Se ouvir algo parcial
ou completamente divergente só o leva a reforçar suas próprias convicções a fim
de combater o diferente, não perca seu tempo. Invista na manutenção da pequena
bolha de seu saber.
Mas, se quiser deixar
seu confortável porto seguro e avançar para o alto mar, prepare-se. É uma
aventura que dificilmente o levará a querer retornar a seu antigo refúgio. Caso
volte, verá um local inóspito, pois você não será mais o mesmo.
Isso vale para a
filosofia, mas também para o âmbito da fé. Aliás, é paradoxal que um amigo
(filo) da sabedoria (sofia) queira agir como um sábio e um religioso se coloque
como portador do conhecimento do próprio mistério.
Tomás de Aquino mandou
queimar sua obra filosófico-teológica porque a viu como palha diante da experiência
que havia tido. Curiosamente, hoje, alguns a tomam como a “bíblia” inerrante e
oracular da filosofia e da teologia.
Platão se valeu de
recursos poéticos para falar sobre o Bem. E o que dizer de Heidegger que, além
de uma nova relação com a linguagem, também recorre ao poético.
Kant tratou de falar
sobre os limites da razão. Concordando ou não com ele, é muita pretensão nossa
achar que nossa razão explica toda nossa experiência.
Kierkegaard nos tira
dos estágios estético (aparência) e ético (moralismo) para nos fazer pensar no
religioso (só o homem e Deus), onde há o salto da fé.
O que diríamos então de
místicos como João da Cruz e Teresa D'Ávila. Ou Mestre Eckhart que pede para
Deus livrá-lo (da imagem limitada que fazemos) d’Ele!?
Em todos eles, não
houve uma pretensão absurda de se apoderar das dimensões do mistério da nossa
própria experiência com a vida. Só há aproximações, nunca apreensões, posses.
E o contato com esse
lado inquietante da existência, esse sentir-se fora de casa, essa insegurança
insuperável não combina com quem vive cheio de certezas.
*Prof. Dr. Miguel
Angelo Caruzo
Filósofo. Escritor.
Filósofo Clínico. Livre Pensador.
Teresópolis/RJ
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