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A palavra profecia*

                         












Nas palavras do oráculo se vislumbra um rascunho de conjecturas: ‘encontrarás o paraíso ao descobrir a tua singularidade’. Essa afirmação contém mais do que se possa nomear. Ao ser despercebido pela ótica dos consensos e protocolos, seu teor se oferece num tempo subjetivo. Aqui se trata de aproximações com o inenarrável de qualquer coisa. Um desses eventos em busca de emancipar a percepção comum ao visar incomum.

Ao antecipar algo ainda sem nome, um pouco antes das percepções consentidas, sua menção se encontra num presente a perseguir horizontes desconhecidos. Tendo acesso ao vocabulário das quimeras, propriedade de cada um, é possível compreender e dialogar com a vertigem desses instantes.

A palavra profecia revela uma interseção muito íntima entre dizer e acontecer. Sua transcrição atualiza o passado num futuro de possibilidades. Esse lugar onde os presságios acontecem, reflete um olhar aproximativo com as terras distantes. É importante lembrar que seu anúncio de aspecto evasivo, imaterial, escolhe a quem compartilhar suas verdades. Aqui se esboça a biografia de um artesão em sua arte de esculpir raridades. 

Essa reflexão acolhe a descrição do traço irrefletido, a qual, ao reconhecer seus sinais, contribui para desvendar esse território singular, no qual se pode ingressar numa perspectiva autorizada. Sua matéria-prima reescreve as páginas impróprias, afrontando os limites do mundo conhecido.  

Seu aspecto de vida nova se rascunha como irrealidade. Sua expressividade, nem sempre afinada com as lógicas do consenso, costuma se abrigar nalgum exílio pessoal. Mesmo assim, prossegue redigindo seus devaneios, emancipando fronteiras. Possui qualquer coisa excessiva compartilhada em tempo próprio.   

Para decifrar essas margens se requer um sujeito diferenciado, com aptidão para compreender habilidades difusas. Capaz de se ajustar a diversidade de frequências existenciais, qualificando leituras e releituras com esses eventos de anúncio. Aqui se trata de um papel existencial a perseguir rastros, dialogando com a absurdidade dos discursos existenciais.   

Os múltiplos pretextos ao esboço das profecias se dizem em linguagem própria. Há que se ter uma interseção de acolhimento com esse fenômeno em vias de acontecer. Traduzir seu convite às poéticas do sonho numa concepção de amanhãs refugiados nesse agora aparecendo.   

*Hélio Strassburger
Filósofo Clínico na Casa da Filosofia Clínica. 
Autor de "A Palavra Fora de Si - Anotações de Filosofia Clínica e Linguagem". Ed. Multifoco. RJ. 2017. "Pérolas Imperfeitas - Apontamentos sobre as Lógicas do Improvável". Ed. Sulina. Porto Alegre/RS. 2012. "Filosofia Clínica - Diálogos com a Lógica dos Excessos. Ed. E-Papers. RJ. 2009, dentre outras.  

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