A pergunta clássica:
“para que serve a filosofia?” Não deve ser somente aplicada à filosofia. A
matemática em si não serve para nada, a física igualmente; e o que se dirá das
leis e ainda dos guias de macetes de videogame? A matemática ajuda na
compreensão do mundo concreto, a física nas leis da natureza a fim de trabalhar
nela. As leis são escritas para reger a sociedade a fim de organizar seu
relacionamento. E os macetes de videogame? São meros sinais em papéis, mas se
utilizados na prática, ajudam os jogadores a passar nas fases, fortalecem os
personagens, etc.
A filosofia igualmente,
enquanto uma série de escritos nos livros, não são mais do que um monte de
teorias, mas se pensados numa relação direta com a vida, ela serve tanto para
pensar questões importantes da vida, quanto para pensar as condições de
possibilidade de todas as demais formas de epistemologia.
Jean-Paul Sartre foi um
grande pensador do século passado. Ele elaborou uma reflexão sobre a liberdade,
uma dentre tantas de suas reflexões. Segundo ele mesmo afirma em sua clássica
frase “Estamos condenados a ser livres”, mas essa liberdade requer
responsabilidade.
Não há nenhuma
determinação que de ao ser humano uma finalidade pronta, postula o filosofo.
Embora seja um filósofo ateu, podemos pensá-lo em sua ideia inclusive pensando
Deus. Nem Deus, segundo o raciocínio sartreano, pode ser o inibidor de nossa
liberdade. Aderir à vontade divina requer liberdade. Obedecer às leis, requer
liberdade. Fazer as coisas, sendo contra ou a favor do que as pessoas pensam,
requer liberdade. Ou seja, posso ficar com qualquer pessoa, trair, matar, usar
drogas, ajudar as pessoas, ter relações sexuais com várias pessoas, enfim, posso
qualquer coisa que quiser. Porém, essa ação livre tem consequências. Sartre
dará a essa consequência o nome de responsabilidade.
Toda ação humana
praticada, tem como consequência ao menos um mínimo de efeitos. Matar levará à
sociedade a prendê-lo por o acharem inapto a viver nela, ou pelo menos para
pagar pela falta cometida contra ela. Ter relações sexuais indiscriminadamente,
pode levar o sujeito a doenças graves, ou a gravidez indesejada. Para quem crê
em Deus, não agir segundo a sua vontade acarretará numa falta, num pecado.
Optar por não fazer nada deitado numa cama até morrer, também é um ato de
liberdade.
E para não ficar somente nas questões negativas podemos pensar no
resultado das boas ações. Adotar uma criança pode levar tanto quem adotou quanto
o adotado num caminho de amor, alegrias, realizações, entre outras. Ajudar
alguém faminto com alimentos, contribuirá com o bem de sua saúde, e talvez, com
o fim de violências urbanas causadas por pessoas que, por exemplo, roubam para
conseguir dinheiro para comer. Aconselhar um amigo, pode levá-lo a até, em
casos extremos, não se matar. Trabalhar honestamente pode levar o sujeito a
melhorar o país no qual vive. Um bom exemplo dado aos filhos pode auxiliá-los
na escolha por seguir pelo caminho da pacificação de uma sociedade.
Por fim, cabe pensarmos
sobre a finalidade de cada uma de nossas ações, e não culparmos nada e ninguém
por nossas ações cometidas. São realmente as determinações externas que
qualificam minhas ações? É pelo fato de não haver emprego para todos que devo
roubar? Não vou cursar uma faculdade porque sou pobre e os pobres têm pouca
chance na vida? Vou me revoltar contra meus pais, por não terem me dado uma
infância e uma adolescência mais farta?
Deixarei de ajudar as pessoas pelo fato
de não ter encontrado ninguém que me ajudasse no momento em que mais precisava?
Ficam aqui algumas questões para pensar, devendo sempre lembrar que mesmo que
nossa liberdade não sendo tão vasta como a postulada por Sartre, pelo menos
ainda há liberdade que permite escolhermos vários caminhos importantes para
nossa vida.
*Prof. Dr. Miguel
Angelo Caruzo
Filósofo. Filósofo
Clínico. Escritor. Livre Pensador.
Teresópolis/RJ
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