir o manejo dos símbolos da cultura
universal sem que se aprenda a utilizá-los numa ordem lógica: isso seria
adquirir a matéria da vida interior sem dominar a sua forma.
E não basta somente
aprender a lógica, mas não ter uma cultura literária: isso seria dominar a
forma do raciocínio, mas permanecer pobre quanto à matéria simbólica de que a
vida interior é preenchida.
Amigos, a literatura
universal e a lógica clássica constituem verdadeiramente a matéria e a forma da
inteligência crítica, isto é: da inteligência que procura incorporar em seu
cosmos interior o mundo simbólico dos variados interlocutores - ao mesmo tempo
em que mantém uma vigilância cética em relação aos seus próprios símbolos.
E o cultivo da
inteligência crítica é difícil? Não; pelo contrário, é profundamente prazeroso.
É caro? Não! Uma pequena biblioteca de vinte ou trinta volumes bem escolhidos
já é um excelente começo. Mas é demorado? Amigos, tudo o que realmente vale a
pena na vida o é.
*Prof. Dr. Gustavo
Bertoche
Filósofo. Educador.
Escritor. Filósofo Clínico
Teresópolis/RJ
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