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Fragmentos Filosóficos, Poéticos, Criativos*

"De algum modo já aprendera que cada dia nunca era comum, era sempre extraordinário. E que a ela cabia sofrer o dia ou ter prazer nele. Ela queria o prazer do extraordinário que era tão simples de encontrar nas coisas comuns; não era necessário que a coisa fosse extraordinária para que nela se sentisse o extraordinário" "(...) viver é tão fora do comum que eu só vivo porque nasci" "Eu me sei assim como a larva se transmuta em crisálida: esta é minha vida entre vegetal e animal" "(...) Lóri quis transmitir isso para Ulisses mas não tinha o dom da palavra e não podia explicar o que sentia ou o que pensava, além de que pensava quase sem palavras" "Os humanos tinham obstáculos que não dificultavam a vida dos animais, como raciocínio, lógica, compreensão. Enquanto que os animais tinham esplendidez daquilo que é direto e se dirige direto" "(...) a mentira em que se havia acomodado acabava de ser levemente locomot

A escritora de San Fernando*

“A atmosfera dessa amizade pura é o silêncio, mais puro que a palavra. Porque falamos para os outros, mas nos calamos para nós mesmos.”                                                                        Marcel Proust Existem milhares de faróis espalhados, milhões imaginados por pessoas que gostariam de seguir viagem, dos que gostariam de aportar em terra segura, dos que fogem dos perigos dos homens, dos que querem se proteger das tempestades, dos que desejam uma luz para orientar seus projetos, seus navios.   Conheci uma jovem “escritora”, ela fez questão de se auto intitular iniciante de escritora, de alma já poeta, desde sempre, e que desde o tempo de escola escrevia, vivia a poesia, leitora assídua de livros de poesia. Foi em uma venda dentro do mercado San Fernando em Madri. Estávamos lá para provar tapas e tomar um vinho branco fresco, era um sábado quente, pleno outono, mas o dia estava de verão. Perguntou de onde éramos, disse, Brasil, ela sorriu, disse que

Fragmentos Filosóficos, Devaneios Criativos*

"Os poetas buscam as palavras que moram o silêncio" "O professor é alguém que fez uma viagem e voltou. Ele foi até terras desconhecidas e teceu suas teias. Ao voltar, mostra-as àqueles que não foram. Ele lhes diz como é o mundo. Suas teias de palavras são mapas que mostram os caminhos seguros e indicam as trilhas que não levam a lugar nenhum"  "Lessing também preferia navegar a atracar no porto. Como Guimarães Rosa, que dizia que a coisa não estava nem na partida nem na chegada, mas na travessia" "(...) Somos salvos pelo poder do sonho. Sonhar é o poder que ressuscita os mortos" "Para uma lagarta não há nada mais lindo que coisas que se assemelhem a ela. No mundo das lagartas, até os deuses são lagartas. Mas as borboletas obviamente dirão: tolice" "(...) não sabemos o nome de nosso desejo mais profundo. Resta-nos suspirar suspiros que são profundos demais para palavras. Nosso corpo fala línguas que ele mesm

Um pedacinho do céu*

A gente deixa de pensar Que já estamos no céu, Flutuando no espaço Entre estrelas e buracos negros. Todos somos viajantes, Agora nesta Terra nave, Pequenina diante a vastidão. Pertencentes experimentamos Um pedacinho de Deus Neste mistério infinito. Silenciar e contemplar, Agradecer e celebrar, Sentir participar... Eternos, agora, aqui estamos Neste corpo sensível. Observadores intergaláticos, Desta viagem Vida, Somos pó de estrela A navegar e experimentar Desconhecidos universos, Sem porquês e para que. É assim e basta! *Dra. Rosângela Rossi Psicoterapeuta. Escritora. Comunicadora. Filósofa Clínica. Juiz de Fora/MG

Fragmentos Filosóficos, Críticos, Analíticos***

"(...) Como Bleuler tampouco descobriu qualquer doença nova nem desenvolveu qualquer novo tratamento, sua fama assenta, em minha opinião, no fato de ter inventado uma nova doença - e, através dela, uma nova justificativa para se considerar o psiquiatra um médico, o esquizofrênico um paciente e a prisão em que aquele confina este, um hospital" "(...) ao descrever u paciente esquizofrênico, está descrevendo meramente alguém que fala de modo bizarro ou diferente dele, ou com quem ele, Bleuler, está em desacordo" "A moderna psiquiatria é uma ideologia poderosa e uma instituição" "Os fatos são que, de um modo geral, os chamados loucos - as pessoas a quem hoje se dá o nome de esquizofrênicos e psicóticos - são indivíduos muito menos perturbados do que perturbadores; não é tanto que eles próprios sofram (embora possam sofrer) como o fazerem outros sofrer (especialmente os membros da família) (...)" "(...) A consequência desses

Reflexões e anotações*

Amigos, eu entendo bem a dificuldade de percebermos os nossos próprios pontos cegos. A ignorância, essa nossa companheira inseparável, é difícil, porque se esconde na nossa sombra: como dizia aquele filósofo francês, todo mundo (inclusive este que lhes escreve) quase sempre se considera perfeitamente dotado de bom-senso e da capacidade de perceber os próprios enganos - e, principalmente, os enganos alheios... * * * Eu vivo da palavra falada e escrita. Vejam, amigos, que curioso: no momento em que estou trabalhando, as frases e os parágrafos me parecem muito bem construídos. Reviso uma, duas, três vezes o conjunto. E fico satisfeito. Dez minutos depois, passo os olhos novamente. Um pouco envergonhado, começo a notar as repetições, as cacofonias, as falhas de pontuação, as proposições ambíguas. Corrijo. E novamente fico satisfeito. Meia hora depois, leio de novo - e me envergonho novamente. Reescrevo algumas passagens, elimino outras. Satisfeito de novo. Até rever

Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Criativos*

"(...) Estranho entendemos como o que sai e se retira do familiar, isto é, daquilo que nos é caseiro, íntimo habitual, não ameaçado. O estranho não nos deixa estar em casa. Nisso reside o vigor que se impõe e subjuga (...) O homem é o que há de mais estranho, não só porque conduz o seu ser no meio do estranho, assim entendido, mas por afastar-se e sair dos limites, que constituem, em primeiro lugar e às mais das vezes, a sua paisagem caseira e habitual, por transpor como o que instaura vigor, as raias do familiar e se aventurar justamente na direção do estranho no sentido do vigor que se impõe" "(...) Os criadores são banidos da vida do povo e se vêem apenas tolerados, como curiosidades marginais. Como ornamentos de adorno e extravagâncias, alheias à vida (...) mesmo se uma época ainda procurar manter o nível herdado e a dignidade de sua existência, o nível já baixou. Um nível só se mantém num processo contínuo de superação criadora" "O mundo do es

Saber não é poder*

A contemporaneidade se caracteriza pelo volumoso número de métodos de crescimento pessoal. Tanto os métodos psicológicos como o cognitivo-comportamental (TCC), quanto a programação neurolinguística (PNL) ou até livros de autoajuda (AJ), nos “empurram” meios de superar dificuldades, hábitos ou qualquer outro tipo de “problema” em nossas vidas. Mas, quais os limites dessas abordagens? A Filosofia Clínica (FC), uma abordagem terapêutica, traz consigo diversos ganhos. O primeiro deles está no fato de reconhecer que não é a principal, única ou última das possibilidades de viabilização do bem estar de uma pessoa (seja lá o que podemos entender por “bem-estar”). Assim, a FC nos ensina que a religião, os livros, os amigos, as abordagens psicológicas e psicanalíticas, as escolas e tantos outros meios, podem contribuir para determinados fins almejados por uma pessoa. Diante das possibilidades elencadas acima, é importante ressaltar que a diversidade se dá pela singularidade daquele q

Fragmentos Filosóficos, Delirantes*

"(...) em suma de ser humano, na medida em que a vida de cada um é no fundo divina, mas muito poucas pessoas o sabem" "(...) Sempre gostei das ilhas. Gostei de Elba, gostei de Egina, gostei de Capri - que é muito menos turística do que se diz quando se vive em um canto perdido. Toda ilha é um pequeno mundo em si, um pequeno universo em miniatura (...) o mar areja. Temos o sentimento de estar numa fronteira entre o universo e o mundo humano" "(...) é o pintor que tem dons, que inclusive já fez alguma coisa de bastante bom, mas que adota uma técnica de ateliê, que se põe a pintar segundo as regras e que cai no mais tedioso academicismo" "Cada vez mais me dei conta de que a maneira mais profunda de se penetrar em um ser é ainda escutando sua voz, compreendendo o canto exatamente da forma como é feito" "Nós dirigimos a realidade, a canalizamos através de palavras, cujo uso nos parece indispensável, pois elas são aplicadas à

Literatura e discurso existencial*

                               A leitura de um livro é sempre singular, muitas vezes até, desmerecendo a intenção do autor. Nas derivações e intervenções do leitor, um novo texto se reflete, multiplica, refaz. As nuances da escrita convida a um olhar de soslaio para com esses segredos do texto literário.       Ao mergulhar nas narrativas da obra, você se depara com um espelho de múltiplas faces. Nele consegue entender, em determinado momento, alguma de suas mensagens, noutro deixa escapar algo mais, refugiado na vertigem do instante. Algo semelhante aos retratos amarelados em busca de eternizar momentos de vida, diferencia-se, no entanto, ao permitir a interação com seus registros multifacetados.      Sua realidade fugaz se desdobra em páginas nem sempre legíveis ao primeiro olhar. Pode-se ter de revisitar esses textos recheados de incógnitas, numa busca para decifrar as fontes dessas ideias, bem assim sua transgressão com o uso.   Um livro presenteado pode ser remédio

Fragmentos Filosóficos, Delirantes, Criativos*

"(...) é preciso saber abrir caminho no espesso matagal das opiniões autorizadas que proliferaram a respeito da coisa humana, e que ocupam o alto das cátedras institucionais" "Defasagem que está na lógica das instituições humanas, que tendem, por lentidão sociológica, a querer sobreviver à efervescência cultural que lhes deu origem" "(...) Já não se trata de ser um adulto sério e tensionado para a perfeição de um 'estado' estável, mas, pelo contrário, uma eterna criança, sempre em devir e ávida pelo que se apresenta" "(...) talvez não passem de uranianos recalcados que, tendo perdido o sentido do prazer, vivem exclusivamente do ressentimento que projetam sobre tudo que os cerca. Não seria esta a origem de todo moralismo ?" "Devo frisar que, desde sempre, o ato de pensamento esteve voltado para os que se fazem perguntas, e não para os que já têm as respostas"  "O sentido para a pessoa é fornecido pel

Uma tal senhora Beauvoir*

“É porque não aceito as fugas e as mentiras que me acusam de pessimista...”                              Simone de Beauvoir O que permanece escrito e não compreendido não é mais um hieróglifo, não participa mais do histórico lastro da linguística que identificava os significados através da escrita. Hoje, podemos dizer que o não pressuposto ato de ver e não identificar é mais um sintoma viral do século XXI. O que chamo de burrice proposital, ou então, do silêncio hipócrita das direitas e dos empedernidos esquerdistas que acompanha o som dos imbecis. É uma mistura nonsense que anda solta nas páginas dos obsoletos jornais, das redes sociais, que percorre os planaltos, praias, palcos até moldar o conformismo da opinião pública. Ontem lendo um velho livro, velho, porque foi escrito por uma senhora que marcou demais a cultura ocidental com suas ideias inovadoras, libertadora e provocante em certo momento histórico. Para que agora seja relida, consigo perceber, a muitos é pa

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