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Literatura e discurso existencial*


                              
A leitura de um livro é sempre singular, muitas vezes até, desmerecendo a intenção do autor. Nas derivações e intervenções do leitor, um novo texto se reflete, multiplica, refaz. As nuances da escrita convida a um olhar de soslaio para com esses segredos do texto literário.   

 Ao mergulhar nas narrativas da obra, você se depara com um espelho de múltiplas faces. Nele consegue entender, em determinado momento, alguma de suas mensagens, noutro deixa escapar algo mais, refugiado na vertigem do instante. Algo semelhante aos retratos amarelados em busca de eternizar momentos de vida, diferencia-se, no entanto, ao permitir a interação com seus registros multifacetados.  
 
Sua realidade fugaz se desdobra em páginas nem sempre legíveis ao primeiro olhar. Pode-se ter de revisitar esses textos recheados de incógnitas, numa busca para decifrar as fontes dessas ideias, bem assim sua transgressão com o uso. 

Um livro presenteado pode ser remédio ou veneno. As ressonâncias de uma obra interagem com a expressividade leitora, podendo significar algo mais quando o leitor estiver pronto para acessar seu conteúdo.  

O transbordamento dos sinais, até então invisíveis, refugiados em suas margens e periferias, pode emancipar-se num devaneio precursor. Ao desconstruir seu exílio, compartilha rastros silenciosos, na biblioteca dos dias. Interseção dos roteiros de ficção com as possibilidades existenciais desconsideradas.      

Ao sujeito reescrevendo suas linhas, compete decifrar a dialética desse outro si mesmo, como um protagonista numa história esculpida a quatro mãos. O esboço dessas irrealidades reivindica um tempo para cada texto. Suas repercussões redesenha o percurso dos dias, um desses lugares onde a utopia se realiza. 

A natureza desse ponto de vista é ser fluxo, modificando-se com as idas e vindas de um pretexto diante de si. Nesses relatos de exceção se encontra a matéria prima dos sonhos. O encontro do autor e do leitor através do texto, realiza um preenchimento provisório das incompletudes discursivas. A essência da literatura, assim como a vida, é ser interminável.

*Hélio Strassburger
Filósofo Clínico na Casa da Filosofia Clínica

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