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Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Criativos*

"(...) Assim, a relação entre as coisas e meu corpo é decididamente singular; é ela a responsável de que, às vezes, eu permaneça na aparência, e outras, atinja as próprias coisas; ela produz o zumbir das aparências, é ainda ela quem o emudece e me lança em pleno mundo" "(...) como se minha própria visão do mundo se fizesse de certo ponto do mundo (...) a cada movimento de meus olhos varrendo o espaço diante de mim, as coisas sofrem breve torção, que também atribuo a mim mesmo" "A criança compreende muito além do que sabe dizer, responde muito além do que poderia definir, e, aliás, com o adulto, as coisas não passam de modo diferente" "Um mundo percebido, certamente, não apareceria a um homem se não se dessem condições para isso em seu corpo: mas não são elas que o explicam" "(...) a este saber que eu sou, o mundo não pode apresentar-se a não ser oferecendo-lhe um sentido, a não ser sob a forma de pensamento do mundo. O s

Sobre leituras aprofundadas*

Não é possível ler com profundidade todos os livros que desejamos conhecer. Acho até complicado seguir o método de leitura proposto por Mortimer Adler para ler satisfatoriamente todos os livros indicados por ele e mais outros que nós escolheremos para nossa própria pesquisa. Essa dificuldade se agrava se tomamos conhecimento dessa obra e/ou inicia sua vida intelectual depois de certa idade. Uma orientação adequada na adolescência é diferente de quando é adquirida na vida adulta. Basta observar nossa educação básica, para constatarmos que essa é a realidade da maioria dos brasileiros. Não há uma fórmula mágica para solucionar esses limites. Então, o jeito é nos esforçar para superar a precária educação recebida e buscar progredir diariamente. Outro ponto importante é saber escolher o que vamos ler e, entre estes escolhidos, distinguir o que leremos minuciosamente e o que será lido de modo mais panorâmico em busca de elementos específicos na obra. Ainda dentro desse a

Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Criativos*

"Passamos à poesia; passamos à vida. E a vida, tenho certeza, é feita de poesia. A poesia não é alheia - a poesia, como veremos, está logo ali, à espreita. Pode saltar sobre nós a qualquer instante" "Creio que Emerson escreveu em algum lugar que uma biblioteca é um tipo de caverna mágica cheia de mortos. E aqueles mortos podem ser ressuscitados, podem ser trazidos de volta à vida quando se abrem as suas páginas"  "(...) ele escreveu que o gosto da maçã não estava na própria maçã - a maçã não pode ter gosto por si mesma - nem na boca de quem come. É preciso um contato entre elas" "Gostaria de dizer que cometemos um erro bastante comum ao pensar que ignoramos algo por sermos incapazes de defini-lo" "O filósofo chinês Chuan Tzu, ele sonhou que era uma borboleta e, ao acordar, não sabia se era um homem que sonhara ser uma borboleta ou uma borboleta que agora sonhava ser um homem" "As palavras, diz Stevenson, sã

Anotações e reflexões de um pensador*

O domínio da língua não se esgota na leitura e na escrita proficiente. A língua é composta por muitas linguagens que se inscrevem em diferentes regiões hermenêuticas. Ao transitar por um texto escrito numa região hermenêutica desconhecida, um leitor se encontra numa situação de analfabetismo simbólico – ele não interpreta corretamente o texto porque desconhece os complexos nos quais os seus símbolos se inscrevem. Esse leitor está como que diante de um texto escrito noutra língua, uma língua ignorada. Todavia – e aí está o problema –, ao ler o texto que escapa ao seu horizonte simbólico, ele acredita compreender o que está escrito. O exercício intelectual mais difícil é o reconhecimento da própria ignorância: se eu conheço todas as palavras de um texto, como chegarei à conclusão de que a ordem em que elas são dispostas pode fazer emergir um nível hermenêutico de cuja existência não suspeito, um nível hermenêutico que eventualmente conferirá às palavras lidas um significado c

Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Criativos*

"Foi Schopenhauer que chamou a atenção para o caráter equívoco da vida, sua ambiguidade fundamental, também sua polissemia. Quanto a nós, há o fato de querermos estar aqui e ali, o desejo e a insatisfação, a dialética constante contra a estática e a dinâmica. Essa ambivalência foi, durante a modernidade, amplamente ocultada. Não sem motivo! O indivíduo devia ser um" "(...) E o passeador que vagueia chama, a contrario, um outro tipo de exigência: a de uma vida mais aberta, pouco domesticada, a nostalgia da aventura" "(...) o não-pertencimento a um lugar é a própria condição de uma possível realização de si na plenitude do todo" "(...) O paradoxo é a marca essencial desses momentos cruciais, nos quais o que está em estado nascente tem muita dificuldade para se afirmar diante dos valores estabelecidos" "É preciso saber resistir ao que é superficialmente claro, imediatamente compreensível porque totalmente racional"

O caminho do meio*

Só o meu é o caminho do  meio. Já que só a mim me vejo ali. Nem a direita, ou a esquerda, ou ao alto, ou abaixo, outrem vejo eu... O caminho do meio é ermo. Nem o tabaco de Buko, nem o legado de Buda. É caminho que não se trilha trilha que não se abriu... nem os bebês cor de rosa nem as rosas do tango cálido! Melancólico até é  e não... Já que aporta minha alegria caduca de quem está cabeluda de saber que não se tem mais a se tirar do mundo, por ninguém que esteja vivo, pisando sobre o planeta... É solitário, mas não é só - ou o contrário, sei lá... Tem a sombra amiga e perigosa das minhas convicções nada inflexíveis, no entanto fartas de conhecer que não há grande margem pra mudar segundo se pensa dos outros lados onde transitam os demasiado crédulos, que se dão ao desfrute da demasiada ilusão! O verdadeiro caminho do meio, não aporta o equilíbrio dos buscadores, nem a descompensação dos viciados... Distingue-se diametralmente desse

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"Todo pensamento essencial atravessa incólume o cortejo dos prós ou dos contras" "Quanto mais poético um poeta, mais livre, ou seja, mais aberto e preparado para acolher o inesperado é o seu dizer" "O pensar vige em virtude da dobra que se mantém não pronunciada" "A ciência sempre se depara e se encontra, apenas, com o que seu modo de representação, previamente, lhe permite e lhe deixa, como objeto possível" "Se os grandes pensamentos sempre chegam com os pés do silêncio, muito mais ainda é o que acontece com a transformação da vigência de todo vigente" "Não foi Platão que fez com que o real se mostrasse à luz das ideias. O pensador apenas respondeu ao apelo que lhe chegou e que o atingiu" "Enquanto não for lido, este livro é uma coletânea de ensaios e conferências. Quando lido, pode transformar-se num recolhimento que não mais precisa preocupar-se com a sepração das partes. \o leitor ver-se-i

Sobre a singularidade*

A noção de singularidade para a filosofia clínica não consiste em apenas ter noção de que quem procura a terapia é único. Isso está presente na compreensão de terapeutas sérios de todas as abordagens – se não está, deveria. Mas, o filósofo clínico compreende a singularidade no sentido de não haver qualquer parâmetro normativo para mensurar o equilíbrio ou desequilíbrio do partilhante. Não há modelos ideais segundo o qual é possível dizer se o partilhante é normal ou anormal, são ou doente, feliz ou infeliz etc. O bem estar que o filósofo clínico pretende viabilizar é de acordo com a subjetividade do partilhante. E aqui não cabe a acusação de relativismo porque o bom senso – já nos ensinava Descartes – é algo presente em nós e a vida social, por mais imperfeita que seja, requer algumas limitações das liberdades, sobretudo no que se refere ao respeito do bem-estar alheio. O que for bom para a pessoa sem o prejuízo de outrem, pode ser trabalhado na terapia. *Prof. Dr. Migu

Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Criativos*

"Para o chamado homem primitivo, não existe distância entre a coisa e a palavra que a exprime. não há distância entre o sopro, princípio vital, e o Verbo que forma este sopro (...) A linguagem é uma substância e uma força material, não concebida como um alhures mental, uma operação abstrata, mas sim como um elemento do corpo e da natureza"  "Tal como a matéria e o espírito, o real e a linguagem, o significante e o significado se confundem na unidade do mundo exterior e do mundo interior" "Platão, no Timeu, declara: 'Rude tarefa é descobrir o autor e o pai deste universo; e, uma vez descoberto, é impossível torná-lo conhecido de todos os homens" "(...) a linguagem é conhecida, em sua expressão através do homem, como uma realidade material, e atirar uma palavra é um ato tão transformador quanto lançar uma flecha ou uma pedra" "(...) para o homem das antigas eras, a palavra é um vasto conjunto combinatório, um cálculo u

Uma arte de compor raridades*

                                   Um novo lugar surge da interseção entre duas ou mais estruturas de pensamento, vínculo de convivência animado pela diversidade dos encontros. Essa nuance discursiva passa longe de um molde universal, incabível ao método da Filosofia Clínica. A partir de uma sensação estranha, protagonista em uma história inédita, algo mais pode acontecer. Num esboço existencial compartilhado se apresenta alguém em vias de tornar-se. Ao olhar fenomenológico do Filósofo, acolhendo e descrevendo essas narrativas do Partilhante, se faz possível acessar esses desdobramentos de natureza singular. Eventos onde aparece e se elabora aquilo até então sem espaço para se contar. Na perspectiva de um e outro, esse instante aprendiz qualifica o olhar sobre o mundo que o constitui e por ele é constituído. Ao acrescentar linguagens, desvendar rotas, emancipar territórios, revela uma arqueologia expressiva sob os escombros do antigo vocabulário. O conceito de singularidade

Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Criativos*

"Deixei uma posição anterior, não por trocá-la por outra, mas porque a posição de antes era apenas um passo numa caminhada. No pensamento, o que permanece é o caminho (...)" "A linguagem da poesia é essencialmente polissêmica e isso de um jeito muito próprio. Não conseguiremos escutar nada sobre a saga do dizer poético enquanto formos ao seu encontro guiados pela busca surda de um sentido unívoco" "(...) O delirante pensa e pensa mais do que qualquer um. Mas nisso ele fica sem o sentido dos outros. Ele é um outro sentido (...). O desprendido é delirante porque está a caminho de outro lugar" "O estranho está em travessia. Sua errância não é porém de qualquer jeito, sem determinação, para lá e para cá. O estranho caminha em busca do lugar em que pode permanecer em travessia. 'O estranho' segue, sem quase dar-se conta, um apelo, o apelo de se encaminhar e pôr-se a caminho do que lhe é próprio"  "A poesia de um poeta

Anotações e percepções de expressividade*

Não! Não renuncio à vida. Não vou seguir atirando na sarjeta cada sagrado segundo desta breve viagem, nas mãos da racionalidade, civismo e bom senso excessivos... O que de selvagem me restou travestiu-se na fôrma da ignomínia. Todavia, o fogo que arde no âmago das profundezas da vera essência, derrete as tolices formais e devolve a verdade imprecisa, pura, inocente. E só assim há coerência; o que não há no medo, nem na medida. O que não há na causa, nem no efeito. O que não há no tempo, nem no espaço. Coisas essas, que somente existem na opressão em que nos afogamos por nossos próprios meios. E tampouco neste asqueroso âmbito temos qualquer mérito ou recompensa. Escravidão, escravidão! Cegueira, cegueira, coletiva cegueira!!! Se liberdade não há, que ao menos não haja o grilhão. Gênero? Instituições? Moral? Formação? Modelos de aparência e conduta? A quantas chaves mais deveríamos nos trancafiar num cotidiano oco, padrão, robótico, mecânico, eletrônico, com o controle

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