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Nós das circunstâncias*

    A forte e familiar sensação de ser vida analisada (refletida, ponderada) mais que abraçar e acolher, viver a fundamentação da Filosofia Clínica, me acompanha. A questão da prática se insere nos muitos aprimoramentos das imbricações trágico-cômicas da poética do existir, onde se entrelaçam: fazer e pensar, para ser! Sentir na pele o peso, a leveza e a neutralidade dos dias... Observar o que nos diz o reflexo da nossa imagem no espelho... Escutar com todos os poros... Sustentar o olhar...   O que vemos segue a passagem meramente cronológica do tempo – onde segundos convertem-se em minutos, horas, dias, semanas, meses, anos – ou engloba também o tempo sentido, que nos coloca como resultado e resultante dos significados que estabelecemos nessa trajetória? Qual nosso nível de intimidade ao nos relacionarmos com a vida: história, natureza, conosco e os demais (incluindo as organizações que integramos)?   Protágoras e Schopenhauer ditam para a Filosofia Clínica que a medida das

Casa da Filosofia Clínica, de Porto Alegre (RS), concede ao filósofo clínico Beto Colombo o título de “Doutor Honoris Causa”. *

Catarinense de Criciúma (SC), Beto Colombo foi homenageado pela entidade por seus relevantes estudos em filosofia clínica nas organizações.   Há dez anos, Beto Colombo levou os métodos da filosofia clínica – até então voltada exclusivamente ao atendimento em consultórios – para dentro das empresas, criando assim o que hoje se conhece como Filosofia Clínica nas Organizações.   O filósofo atende empresas em processo de sucessão e também analisa a cultura organizacional a fim de identificar a estrutura de pensamento das empresas, chegando ao que ele denominou de a Alma da Empresa, título de seu livro em parceria com o filósofo clínico Rosemiro Sefstrom, lançado em 2016 e que ganhou uma edição bilíngue (português-espanhol) no final de 2019, ambos publicados pela Dois Por Quatro Editora, de Florianópolis. Além de ter escrito diversos livros voltados à gestão e à filosofia, Colombo foi um dos fundadores do Instituto Sul Catarinense de Filosofia Clínica e atualmente coordena o curso de

Startups da alma*

“Dedicatória: Me ame, ame meu guarda-chuva.” James Joyce   Nota significativa para quem se sente feliz no seu canto, para quem tem um refúgio para a alma, para suas incongruentes manias de viver, de poder se sentir bem num canto, mesmo que seja na parte mínima de um lugar pequeno chamado casa. Um lugar que se transforma em espaço infinito, onde se pode sentir a liberdade de estar só. A tarde que esfria, o sol recolhe o calor externo, sozinho se pode vislumbrar a solidão do seu lado mais poético, às vezes assusta o instante em que aparece na casa do seu Ser. Parecendo filme, livro, uma viagem que se torna tão real que já não distingue se um dia saiu de seu canto do pensar sobre algo, ou se realmente existe base para conectar a leitura de um livro, a audição de uma música com o filme que está na memória e foi assistido há um tempo, e se tudo isso faz parte da realidade ou é mera participação do voo do inconsciente que se lança para diante do corpo. E se tudo isso era só um luga

Atento à Singularidade*

Pode ser incômoda a ideia da singularidade proposta pela filosofia clínica. Mesmo entre filósofos clínicos e estudantes há a possibilidade de uma inclinação para generalizar algum comportamento a ser adotado ou um idealizar um fim a se alcançar para a obtenção do bem-estar subjetivo. Reconhecer cada pessoa como única, requer a aceitação de que para cada uma delas as orientações de vida são irrepetíveis e a fonte onde se encontra os parâmetros é a própria pessoa atendida.  Os filósofos clínicos levam suas vidas com suas verdades, emoções, princípios etc. Porém, quando está diante de um partilhante, seus juízos sobre como viver, seus valores, como vê o mundo etc. devem ficar suspensos. Um processo no qual o terapeuta busca compreender a pessoa a quem atende com um mínimo de mácula de suas próprias verdades. Lembre-se de que não há uma negação de um referencial objetivo. As diferenças provém da experiência de cada pessoa em relação aos elementos internos e externos. Não há um só modo

Poética Clandestina*

"A alquimia do verbo é um delírio"          Arthur Rimbaud                       Uma profecia de caráter excepcional recai sobre alguns escolhidos, que parecem surgir de uma cepa rara, sujeitos a descrever a saga do personagem marginal. Estruturados para surgir como transgressão, desconstroem a certeza de uma só versão para todas as coisas.  A atitude inesperada de toda razão oferece uma perspectiva plural na forma de poesia, filosofia, arte, subversão estética ao mundo instituído. No caso da inquietude filosófica, antes de virar comentário ou técnica acadêmica, é a concepção do eu como outros, reapresentada na inspiração libertária dos movimentos da irreflexão.  Um cavalheiro andante em busca de sua tribo encontra Adão e Eva no paraíso da singularidade. A palavra realiza uma poética das ruas. Seu caráter de profanação reivindica um ritual de iniciados. Os enredos do mundo novo percorrem as dialéticas do imprevisível. Visionários incompreendidos possuem a rara aptidão de conc

Obra disponível no site da Editora Sulina e melhores livrarias

        https://editorasulina.com.br/  

Revista da Casa da Filosofia Clínica Outono 2022 - Ed.00

Revista Casa da Filosofia Clínica - Outono 2022 [ LEIA AQUI! ] Essa publicação se propõe ao esclarecimento sobre os rituais da formação: teoria, clínica pessoal, supervisão, formação continuada. Para quem vem chegando, BOA LEITURA. Para quem já está no caminho, BOA RELEITURA. CLIQUE PARA LER

Saber ouvir é quase conversar em silêncio*

Certa vez estava fazendo uma palestra e, com o canto do olho, percebi uma movimentação estranha na platéia do auditório. Não consegui prestar muita atenção porque estava focado na minha fala, mas deu pra ver que era restrito a um pequeno grupo de pessoas, especialmente uma criatura que não parava de se movimentar. Quase interrompi meu discurso para solicitar que a pessoa ficasse quieta, mas por sorte, ou por uma apreciação mais demorada, constatei que se tratava de um grupo de surdos que estavam acompanhando minha palestra através de um tradutor, que   utilizava   gestos e sinais para se comunicar na Linguagem Brasileira de Sinais (Libras). Por pouco não cometi uma desfeita com aquela comunidade que ali estava por um admirável projeto de inclusão social. Nossa vida é muito barulhenta. A cidade faz barulho. As pessoas fazem barulho. Ouvimos alaridos, buzinas, motores, tambores, rádios, gritos, choros, sirenes. Ao que parece, já nos adaptamos no meio da zoeira. Só que o barulho faz c

Especulações sobre loucura alguma*

  "Não sabia estar em transição ? Desejava algo melhor do que transformar-se ? Se algum ato seu for doentio, lembre-se de que a doença é o meio de que o organismo se serve para se libertar de um corpo estranho"                                                             Rainer Maria Rilke                     Uma fenomenologia da loucura costuma apresentar-se a partir de saberes pré-históricos da alma humana. Um lugar privilegiado onde as origens primitivas vão (re) significando-se, a partir do ser em instantes de não-ser. Por essas crises anuncia-se a hora de mudar, constituindo tempos e momentos de desconstrução acelerada dos antigos endereços existenciais.   Decifrar os enigmas dessa natureza de aparência incompreensível escapa de forma inteligente às tentativas de diagnóstico da tradição. Subjetividades em processo de mostrar e esconder, revelando antíteses com contextos adversos a sua expressividade. As imagens da desestruturação costumam refletir um sujeito desconh

Enlevecer*

  Brisa Pena flutuante Sem ter que…   Leveza da alma Cabelos grisalhos Liberdade Para viver desejos   Sair da fôrma Romper a forma Aceitar o Ser   na loucura no avesso em verso na rebeldia nada no todo transverso   Riso solto Sem amarras Bem Emília de Lobato Frida de Rivera   Por que não? Ir e vir Ficar na quietude no silêncio no tempo fora do tempo   Encolher Desapegar Viver pelo simples viver   Gozar o prazer Singular Sem regras Sem normas Apenas … Enlevecer!   *Dra. Rosangela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Palestrante. Artista Plástica. Filósofa Clínica. Poetisa da Academia Juiz-forana de Letras.   Juiz de Fora/MG

O tempo da terapia*

  É possível dizer quanto tempo vai durar a terapia de alguém? Segundo a perspectiva da filosofia clínica, a resposta é clara: não! Pois vai depender de cada pessoa, uma vez que consideramos cada pessoa singularmente, isto é, única. Mas, é possível aprofundarmos um pouco nessas considerações. Em primeiro lugar, o filósofo clínico precisa de um tempo para conhecer seu partilhante – nome dado a quem procura os cuidados do filósofo clínico. Esse conhecer é um movimento compreensivo do mundo de seu partilhante (realizado pelos exames categoriais) sua constituição própria (sua estrutura de pensamento) e o modo como age interna e externamente para viabilizar quem se é (seus submodos). Antes de tudo, o filósofo clínico ouve o assunto que levou o partilhante a procurar a terapia. Não há um tempo delimitado para findar esse relato. Ele pode durar tanto cinco minutos quanto se estender por várias sessões. Esse relato, assim como tudo o que o partilhante trouxer para o consultório, é relevant

Quando a Filosofia é Cura*

Notadamente brasileira, mais especificamente gaúcha, da província Rio Grande do Sul, a Filosofia Clínica surgiu na década de 1990 com muito estranhamento e incompreensão. Como sempre ocorre com toda metodologia inédita, sofre descrédito e alguns ataques pusilânimes. Tive a sorte de frequentar uma das primeiras turmas na cidade de São João del-Rei, em inícios dos anos 2000 e fui ver de perto a aplicabilidade, ao menos teórica. As aulas foram ministradas pelo competente e carismático Hélio Strassburger e resumindo o máximo para caber em uma resenha, a abordagem ia além da filosofia de aconselhamento e mergulhava fundo na investigação das causas de nossas estruturas de pensamentos e dores existenciais. Adendo: sempre que utilizar o negrito trata-se de definição da nova disciplina. Assim sendo, nos referíamos ao termo como EP. Mas cabe aqui uma ressalva; os detratores foram alguns psicólogos e psiquiatras, que viram na abordagem da disciplina uma concorrência desleal. A grande batalha

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