Não! Não renuncio à
vida. Não vou seguir atirando na sarjeta cada sagrado segundo desta breve
viagem, nas mãos da racionalidade, civismo e bom senso excessivos... O que de
selvagem me restou travestiu-se na fôrma da ignomínia.
Todavia, o fogo que
arde no âmago das profundezas da vera essência, derrete as tolices formais e
devolve a verdade imprecisa, pura, inocente. E só assim há coerência; o que não
há no medo, nem na medida. O que não há na causa, nem no efeito. O que não há
no tempo, nem no espaço.
Coisas essas, que
somente existem na opressão em que nos afogamos por nossos próprios meios. E
tampouco neste asqueroso âmbito temos qualquer mérito ou recompensa.
Escravidão, escravidão! Cegueira, cegueira, coletiva cegueira!!! Se liberdade
não há, que ao menos não haja o grilhão.
Gênero? Instituições?
Moral? Formação? Modelos de aparência e conduta?
A quantas chaves mais
deveríamos nos trancafiar num cotidiano oco, padrão, robótico, mecânico,
eletrônico, com o controle remoto nas mãos de um organismo estranho, um monstro
desgarrado, de liberdade proporcional ao nosso cárcere (claustro de horrores
velados).
Uma fábrica de cegos,
debilóides, submissos, que com extremo pedantismo ostentam sua ridícula
credulidade na ilusão de que existe escolha ou sujeito. Não menos sofrível é
ver apenas, sem estar a salvo de toda alienação. É como ter plena ciência de
ser um marionete nas mãos de um espectro indestrutível que o homem concebeu no
laboratório da ganância, depois soltou para destruir todo e qualquer resquício
do ser. E trabalhamos duro, todo santo dia dos infernos para realimentá-lo,
quer queiramos ou não. Aliás, nem sequer queremos o que pensamos querer.
O que a virtude nos
trouxe além do vício? Talvez, acho eu, ao menos por enquanto, só quero
dançar... Posso? Por favor????????!!!!!!!!
*Jullie Vague
Atriz. Musicista.
Poetisa. Agitadora e inovadora cultural no Mova-se. Especialista em Filosofia Clínica.
Curitiba/PR
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