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Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"A leitura funciona como um modelo geral de construção do sentido. A indecisão do intelectual é sempre a incerteza quanto à interpretação, quanto às múltiplas possibilidades da leitura" "A relação de Guevara com o dinheiro está na mesma linha. Por isso não surpreende que tenha chegado a diretor do Banco Nacional em Cuba. Sempre vive de uma economia pessoal precária, fora do social, nunca tem nada, nunca acumula nada, só livros" "(...) outra maneira como Guevara se definia na época. O vagabundo, o nômade, aquele que não aceita as normas de integração. Mas também o que divaga, aquele cuja única propriedade é o uso livre da linguagem, a capacidade de conversar e contar histórias, as histórias intrigantes de sua exclusão e de sua experiência na estrada" "(...) em tudo o mais Guevara funciona como uma identidade neo nacional, é o estrangeiro perpétuo, sempre fora do lugar"  "Kafka inverte as relações, altera os nexos. Não há

Reflexões de um Pensador*

Só é amor se não houver domínio, nem prisão, nem posse e muito menos propriedade. Só é amor se houver respeito, liberdade para ficar ou partir quando quiser e, sobretudo, confiança para se despir por dentro e por fora sem correr risco algum de ser ferido por quem diz amar. Entretanto, caso haja qualquer um desses fenômeno nocivos e opressores numa relação ou numa circunstância, atenha-se e cuide-se imediatamente, pois não se trata de amor e muito menos de pessoa amada ou que ama. Ciúme, possessão, dominação e qualquer tipo de violência moral ou física nunca se configurou ou se configurará amor. Ao contrário, se trata de um claro e inequívoco reflexo de um espelho diante de alguém desleal, egoísta e inseguro demais devido ao efeito do seu próprio mau caráter. Uma pessoa assim não é a vítima, é o vilão doa a quem doer comova a quem comover. A verdade é que ciúme é um descontrole estratégico e uma prova cabal de um desamor próprio tremendo. E quanto mais exaltado se aprese

Fragmentos Filosóficos, Antropológicos, e algo mais*

"(...) Estamos em relação mágica com o Universo" "O mistério é que, entre nós, todas as ideias coexistem e que o conhecimento proporcionado por uma ideia acaba por beneficiar a ideia contrária."  "(...) Pedis-me para resumir, em quatro minutos, quatro mil anos de filosofia e os esforços de toda a minha vida. Pedis-me além disso, para traduzir em linguagem clara conceitos para os quais a linguagem clara não é feita (...) A relatividade, o princípio da incerteza mostram-nos até que ponto o observador de hoje intervém nos fenômenos"  "(...) Existem no mundo alguns exemplares do homem novo, vindos talvez de além das fronteiras do tempo e do espaço" "Aqueles que são grandes, tanto no bem como no mal, são os que abandonam as cópias imperfeitas e se dirigem aos originais perfeitos" "(...) Não é impossível que certos romances, certos poemas, quadros ou estátuas, desprezados até pela crítica especializada, nos indiq

Anotações sobre a estética das travessias***

                         “Uma pessoa que, há semanas, me repetia sempre as mesmas coisas, executa algo na cena da análise que transforma todas as suas coordenadas, suas referências e engendra novas linhas de possível”                                                                                                    Felix Guattari Existe uma região de face indeterminada, mutante e de aparente sem nexo, por onde transitam eventos de epistemologia desajustada. Sua agitação refere moldes sem sentido. Muitas vezes, sequer tem oportunidade de se estabelecer como algo traduzível, enquanto sobrevoa hipóteses. Uma ação assim descrita se assemelha a um compêndio das ventanias. Esses conteúdos de alma nova apreciam o instante caótico para insinuar derivações. Seu existir fugaz surge na intimidade com os rascunhos do exagero. Os enunciados de aspecto delirante protegem outras razões. Espécie clandestina a transgredir limites, parece sem direcionamento para compartilhar a nova c

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"Somos quem designa o lugar da aventura, o lugar da crise, o lugar propício para alargar o horizonte da imaginação, o lugar onde o pensamento, quando desafiado, produz respostas para alguns dos nossos questionamentos"  "(...) O meu repertório é composto de memórias do mundo (...) sou múltipla na minha humanidade. Nunca me resignei a ser uma só criatura. Arrasto comigo uma genealogia que já nem mais sei de que criaturas, de que etnias se constitui" "A língua portuguesa é espúria e libertária (...) Venceu o lado trânsfuga do mundo, afundou-se na totalidade dos seres, farejou o que repousa recôndito, ofertando-lhe nomenclatura inovadora, produzindo sortilégios, encômios, iluminações" "(...) a sabedoria de observar as coisas como parte indissolúvel de um conjunto" "(...) as histórias nasceram para jamais se esgotar (...) ao contarem histórias, liberaram a imaginação humana do cárcere do cotidiano" "Para Machado

Reflexões de um Filósofo Clínico*

A história nos mostra que todos os momentos de crise profunda são, dialeticamente, também momentos de grande reinvenção. O que precisamos aprender com estes tempos de coronavírus? E mais importante: o que precisamos desaprender? * * *   Converso com alguns amigos que, em suas casas, têm tido dificuldade de conviver com os seus parceiros de vida e com os seus filhos. Alguns desses amigos já perceberam que o problema não está nos membros da família, mas em si mesmos. Eles não conseguem lidar é com a sua própria presença incômoda. Acostumados à rotina de trabalho durante a semana e a atividades e passeios nos fins-de-semana, não perceberam que, aos poucos, a sua identidade pessoal se confundiu com a sua personalidade social e profissional. Eles não mais sabem ser simplesmente eles mesmos, não mais conseguem lidar suave e graciosamente com os problemas e com as frustrações simples da vida: o parceiro que reclama da louça suja, a criança inquieta que faz birr

Fragmentos Filosóficos, Devaneios, e algo mais*

"Requer-se o novo para que o pensamento intervenha, requer-se o novo para que a consciência se afirme e a vida progrida. Ora, em princípio a novidade é, evidentemente, sempre instantânea" "Mas a função do filósofo não será a de deformar o sentido das palavras o suficiente para extrair o abstrato do concreto, para permitir ao pensamento evadir-se das coisas ?" "(..) Aliás, uma intuição não se prova, se vivencia" "(...) ela leva em conta não apenas os fatos, mas também, e sobretudo, as ilusões - o que, psicologicamente falando, é de uma importância decisiva, porque a vida do espírito é ilusão antes de ser pensamento"  "(...) o tempo é uma realidade encerrada no instante e suspensa entre dois nadas" "Para as concepções estatísticas do tempo, o intervalo entre dois instantes é apenas um intervalo de probabilidade; quanto mais seu nada se alonga, maior é a chance de que um instante venha terminá-lo" &qu

O fim das certezas*

Heráclito com o devir, Platão com sua dialética, Aristóteles com potência e ato, Kant com os limites da razão, Kierkegaard com a angústia, Husserl com as críticas às certezas das ciências contemporâneas, e tantos outros pensadores, dos quais esses são apenas de caráter ilustrativo, mostram o limite e as incertezas diante da busca de dar um caráter absoluto ao saber humano.   Filosofia é busca pelo saber. O que há de mais comum no universo filosófico é o reconhecimento de que não se está dando a certeza absoluta para suas buscas. Não há frustração por isso. Aqui a humanidade mostra uma de suas realidades mais originais, o reconhecimento da limitação. Albert Camus postula que diante do mundo, o homem vive o sentimento de absurdo quando reconhece que sua razão não pode abarcá-lo. Heidegger apresenta a angústia diante da limitação humana com a morte, como passo necessário para existir autenticamente. Sartre apresenta a falta de determinação ou destino e a angústia diante da lib

Fragmentos Filosóficos, Médicos, e algo mais***

"(...) rotular os indivíduos que se sobressaem, ou que são incapacitados por problemas da vida, de 'doentes mentais' apenas impediu e retardou o reconhecimento da natureza política e moral dos fenômenos para os quais se dirigem os psiquiatras" "(...) a visão de que as chamadas doenças mentais são mais idiomas do que doenças não foi ainda adequadamente articulada, nem suas implicações totalmente apreciadas" "(...) Em suma, Charcot e Guillotin facilitaram às pessoas - especialmente aqueles socialmente oprimidas - serem doentes ou morrer. Nenhum deles lhes facilitou terem saúde ou viver. Eles usaram seu prestígio e conhecimento médico para ajudar a sociedade a modelar-se segundo uma imagem que fosse agradável a ela mesma" "(...) os nomes, e portanto os valores que damos às pinturas - e as doenças - dependem das regras do sistema de classificação que usamos (...) Passamos, portanto, a olhar o vício, a delinquência, o divórcio, o h

Todo o mundo tem um pouco*

Diz a sabedoria popular que de médico e de louco todo mundo tem um pouco. De onde surgiu essa ideia? Não gosto muito de generalizações, mas, no meu caso particular, consegui o diploma de médico bem cedo na vida. Aos vinte e três anos já o tinha segurado nas mãos, levado para emoldurar e, poucos dias depois, estava lá, devidamente afixado em lugar nobre na parede do consultório. O título de louco foi muito mais difícil de conquistar. Exigiu um tempo bem maior para me aprimorar e, por enquanto, não está em exposição. Confesso que durante a faculdade, cheguei a pensar em ser psiquiatra, mas todos os que eu conhecia eram, digamos assim, “um tanto” estranhos, e não queria, de forma alguma, ficar parecido com eles. Na época, fugia de qualquer coisa que se assemelhasse à loucura. A brincadeira era fazer do velho ditado um trocadilho, e dizer que os psiquiatras tinham “um pouco” de médico e “muito” de louco. Generalizações, como é sabido, conduzem a equivocidades. Durante décadas,

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"(..) não há propriamente intermundo, cada um habita apenas o seu, vê unicamente segundo seu ponto de vista e entra no ser apenas por meio da sua situação; mas porque não é nada e sua relação com sua situação e seu corpo é uma relação de ser, sua situação, seu corpo, seus pensamentos não interpõem uma tela entre ele e o mundo; são, ao contrário, o veículo de uma relação com o ser, na qual terceiros podem intervir" "(...) este mundo que não sou eu, e ao qual me apego tão intensamente como a mim mesmo, não passa, em certo sentido, do prolongamento de meu corpo; tenho razões para dizer que eu sou o mundo" "(...) compreender é traduzir em significações disponíveis um sentido inicialmente cativo na coisa e no mundo" "A este saber que eu sou, o mundo não pode apresentar-se a não ser oferecendo-lhe um sentido, a não ser sob a forma de pensamento do mundo. O segredo do mundo que procuramos é preciso, necessariamente, que esteja contido em meu

Manter-se tranquilo em meio à turbulência*

Existem circunstâncias que podem ser controladas e outras que não - já diziam os filósofos estoicos, dentre eles Sêneca e Epicuro. O conselho, proferido há mais de dois mil anos e muito sábio até os dias atuais, resumia-se basicamente a nos atermos somente aos aspectos controláveis da vida se quiséssemos ter um mínimo de bem-estar. Fenômenos da natureza, atitudes de outras pessoas e trânsito são apenas alguns exemplos do que não controlamos. Por mais que tenhamos força do pensamento, tecnologia e boa vontade para fazer o impossível, esses são elementos que não conseguimos manipular ao sabor de nossos desejos. Por outro lado, existem algumas coisas que conseguimos manter num nível razoável de manejo pessoal. Nossos pensamentos, nossos sentimentos e nossas ações são alguns exemplos. Como reagimos aos fatos, portanto, está inteiramente sob o nosso controle, certo? Mais ou menos. Algumas teorias antigas dizem que temos somente 5% de livre arbítrio. Todo restante seria respo

Fragmentos Filosóficos, Literários, e algo mais*

"(..) uma influência anônima, assim como o sangue dos antepassados se movimenta em nós constantemente, misturando-se ao nosso e formando com ele a coisa única e irrepetível que somos em cada curva de nossa vida" "Não sabia estar em transição ? Desejava algo melhor do que transformar-se ? Se algum ato seu for doentio, lembre-se de que a doença é o meio de que o organismo se serve para se libertar de um corpo estranho" "Estamos colocados no meio da vida como no elemento que mais nos convém. Também, em consequência de uma adaptação milenar, tornamo-nos tão parecidos com ela que, graças a um feliz mimetismo, se permanecermos calados, quase não poderemos ser distinguidos de tudo o que nos rodeia" "(...) Há de se reconhecer, aos poucos, que aquilo a que chamamos destino sai de dentro dos homens em vez de entrar neles" "Numa ideia criadora revivem mil noites de amor esquecidas que a enchem de altivez e altitude" "

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